Ricardo Farias Carvalho, é Psicólogo formado em teoria psicinalítica e suas aplicações psicoterapeuticas e com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia cognitivo e comportamental. Atende na Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 – Fones: (53) 3232-4677 e 8437-1066/8166-6324 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.
Recentemente, ouvi o relato de uma pessoa indignada em relação às reuniões que participa. Conforme o horário combinado, há toda uma programação pessoal. Chega, como de costume, alguns minutos antes. Porém, o que parecia uma exceção inicialmente, virou hábito. Os demais surgem “sempre” em torno de trinta minutos após o estipulado. Por outro lado, lembro de um diretor escolar que, pontualmente, começava as festividades agendadas durante o ano. Tempestades ou não, na batida precisa do ponteiro, luzes, som e os participantes começavam a se apresentar.
Os atrasos supracitados, em certos grupos, denominados de tolerâncias, parecem fazer parte de uma cultura nociva. O respeito e a consideração pelo outro deixam, em muito, a desejar. A falta de pontualidade nas obrigações e compromissos, sem dúvida, abre precedentes para que outras questões sejam afetadas negativamente. A irresponsabilidade, não raro, se torna corrosiva, constante e intensa. Destarte, as justificativas próprias passam a ser sedimentadas no comportamento alheio. Círculo vicioso. Problemas instaurados.
A vida, em doses homeopáticas e silenciosas, vai emitindo respostas no que concerne às nossas escolhas ou funcionamentos. Certamente, quando somos jovens e inexperientes, não temos o alcance necessário para dimensionarmos a extensão do todo. Inúmeros paradoxos ocorrem naturalmente. Essa “cultura” supracitada, ao mesmo tempo que é permissiva, num determinado momento, rotula, e, consequentemente cobra. Cedo ou tarde, valoriza, reforça, de acordo com aquilo que os sujeitos apresentam. Pessoas que vivem se atrasando ou aquelas que são pontuais, inquestionavelmente, passam uma imagem que fica cristalizada. Rótulos positivos ou negativos.
Outro exemplo, visando confrontar os pesos intrínsecos: certo pai vivia reclamando da filha a impontualidade nas saídas pela manhã. O estresse gerado, cotidianamente, para toda a família, era altamente significativo. Discussões e mau humor eram companheiros inseparáveis em decorrência de algo tão simples: sair no horário devido. Num belo dia, cansado de tanto falar, “enlouqueceu”. A exclusão familiar foi o último recurso viável. Depois de uma costumeira espera, partiram com o carro. Solitária, teve de arcar com as aulas perdidas e a rejeição. Inflexibilidade? Radicalismo?
Educar implica trabalho. Muito trabalho. Cobrar a pontualidade de alguém é algo que está diretamente ligado a modelos que são passados e que pertencem a uma totalidade. O mundo contemporâneo está cada vez mais exigente ou seletivo no que tange ao perfil observado dos que pretendem ser inseridos ou se manterem no mercado. Escolas e, principalmente os lares, são responsáveis diretos por esse “detalhe” que está interligado a várias outras facetas que compõem a personalidade ou dinâmica de um indivíduo. Além do mais, o óbvio é que podemos observar em países desenvolvidos a relação existente entre pontualidade generalizada e crescimento. É determinante.
Viver, indubitavelmente, tem sido um exercício constante de enfrentamento de crises. Como se não bastassem os conflitos internos, temos os externos. Tudo ou quase faz com que as dúvidas, vacilações ou declínios observados no mundo contemporâneo, atinjam de algum modo o nosso equilíbrio emocional. Talvez, como costumamos dizer, o “estado de ignorância” fosse vantajoso nesse sentido. Ficaríamos alheios. Contrariamente, é dificílimo nos tornarmos imunes a tantas oscilações observadas. Crises generalizadas são comunicadas imediatamente, atingindo os nossos lares e dinâmicas. Falências, terrorismos, corrupções, guerras, entre outros, são componentes indigestos ou corrosivos. Sendo assim, o todo é afetado de maneira radical.
Sem sombra de dúvida, um antídoto eficiente para combatermos os riscos inquietantes é a força interna que possuímos ou devemos possuir. Haja força. Está se tornando um hábito conversarmos com pessoas que, visivelmente, andam carentes de esperança e com falta de vontade de continuarem a lutar. As batalhas acirradas, determinantes de vitórias, ao longo do tempo, foram afetadas drasticamente. Certa pitada de pessimismo, por mais otimista que alguém seja, passou a pertencer à vala comum. O coletivo tem se queixado intensa e constantemente. Há um consenso e quem foge dele, no mínimo, é suspeito. Os dados de realidade de modo escancarado ou velado, implacavelmente, vão minando, em doses homeopáticas, energias vitais.
Destarte, se adultos são atingidos em cheio, o que podemos pensar em relação aos nossos jovens? Personalidades sendo formadas, exigências demasiadas ou não, confrontam com pontos altamente paradoxais. Em outras palavras, estabilidade, definições tão desejadas e cobradas por uma sociedade se deparam, dia após dia, com um modelo adulto absolutamente caótico. Pobres jovens.
Passamos por um momento que a única certeza é a incerteza. A Psicologia, como tantas outras ciências, possui alguns pontos cegos. Determinar, apontar exatamente como a força é instaurada num indivíduo é algo extremamente complexo. Meio? Genética? Ambos? Causas desconhecidas? Pouco importa. Hoje, mais do que nunca, precisamos encontrar reações, respostas, independentemente dos aspectos desencadeantes ou deficitários. Não podemos nos acostumar com a fraqueza ou sensação de impotência diante de determinados fatos. Costumo dizer que, com determinação, podemos transformar cinzas em resultados mais interessantes. Pensamentos negativos podem e devem ser substituídos por outros realistas associados à autoconfiança. Ficar se queixando, pura e simplesmente, sem ações concretas... Ademais, depositar todas as culpas, projetá-las no sentido de uma isenção de responsabilidade, implica, inexoravelmente, negações e r acionalizações que em nada modificam o estado deplorável sentido. Em suma, ser flexível, mudar, buscar saídas, agir, comprovadamente, são pontos viáveis e imperativos.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.