Ricardo Farias Carvalho, é Psicólogo formado em teoria psicinalítica e suas aplicações psicoterapeuticas e com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia cognitivo e comportamental. Atende na Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 – Fones: (53) 3232-4677 e 8437-1066/8166-6324 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.
Recentemente, tive a felicidade de receber de um paciente uma entrevista publicada na revista Época em 11/11/2011, com o psicólogo americano Roy Baumeister que lançou o livro Willpower, sobre a importância do autocontrole. Este defende que a auto-avaliação está atrelada ao fato de sermos bem-sucedidos no controle dos nossos impulsos. A idéia que tínhamos até então de que a autoestima era fundamental e, podemos dizer, “mais importante”, foi desbancada pelo autocontrole. Segundo psicólogos, pesquisas mostram que a autoestima não garante resultados positivos no trabalho ou na escola. O sucesso está atrelado ao controle dos impulsos, no adiamento dos prazeres imediatos em função de objetivos maiores ao longo do tempo.
Segundo Baumeister, “o autocontrole é um processo, um tipo de ação e um traço de personalidade. E força de vontade é um dos ingredientes que nos ajudam a ter autocontrole. É a energia que usamos para mudar a nós mesmos, o nosso comportamento, e tomar decisões”. Não obstante, a inteligência e o autocontrole são traços importantíssimos para uma existência próspera. O autor aborda que o primeiro é imutável, porém, o segundo é passível de modificações ou de um aprendizado ao longo da vida. Por outro lado, levanta o óbvio que precisamos de dinheiro e relações. Destarte, devemos possuir “um sistema que subordine nossos impulsos”.
Complementando, gostaria de acrescentar as colocações acima, o interessantíssimo best–seller Inteligência Emocional do psicólogo Daniel Goleman, o qual sugiro aos leitores. Neste, coloca uma experiência fascinante realizada com crianças. Um pesquisador conversa com estas separadamente e propõe que, se não comerem um doce colocado em cima de uma mesa, no que sair da sala, em seu retorno, ganharão outro. Mal se distanciava e algumas devoravam imediatamente o disponível. Outras, assobiavam, cantavam, dormiam etc., e esperavam a gratificação. Após crescerem, os pesquisadores fizeram um estudo longitudinal e chegaram à conclusão de que aquelas que ganharam a segunda guloseima, desencadeada pela espera, tiveram melhores resultados na vida como um todo.
Na clínica, observo que a falta de autocontrole é uma das dificuldades altamente significativas encontradas hoje em dia. Constantemente, vejo o quanto isto prejudica as pessoas de infinitas formas. Atitudes impulsivas corroendo relacionamentos e lares. Estou convencido que um milésimo bem pensado é determinante para a tão sonhada paz. O mundo parece estar funcionando com um pavio extremamente curto prestes a explodir a qualquer momento. Postergação, capacidade de se colocar no lugar do próximo, pensamentos, sentimentos e comportamentos adequados cedem terreno ao imediatismo ou impulso. “Para ontem” é o lema. Sendo assim, infelizmente, o lado animal prevalece, triunfa sobre toda a possibilidade de controle que nos tornou “humanos ou diferenciados” de espécies primitivas...
Quando assistimos à televisão, certas propagandas que na verdade são apelos dramáticos, buscando uma conscientização, parecem até não ter importância. O mesmo ocorre com os jornais que apresentam, dia após dia, acidentes envolvendo motoristas alcoolizados. O todo é visto como banal, corriqueiro, pois já “estamos acostumados ou as coisas são assim”...
Só para termos idéia da situação aterrorizante, uma pesquisa do Ibope, feita a pedido do governo do Estado de SP, apontou que 18% dos adolescentes entre 12 e 17 anos bebem regularmente, e que quatro entre dez menores compram livremente bebidas alcoólicas no comércio. Segundo a pesquisa, o consumo de álcool acontece, em média, aos 13 anos. O Cratod (Centro de Referência em Tratamento de Álcool, Tabaco e Outras Drogas) detectou que 80% dos pacientes diagnosticados alcoólatras deram o primeiro gole antes dos 18 anos, parte deles muito jovens, com 11 ou 12 anos. Portanto, se o dilema começa antes da obtenção da carteira de motorista, o óbvio é que enfrentamos, no mínimo, um quadro alarmante com possibilidades de agravamento, visto a facilidade para se obter uma CNH e a compra de veículos estimulada ao extremo.
O discurso é igual. A negação ou racionalização está sempre presente. Não bebi ou essa quantidade não “dá nada”. Estas são saídas encontradas frequentemente, porém, geradoras de mortes. Lembro de um paciente adulto relatando dificuldades em “vencer curvas” quando “bebia um pouco mais”. Desnecessário dizer que a atenção e os reflexos ficam afetados significativamente. Fico horrorizado quando vejo carros virarem “papel” sabendo que pedaços de corpos são juntados um a um. Sei muito bem das consequências desencadeadas por perdas desse tipo no consultório. As dores e os sofrimentos apresentados, sem dúvida, são diferentes ou intensos.
Fiscalização? Acho que sim ou talvez. É interessante, ninguém vai negar. Megaoperação contra a venda de bebidas alcoólicas, para menores de 18 anos, sem trabalharmos a essência? Minimiza, mas não resolve efetivamente. Tomada de consciência, no meu entendimento, possui peso. Seria utopia de minha parte pensar em prevenção, objetivando atingir exatamente a faixa etária supracitada ou até idades inferiores? Exagero imaginar a possibilidade de abordarmos o problema nas séries iniciais com afinco?
Consciência é chave e difícil. Consciência não é sinônimo de atitudes proibidoras ou somente leis severas. Vai além. Exemplos, diálogos no sentido de uma verdadeira educação são precisos de maneira imperativa. Infelizmente, os tristes números ou estatísticas que temos escancarados constantemente na relação álcool e acidentes são consequências de todos nós. Respostas eficientes e eficazes devem ser encontradas no âmbito social visando trabalhar as causas reais que levam jovens e adultos ao consumo do álcool e as respectivas mortes decorrentes no trânsito. Sem isso...
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Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.