Paulo Francisco Martins Pacheco é Advogado, Cirurgião Buco-Facial, Coronel da Reserva BM, Prof. De Ciência Política da FURG - com Pós-Graduação pela Univ. Mackenzie – SP, Escritor – Membro da Academia Pelotense de Letras.
Encontrei exposta, no museu de Santiago, carta do embaixador chileno, no Canadá. Datava do último quartel do séc. XIX, confessando, o diplomata, que a invenção do telégrafo sem fio tornara dispensáveis as embaixadas. Desnecessário recapitular, seqüencialmente, o vertiginoso avanço das comunicações, a confirmar, incisivamente, a assertiva anterior.
Infenso a modismos, imune às psicoses coletivas, só cogitei aderir à Internet, quando advertido por uma colega: “Como? Não tens e-mail? Pois estás fora do mundo!” Desde então o cerco foi se fechando e, relegado à condição de analfabeto técnico, acabei por me integrar.
Com receio de pagar vexame numa turma de jovens, contratei afoita instrutora, que passou a executar operações incríveis, atalhos impertinentes, sem me explicar o porquê de cada passo. Em sendo assim, pedi que me ensinasse apenas manobras essenciais e perseguindo sempre o mesmo caminho. Após uma semana, recém brevetado, “cidadão do mundo”, ensaiei meu primeiro vôo sem a instrutora. Mas tive a infelicidade de ANEXAR uma bagaceira mensagem à freira-chefe do bloco cirúrgico, cuja, se benze cada vez que me vê; enquanto contemplava o alemão Tochtrop, o mais devasso dos meus amigos, com um casto texto do padre Nivaldo Monte.
Se viver é perigoso, como sentenciou Guimarães Rosa, meter-se à internauta me pareceu uma missão tão temerária quanto a das antigas navegações cabralinas. Ocorre que os homens de raciocínio rápido, por isso mesmo inconseqüentes – os “avoados”, como dizia minha avó- depois de ganharem embalo acabam rompendo todos os diques do bom senso. O ideal seria que pensassem, pensassem como dizer e só então dissessem.
Como os professores costumam ter a palavra tão fácil que não conseguem guardá-la, padeci, recentemente, duas merecidas admoestações. A primeira foi de um amigo reencontrado depois de 40 anos; a segunda, de um parente. A Internet é um perigo, volvo a dizer. Entrincheirados na barricada, relaxamos os controles do superego e, uma vez, acionado o estopim “enviar”, exaure-se toda a possibilidade de uma contra-ordem. Passamos da consciência à inconsciência, berço, como se sabe, de idéias confusas e nos entregamos a digitar mal com grande facilidade.
A recente história das comunicações é extreme em mensagens desastrosas, pois nossa maior preocupação direciona-se a evitar a rapinagem nas contas bancárias. Adicione-se ainda, o fator distância, a nos tornar menos sensíveis à epiderme dos outros.
A mesma amiga que me levou a ingressar no sistema, veio em meu socorro: “Se continuares a filosofar assim, vais ficar conhecido como um baita chato triste; evita enveredar pelos caminhos labirínticos da abstração”. Ora, como se vê, as belas loiras, surpreendentemente, também filosofam. Excluídas as finalidades indispensáveis: pesquisa, relações comerciais, contato com familiares no exterior, tal tipo de comunicação, se compulsiva e frenética, muito me preocupa - como de começo expus. Bate papo? Pressinto que não é a mesma coisa, pois falta o olho no olho, a inflexão da voz, a convicção íntima, a mímica facial, sobretudo esta, a dizer e a redizer que estamos apenas brincando. Ademais, as palavras nem sempre revelam nosso verdadeiro estado de alma.
Com o telegrama era diferente; tínhamos de andar até o Correio e, nesta milenar luta do homem pela expressão, nada é mais favorável ao raciocínio, a corrigir desvios, do que uma caminhada lenta, introspectiva e cuidadosa.
Por tudo isso, prefiro o telegrama, porque censor antecipado de arroubos irrefletidos, porque pioneiro em desaconselhar a instalação de onerosas voluptuárias embaixadas, já que, sóbrios consulados bastam, como extensão soberana de nosso território.
