Ricardo Farias Carvalho, é Psicólogo formado em teoria psicinalítica e suas aplicações psicoterapeuticas e com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia cognitivo e comportamental. Atende na Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 – Fones: (53) 3232-4677 e 8437-1066/8166-6324 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.
Educar filhos no mundo contemporâneo, evidentemente, não é uma tarefa fácil. A hierarquia de outrora mudou substancialmente. A tão comentada questão que envolve limites é uma verdadeira arte cotidiana. Pais e filhos vivem entre um permitir e proibir delicadíssimo. Para agravar, comunicações decorrentes, nem sempre “perfeitas”, ocorrem.
Quando os descendentes são pequenos é interessante notarmos o modo como reagem às repreensões ásperas ou alguma outra atitude mais incisiva da nossa parte. Se considerarem justa a bronca, num curto espaço de tempo, o vínculo é reatado imediatamente ou quase. Sem problemas. Caso contrário, a elaboração demora um pouco mais. Por outro lado, durante o período da adolescência, mesmo tardia, o orgulho é um instrumento potencialmente refratário no que tange ao referido ponto. Após as arestas, o diálogo pode diminuir ou até mesmo desaparecer, assim como as demons trações de carinho. O famoso “gelo”, atestado de alguém frio, distante, silencioso, corrói ou queima a alma dos progenitores.
Ser pai ou mãe implica, sem sombra de dúvida, um certo grau de “chatice positiva”. Deixar de prever, antecipar alguns perigos pertinentes à realidade, mesmo que nada seja concretizado, é, no mínimo, algo irresponsável. Acionar sempre a mesma tecla com o intuito de que haja uma conscientização e, consequentemente, uma mudança de comportamento, desgasta. Não raro, o óbvio ou racional precisa ser comentado e repetido inúmeras vezes. Desta forma, pais e filhos nem sempre conseguem um controle emocional indicado para discorrerem acerca de temas. Cansados de tanto falar, ficam mais suscetíveis a rompantes. As palavras, o tom de voz, deixam de obedecer a lógica esperada. Depois de algumas farpas trocadas, mesmo por um motivo justo, sentimentos de culpa podem ocorrer de ambos os lados.
“Quando a guerra é prolongada os inimigos se parecem”. Distanciamentos duradouros possuem como pano de fundo formas ou estratégias similares no que se refere à solução de problemas. Quebrar o solidificado e frio requer flexibilidade das partes. A grande verdade é que não existem vencedores numa batalha, todos os lados, de certa maneira, perdem.
Em suma, por mais que exista um ideal de comunicação e equilíbrio no que concerne à educação, nem sempre é alcançado ou possível. Por um lado, devemos salientar que, apesar das “caras feias”, das entonações e formas não muito agradáveis de serem ouvidas, existem pais que amam e se preocupam. Por outro, filhos que, na grande maioria das vezes, sabem que o intuito maior destes é de zelarem por condições físicas e psicológicas indicadas. Broncas têm a capacidade de confrontarem aquilo que não está ou possivelmente não ficará bem. Quando são dadas no momento exato e com maestria, sacodem, reorganizam. Destarte, não causam, absolutamente, mal algum. São pertinentes. De modo paradoxal e verdadeiro, quando todos se encontram numa mesma sintonia inconsciente, sem palavras, os laços de amor triunfam, independentemente daquilo que é verbalizado.
Certa vez, numa segunda-feira, ouvi uma pessoa dizer que estava começando a contagem regressiva para a sexta. Achei estranha e engraçada a colocação. Fiquei questionando os motivos pelos quais alguém tem um enorme interesse para que o tempo, nesse sentido, passe rapidamente. Em outras palavras, o trabalho visava somente ao divertimento, lazer ou atividades prazerosas. Não raro, escuto depoimentos que envolvem insatisfações quanto à labuta.
Uma boa parcela daqueles que produzem reclamam da questão salarial. De fato. A remuneração devida, no mundo contemporâneo, deixa muito a desejar. A ideia que possuímos, em linhas gerais, é que é a causa de todas as mazelas. Porém, paradoxalmente, desencadeia certa estranheza lamentações ou descontentamentos de pessoas que têm financeiramente o mundo aos seus pés. Comparativamente falando, e tomando as devidas proporções, podemos dizer que os sofrimentos intrínsecos são, absolutamente, os mesmos. Destarte, temos de aumentar o nosso campo de visão para que outras facetas interligadas possam ser compreendidas. No meio de um leque de possibilidades e arranjos individuais temos uma certeza que é comum a quase todos os queixosos: a ideia do trabalho perfeito. Qualquer aresta ou imperfeição no cotidiano é motivo para que o conceito a respeito do todo seja afetado. Portanto, a parte negativa justifica. Ficam imaginando algo idealizado que em nada corresponde à realidade. Detalhes não correspondidos são vivenciados com extremo padecimento. Desejam que tudo ao seu redor transcorra conforme a sua imaginação. No que tange às relações pessoais, esquecem do óbvio de que indivíduos são imperfeitos. É a condição humana. Não obstante, cedo ou tarde, problemas de relacionamento aparecerão como flechas certeiras apontadas “única e exclusivamente” para as suas pessoas. Vivem se remoendo de infelicidade devido aos sentimentos persecutórios. O ambiente de trabalho, em suma, é visto como um verdadeiro inferno.
Os aspectos supracitados somados a outros pontos produzem a vontade de trocarem por uma atividade melhor. O imaginário vive produzindo, constantemente, o desprovido de falhas. Quando mudam, efetivamente, se dão conta de que quase os mesmos problemas permanecem. A situação lamentável interna e dolorosa é reeditada. O eterno insatisfeito cai num ciclo que é dificílimo de ser modificado.
Excluindo trabalhos e ambientes comprovadamente nefastos, há a necessidade imperativa de reformulações. A tomada de consciência acerca da vocação, somada a tolerância às frustrações devem ser questionadas e alcançadas. Certamente, neste ponto, nem todos possuem o luxo de escolhas. Para vários, a luta pela sobrevivência é determinante de caminhos. Por outro lado, devemos ter em mente que nada, absolutamente nada, implica a isenção de arestas ou descontentamentos. A vida, por si só, vai, em doses homeopáticas e profundas, demonstrando o quanto precisamos ser flexíveis neste sentido. Sem dúvida, trabalho “perfeito” é fictício.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.