Ricardo Farias Carvalho, é Psicólogo formado em teoria psicinalítica e suas aplicações psicoterapeuticas e com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia cognitivo e comportamental. Atende na Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 – Fones: (53) 3232-4677 e 8437-1066/8166-6324 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.
Gostaria, nessa semana, de dividir com vocês as conclusões do artigo que escrevi recentemente para o curso de especialização em terapia cognitivo-comportamental, o qual aborda a influência cultural na fase da adolescência:
“As evidências que temos no mundo contemporâneo comparadas a outras sociedades mais primitivas, no que se referem à adolescência, nos levam a uma única certeza: a fase é uma criação social. Sendo assim, podemos comprovar que o ‘determinismo biológico’ ou o ‘fenômeno universal’ não tem todo o peso alegado constantemente, ou seja, é questionável. Constatamos que, quanto mais primitiva a sociedade, a ‘transição’ é praticamente inexistente com conflitos ou sofrimentos mínimos. O pensamento, os sentimentos e comportamentos apresentados ou comparados, entre as referidas organizações, são significativamente antagônicos.
Vivemos num mundo com cobranças culturais cada vez maiores, portanto, essas geram, indubitavelmente, confusões. A sociedade, por sua vez, é ambígua ou extremamente difícil. Sem sombra de dúvidas, não possuímos uma identidade formatada no sentido de propiciarmos uma segurança física e, principalmente, psíquica para os nossos membros. Desta forma, esse ‘clichê social’ gera indivíduos inseguros e desesperançosos.
Não podemos ficar questionando ou negando eternamente a relevância do ambiente. Seria como querer negar o óbvio. Se não há uma identidade no mundo adulto como fica o universo adolescente? Confusões, sentimentos de perseguição e depressão nos jovens são uma consequência decorrente. Possuímos adolescentes com lindos projetos de vida sendo confrontados no seu dia-a-dia com projetos de morte. O mundo predominantemente se comporta de forma tal que a ‘finitude acelerada’ passa a ser um fantasma altamente considerável. Destarte, a elaboração da ‘crise’ de um jovem esbarra ou é confrontada exatamente com um mundo desequilibrado. Futuro? Qual? Os adultos se queixam frequentemente de uma dependência prolongada, porém as ausências de oportunidades criadas levam a uma subordinação absurda. Ciclo vicioso formado. Como podemos cobrar algo dos adolescentes se nem nós mesmos temos uma certeza? Portanto, sentimentos negativos de impotência, inadequação, entre outros, são gerados de forma natural e intensa. De que maneira exigir um código moral quando o mundo consciente ou inconscientemente é debilitado moralmente? Paradoxalmente, a criatividade adolescente é confrontada com a conformidade social. Caberia citar Cazuza que, na sua adolescência, disse: ‘Tuas idéias não correspondem aos fatos... ’ O mundo diz uma coisa e faz outra. Até que ponto os ‘príncipes triunfantes’ nas ruas não são identificações precárias dos ‘reis triunfantes’ existentes na sociedade? Será que os sentimentos de inadequação ou inferioridade social não buscam ‘magicamente’ esse ser superior? As drogas não serão essas ‘válvulas de escape social’ produzidas exatamente pelo meio? O que representa socialmente termos jovens drogados? Quais as vantagens? Estará a sociedade, através das suas inúmeras mídias, pregando valores mais indicados ou estes são esquecidos, sendo até mesmo indesejáveis diante do lucrativo consumismo exagerado? Possui a honestidade, sentimento de confiança básico, espaço na nossa sociedade? Por outro lado, os aspectos agressivos, o sucesso a qualquer preço, a competitividade desenfreada é rotineira. Vivemos, indiscutivelmente, numa organização em que o ‘EU’ deve predominar em detrimento do ‘NÓS’.
Tendo em vista as considerações acima, é imperativa a integração de pesquisadores e profissionais, como também parcelas da sociedade que têm o adolescente e o social como objeto de atenção, para que sejam desenvolvidos novos estudos que contribuam para o aperfeiçoamento de propostas de intervenção, prevenção e promoção do desenvolvimento ‘normal’ dos adolescentes nos seus diferentes aspectos. É, portanto, imprescindível desviarmos o foco um ‘tanto quanto unilateral’, visando a novas cognições e, por consequência, obtermos uma análise infinitamente mais abrangente do que intitulamos de ‘adolescência’.
Paradoxal, mas verdadeiro. Há muitos anos, não víamos uma onda de violência juvenil tão relevante. Jornal, rádio, televisão, nos mostram uma dura realidade: adolescentes matando de maneira impressionante. As dúvidas, os questionamentos, pairam sobre todos nós. Velhas perguntas são feitas: “Onde eu errei? Como um pai que dá tudo a um filho, o melhor, pode esperar algo assim?” Várias teorias, hipóteses são levantadas. A meu ver, o problema além de ter conotações sociais, é basicamente familiar na sua essência. A experiência que possuo com jovens faz com que me sinta assustado em perceber, cada vez mais, o poder que esses têm sobre os pais. Além da onipotência inerente, natural à fase, parece estar havendo certa inversão na hierarquia das relações. O filho muitas vezes reina como soberano dentro de casa. Suas opiniões são “respeitadas” a qualquer preço, existe certo “temor” em contrariá-las. Assim, desde cedo, a idéia de “pode tudo” se cristaliza.
Atualmente, muitos pais são movidos por sentimentos de culpa. O não estar 24h com os filhos pela necessidade financeira contamina o campo dos relacionamentos. Perdidos, confusos, acham que permitindo normas proibidas, agradam. Um carro sem a devida habilitação é fornecido, sacrifícios para comprar roupas de grifes exorbitantes, lutar contra as regras da escola, comprar algum policial por uso de drogas ou o carro apreendido, pequenos e constantes favores cedidos, enfim... Esse todo vai gerando no jovem, inconsciente e gradativamente, a idéia de que ele e o dinheiro estão acima de tudo e, por conseqüência, surge a desvalorização do outro. Assim, é formada a filosofia do “todos na minha”. As regras sociais, a convivência, vão sofrendo distorções.
Os próprios pais lutam na selva de pedra e cobram também sucesso dos filhos. Ser o melhor é o objetivo principal, o projeto de vida. Essa rotina vai gerando uma falsa realidade. Idéias grandiosas, poderosas, não demoram muito a ser confrontadas com a realidade nua e crua. Isso explica muitos acidentes no trânsito, drogas, homicídios, suicídios, entre outros.
A falta de uma quantidade mínima de frustrações, dificuldades em dizer “NÃO”, geram, no fundo, o empobrecimento psíquico. A permissividade intensificada, clara e notória no mundo atual é uma doença complicada.
Não adianta depositarmos mágicas na escola no que tange à educação dos nossos filhos. Essa é limitada, somente uma extensão ou reforço do que é aprendido em casa. Se não houver uma base, bons exemplos verdadeiros por parte dos pais, nada feito.
Os pais contemporâneos têm de repensar muito o todo. O filho poderoso e desejado pode ser uma enorme fonte de conflitos ou problemas. O rei, nesse caso, é quase sempre deposto pela vida...
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Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.