“Há tanta tolerância nessas Casas Legislativas, que
dia virá em que não será impróprio chamá-las: Ca
sas de Tolerância.” (Gustavo Corção)
Embora dispensado de votar, exerci a autoridade da idade, a fim de anular meu voto à Câmara e ao Senado, entes teratológicos gerados pela mal-nascida Constituinte Congressual de 86/88, que consagrou o sistema bicameral, hoje inexistente em muitos Estados.
Querem válido meu voto? Pois então reestruturem a Câmara e o Senado, pela redução de 513 para 250 o número de deputados; eliminem a hiper-representação dos estados da Região Norte; abram mãos de quatro das cinco passagens mensais pagas pelo erário para, semanalmente, visitarem as bases – o que enseja inúmeras faltas às sessões e a subseqüente onerosa convocação extraordinária; mandem de torna-viagem aos municípios de origem 90% dos 17.000 funcionários da Câmara, a fim de reforçarem o trabalho indispensável e suarento dos garis; encolham o tempo de mandato dos senadores para quatro anos (como vou saber o que o senador vai pensar daqui a oito anos?); acabem com as aposentadorias após duas legislaturas, de resto, com a excrescência da “reeleição”, gerada em causa própria, através de manobras curvilíneas.
Só o orçamento do Senado daria para manter seis universidades do porte da UFPEL, enquanto o orçamento da Câmara (que roça os R$ 2.300.000.000,00) supera o orçamento de Porto Alegre. São aprovadas apenas 200 leis por ano e 194 destas são da iniciativa do Planalto. A Lei de Falências teve uma gestação de 11 anos. Adicione-se ao locupletamento sobredito: o auxílio moradia e inúmeros privilégios de difícil inventário. Não por acaso, Brasília tem a maior renda per capita do Brasil.
Objetar-se-á, que é necessário melhorarmos paulatinamente o Congresso, votando no candidato menos venal e mais preparado intelectualmente? Ora, Delfim Neto advertiu que o deputado culto deve quedar-se mudo, para não provocar animus adversus nos medíocres, cuja maioria é avassaladora. Ademais, os parlamentares que não se revelaram corruptos não deixam de ser omissos.
O projeto de redução do número de deputados, apresentado pelo Clodovil, foi com ele “engavetado”. Rogo apontarem o nome de outro parlamentar que teve o topete de se insurgir contra as mordomias existentes nesses focos – crônicos - de virulentos dilapidadores do erário.
Patente e patentíssima, pois, a insensibilidade desses “representantes” à epiderme dos seus representados, haja vista o escandaloso aumento de 61,83%, hoje referendado - num flagrante deslize de patriotismo - pelo gaúcho que postula a presidência da Câmara, enquanto o gaúcho que o antecedeu nessas funções, cometeu deslize de gauchismo, quando se aliou ao Quércia para chegar à presidência da Câmara. Espanta-nos a desmemória dos gaúchos, daí concluir-se que, eleitores nascidos para serem devorados, infelizmente não aprendem a não deixar-se devorar...
Também não é válido afirmar-se: “Quem não vota não pode reclamar!” É que, não se estará levianamente referendando estruturas corruptoras, oriundas de uma Constituinte não-exclusiva, integrada por pianistas, gazeteiros – ultrapassavam 200 - senadores biônicos, vendilhões da consciência e os que foram eleitos através do estelionato do Plano Cruzado, que agonizou um dia após as eleições. Somem-se a estes, os rufiões da memória do Tancredo...
Obtidos 51% de votos nulos estes não logram invalidar a eleição? Pois deveriam. Além do mais – como se necessário fosse um além do mais - trata-se de um começo, bem menos cruento do que uma revolução e cuja finalidade é exercer uma pressão psicológica dos idealistas sem política contra os políticos sem ideal. Adianta tentarmos insuflar um balão furado?
Aqueles que teimam em melhorar paulatinamente o Congresso, sem modificá-lo através de uma Constituinte Exclusiva, única capaz de acabar com os abusos legislados, comumente confundidos com direitos adquiridos, são tão ingênuos quanto aqueles que crêem apagar-se a luz, arrancando os próprios olhos.
Paulo F. M. Pacheco - Professor aposentado da Univ. Federal do Rio Grande. Pós-graduado pela Univ. Mackenzie- SP, com média DEZ em Assuntos Políticos.
Artigo publicado após o indecoroso aumento dos salários dos parlamentares, em dezembro de 2010.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.