Ricardo Farias Carvalho, é Psicólogo formado em teoria psicinalítica e suas aplicações psicoterapeuticas e com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia cognitivo e comportamental. Atende na Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 – Fones: (53) 3232-4677 e 8437-1066/8166-6324 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.
Uma das definições de empatia é o processo de identificação em que o indivíduo se coloca no lugar do outro e, com base em suas próprias suposições ou impressões, tenta compreender o comportamento desse. Sem dúvida, podemos dizer uma “leitura das emoções alheias”. Definição simples, porém, altamente complexa. Vivemos num mundo que carece muito do exercício diário da empatia. Num bom número de casos, observamos pessoas que, simplesmente, cuidam de si, sem darem a mínima importância para o seu semelhante. Exagerando ou não, quem está próximo torna-se invisível.
Recentemente, fiquei surpreso com a foto de um garotinho entregando um ramalhete de flores para uma colega na escola que sofreu uma pequena agressão da sua parte. Certamente, por detrás do gesto, uma mãe que, desde cedo, começou a exercitar a empatia no seu filho. Imediatamente, imaginei o desenrolar da emocionante cena. Sem dúvida, esses primeiros passos são importantíssimos em relação ao útil aprendizado empático. Destarte, é algo que temos condições, ao longo da nossa existência, de aprimorarmos paulatinamente. Países desenvolvidos, como, por exemplo, o Japão, dão verdadeiras aulas acerca da empatia. Várias atitudes são tomadas sempre pensando no próximo. Desse modo, o ciclo é altamente positivo. A corrente do bem é natural e precocemente desencadeada.
Talvez um sinônimo de empatia seja gentileza. Não precisamos de situações fantásticas para expressarmos amabilidade ou delicadeza. Inúmeras são as chances, em circunstâncias comuns, de fazermos com que alguém abra um sorriso de agradecimento mesclado com certa dose de surpresa. Essa aura irradiada, indiscutivelmente, faz bem. Muito bem. Temos assim, uma sensação positiva imediata. A finalidade daquele dia, nesse sentido, parece amplamente cumprida. Instauramos para nós e para os outros o que intitulamos de felicidade. Essa capacidade, agregada a outros fatores, propicia um crescimento interno e externo altamente significativo. Somos reconhecidos e valorizados por aqueles que nos rodeiam. Resultados práticos, retornos, passam a acontecer mesmo não havendo qualquer tip o de interesse nas ações.
Segundo Carl Rogers, “ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele”. Quando navegamos nos pensamentos e sentimentos alheios, possuímo infinitas chances de entendermos as suas necessidades, desejos, interesses, dificuldades, entre outros. Esses encontros verdadeiros, profundos, minimizam ou, até mesmo, eliminam as mazelas humanas. Atestado disso são as nossas próprias sensações prazerosas produzidas, quando somos entendidos no amplo sentido da palavra.
A falta de empatia está intimamente relacionada a uma carência absurda, profunda e contemporânea: a ausência da paz. Certamente, viveríamos infinitamente melhor, se tivéssemos um alcance maior em relação àqueles que nos cercam. A referida paz só é alcançada quando entendemos o EU do outro.
Na etologia, ciência que estuda o comportamento social e individual dos animais em seu habitat natural, ficamos fascinados com detalhes que, até então, não conhecíamos. É interessantíssimo, por exemplo, a luta diária travada entre os grandes predadores e presas. Contrariamente ao que pensamos, a probabilidade de serem bem-sucedidos é pequena. Num bom número de tentativas, têm de lidar com o fracasso. Destarte, a sobrevivência é adiada até uma nova investida possível para que obtenham sucesso. Perder ou ganhar faz parte do jogo imperativo da vida.
Por outro lado, no mundo contemporâneo, vivemos numa sociedade que não admite o fracasso. Esse é rotulado da pior forma possível. Possuímos uma tendência óbvia de escondermos, a qualquer preço, tudo aquilo em que não obtivemos êxito. O receio dos rótulos e julgamentos alheios é altamente corrosivo. Fazemos parte de uma cultura que sofre, demasiadamente, por resultados que não sejam excelentes. Portanto, de maneira inquestionável, há um desejo claro ou manifesto de sermos sempre os melhores. Qualquer vírgula ao contrário, imediatamente ou quase, faz com que tomemos a parte pelo todo. Nos sentimos fracassados e culpados, muitas vezes, sem olharmos a realidade circundante. Inúmeros, diante de qualquer insucesso, paralisam ou desistem. Sendo assim, desenvolvem autoconceitos terríveis. Por medo de uma nova falta de êxito, um número significativo de indivíduos, vive em casulos protetores contra as adversidades pertinentes. A lei do tudo ou nada passa a imperar.
Voltando ao reino animal, os filhotes de várias espécies, precocemente, são preparados ou treinados para lidarem com os malogros das caçadas. Quando há um período difícil, dependendo da época, observam a mãe extenuada, geralmente responsável pelo alimento, não desistir. Até porque a desistência pode implicar a morte de todos. Atentamente, observam as mudanças de estratégias, objetivos ou novas investidas. Aprendizado que ocorre em doses homeopáticas. Não obstante, dão uma utilidade para cada situação geradora de frustração. Com esse pensamento crescem, sabendo de antemão, que não serão capazes sempre e que a saciedade ou as satisfações pressupõem muito esforço e tempo.
Evidentemente, a nossa racionalidade ou complexidade é o que nos diferencia de outros animais irracionais. Porém, nessas questões supracitadas, no afeto que alimentam em relação aos seus próprios membros, entre outros aspectos, temos muito ainda que observar e aprender com os demais seres. Precisamos “regredir” positivamente. Questões que poderiam ser mais simples, geradoras de menos sofrimentos internos, com a evolução e de forma paradoxal, se agravaram. Frustrações decorrentes de fracassos, de modo algum, devem afetar a nossa tão atormentada alma e, como consequência, desencadearem vazios. A única certeza é de que, a “perspectiva do nada”, sedimentada nos revezes, resultados ruins, é o pior que pode acontecer para o ser humano. De prime. Aniquila.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.