Ricardo Farias Carvalho, é Psicólogo formado em teoria psicinalítica e suas aplicações psicoterapeuticas e com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia cognitivo e comportamental. Atende na Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 – Fones: (53) 3232-4677 e 8437-1066/8166-6324 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.
Em condições normais, o amor que sentimos pelos filhos é imensurável. Todos os passos, etapas, com as suas respectivas conquistas, emocionam. Gradativamente, o óbvio e esperado acontece: a busca por independência. Sendo assim, contatos pele a pele, cheiros característicos, podemos dizer, tornam-se ocasionais. O mundo, inquestionavelmente, se encarrega do afastamento “desejado e desprazeroso”.
Por outro lado, a educação que propiciamos apresenta algumas vicissitudes. Um filho formado, não necessariamente, encontra as condições idealizadas ou, até mesmo, próximas disso no meio circundante. A sensação que temos é que tudo está muito difícil. Concursos concorridíssimos, iniciativas privadas com chances pequenas de darem certo, competitividade absurda, número precário de vagas de trabalho, entre outros aspectos, balançam consideravelmente a alma dos adolescentes. Não obstante, sensações de incompletude, desvalorização, baixa autoestima, são algumas das consequências inevitáveis. A realidade pela qual passamos, podemos dizer, é caótica. O tempo transcorre. Haja paciência e perserverança para que definições, suficientemente boas, ocorram. Se ocorrerem. Não raro, alternativas ou caminhos totalmente diferentes são tomados com o intuito de obterem um “lugar ao sol” diante dos progenitores, sociedade, e, principalmente, em relação a si mesmos. Nessa incansável busca, associada aos desejos de liberdade supracitados, outros países entram em cena. Cansados de lidarem com sucessivas frustrações no país de origem, o imaginário trabalha com alternativas que estão a milhares de quilômetros de distância. Partida. Portanto, as horas de voo, o custo como um todo, salvo raríssimas exceções, diminuem, consideravelmente, encontros familiares. Em alguns caso s podem, inclusive, durarem uma “eternidade” ou deixarem de existir. Os oceanos, magicamente, aparecem como “barreiras invisíveis”. Destarte, de modo natural, seguranças, inseguranças, incertezas, vazios e saudades recíprocas. Pais, de um lado, esperando que todos os ensinamentos passados sejam correspondidos. Filhos, de outro, lutando para que os sonhos, mínimos e dignos, se concretizem. Esperanças. Parafernália eletrônica: computadores, celulares, câmeras, o possível e impossível, para minimizar o “sofrimento bom” das almas. Paradoxo.
O exterior não é um porto seguro fornecedor de todas as garantidas desejadas. Porém, é uma porta interessante em vários sentidos da existência. Distanciamentos, independentemente dos resultados práticos, positivos ou negativos, ensinam muito. Facilitam o incremento da maturidade num curtíssimo espaço temporal. A relação entre pais e filhos, família como um todo, encontro com o verdadeiro eu, assim como pontos que passavam despercebidos, tinham pouco valor ou peso, mudam de maneira radical. A “ilha solitária”, em outras palavras, produz aprendizados eternos.
Num belo dia, quando menos esperamos, nos defrontamos com alguém que definimos como interessante. Sendo assim, se viável, depositamos uma série de expectativas numa pessoa que não conhecemos suficientemente bem ou na totalidade. A felicidade que passa a reinar, desencadeada pela química e pelos aspectos psicológicos, é única. Nesse jogo de sedução, máscaras previsíveis e aceitáveis que escondem o verdadeiro eu, são utilizadas. Sem dúvida, é algo inerente ao processo da conquista.
As nossas escolhas possuem significados. Aspectos conscientes e inconscientes que fazem parte dessas, são determinantes. No fundo, a casualidade aparente é acompanhada por pontos que, muitas vezes, até mesmo, desconhecemos. Destarte, o intitulado amor, não raro, tem a capacidade de criar uma “cegueira” temporária ou permanente. Queremos ver somente o que nos interessa. À medida que o tempo passa, tudo aquilo que é desagradável, contraindicado e perigoso, de certa forma, pode ser negado ou racionalizado. O coração, ou melhor, o cérebro, se encarrega de arrumar inúmeras maneiras e fazer com que o óbv io não tenha força ou peso. A finalidade maior é de dar continuidade. Continuidade neurótica. Fonte de sofrimentos ou angústias infinitas. Nesse sentido, o grande paradoxo é que, embora seja observado em uma das partes, ou em ambas, um potencial intelectual para análise e síntese, fatos, que frequente e comprovadamente indicam que a união não dará certo, de nada adiantam. Por outro lado, apesar de assinalamentos e confrontações do meio corroborarem para o indigesto somatório, inúmeras tentativas ou reconciliações “mágicas” são feitas visando à permanência do vínculo. Não obstante, encontramos nas histórias individuais levantadas, justificativas em prol da dinâmica em questão. Baixa autoestima, crenças negativas, dificuldades no sentido de suportar dores decorrentes das separ ações, fantasias de não ser possível arrumar nenhum outro relacionamento, carências e dependências desproporcionais, precariedades demasiadas quanto a tolerância à frustração, fragilidade, instabilidade emocional, perdas traumáticas anteriores, entre outras, são colocações costumeiramente feitas na experiência clínica. Aliás, essa mostra a contradição de que, quanto mais complicada a relação, maior a dificuldade do rompimento. As amarras psíquicas costumam ter implicações profundas que precisam ser resolvidas.
A palavra supracitada “significado” é um grande norte. Insistências em vínculos conturbados, beligerantes, desencadeadores de uma “certeza matemática” da incongruência, no fundo, não valem a pena. Portanto, é imperativo um autoconhecimento para que novos arranjos afetivos, mais sadios emocionalmente, possam ser buscados e encontrados. Viver, tendo ao lado uma fonte inesgotável de desprazeres, sem sombra de dúvida, adoece a alma e afeta significativamente outras facetas da existência. Insistir, aniquila ou quase.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.