Ricardo Farias Carvalho, é Psicólogo formado em teoria psicinalítica e suas aplicações psicoterapeuticas e com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia cognitivo e comportamental. Atende na Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 – Fones: (53) 3232-4677 e 8437-1066/8166-6324 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.
Existem determinadas leituras que nos desencadeiam um prazer imensurável. Costumo dizer que os poetas têm um alcance diferenciado ou extremamente profundo acerca das questões que envolvem o inconsciente. Portanto, conseguem descrever, em poucas e belas palavras, tudo aquilo que pensamos e simplesmente não transferimos para o papel. São, sem dúvida, grandes mestres neste sentido. Há, imediatamente, uma “identificação”. O outro, de forma mágica, passa a ser um “eu” temporariamente. Não obstante, chegam a provocar certo ciúme por tamanha capacidade.
Definir uma amizade é muito complexo. Embora queiramos, é um exercício dificílimo. Ademais, quantificar relações próximas, beira o impossível. Cada uma, do seu jeito ou modo, possui um peso, porém, todas têm a sua importância. Amigos talvez sejam “quase que como filhos”. Amamos imensamente respeitando as características individuais apresentadas. A possibilidade de elegermos um “melhor” apresenta uma relativa nebulosidade ou cegueira. Devemos reconhecer que, na imensa maioria dos casos, somos incapazes.
Quando nos deparamos com algo que nos desperta inúmeros sentimentos agradáveis, certamente só nos resta dividir. Destarte, fazer com que mais pessoas possam se deleitar da fonte. Como já fiz em outro momento, gostaria de citar aos amigos leitores, o escritor e poeta argentino Jorge Luis Borges em “Poema aos amigos”. Uma profunda e convincente amplitude do significado de amizade.
“Não posso dar-te soluções para todos os problemas da vida, nem tenho resposta para as tuas dúvidas ou temores, mas posso ouvir-te e compartilhar contigo.Não posso mudaro teu passado nem o teu futuro. Mas quando necessitares de mimestarei junto a ti.
Não posso evitar que tropeces, somente posso oferecer-te a minha mão para que te sustentes e não caias.As tuas alegrias os teus triunfos e os teus êxitos não são os meus, mas desfruto sinceramente quando te vejo feliz.
Não julgo as decisõesque tomas na vida, limito-me a apoiar-te, a estimular-te e a ajudar-te sem que me peças.Não posso traçar-te limitesdentro dos quais deves atuar, mas sim, oferecer-te o espaço necessário para cresceres.
Não posso evitar o teu sofrimentoquando alguma mágoa te parte o coração, mas posso chorar contigo e recolher os pedaços para armá-los novamente.
Não posso decidir quem fostenem quem deverás ser, somente posso amar-te como és e ser teu amigo.
Todos os dias, pensonos meus amigos e amigas, não estás acima, nem abaixo nem no meio, não encabeças nem concluís a lista. Não és o número um nem o número final. E tão pouco tenho a pretensão de ser o primeiro, o segundo ou terceiro da tua lista.Basta que me queiras como amigo.Dormir feliz.Emanar vibrações de amor. Saber que estamos aqui de passagem. Melhorar as relações. Aproveitar as oportunidades. Escutar o coração. Acreditar na vida.
Obrigado por seres meu amigo”.
À medida que vamos envelhecendo, nos deparamos com arranjos que são altamente paradoxais. Indivíduos próximos que, em princípio, tinham tudo para dar certo, acabam obtendo péssimos resultados. Durante um período, parecem estar no auge financeiro e emocional. Parecem. Fatos relevantes, não necessariamente, fazem com que os castelos, interno e externo, desabem. Indubitavelmente, o inverso também é verdadeiro.
Tenho lembranças de uma criança extremamente inteligente. Sem dúvida, era um modelo a ser seguido. Ótimas notas na escola e o comportamento como um todo suficientemente bom. Chegava a despertar ciúmes dos iguais pelos resultados obtidos. O tempo transcorreu. Sua aparência precária era um reflexo que algo estava deixando a desejar. A interrupção do curso superior foi um agravante. Concomitantemente, desenvolveu adições para álcool e jogos. A inevitável separação fez com que mantivesse relacionamentos instáveis e nada indicados. No que se refere ao trabalho, só não foi despedido por ser um funcionário antigo concursado e sentirem pena do seu estado. Sem dúvida, não desenvolveu uma psicose, porém, não soube lidar adequadamente com os problemas inerentes à vida. Apesar do potencial intelectual, emo cionalmente, podemos pensar, demonstravafraqueza.
As crises são absolutamente normais a todos nós. Costumo dizer que, quando estamos no “olho do furacão”, nos sentimos deploráveis. A sensação que ocorre é de que não teremos nenhuma saída objetivando contornar ou solucionar o emaranhado problemático. Frequentemente, comparações com pessoas bem sucedidas e, em tese, “felizes”, fazem com que a descrença em relação a nós mesmos aumente consideravelmente. A autoestima, portanto, sofre muitíssimo.
Exatamente, no que tange ao ponto supracitado, é que necessitamos modificar os pensamentos. Se as crises são comuns, no fundo, “como” lidamos com elas é o grande diferencial. Fugir das vicissitudes, não encará-las devidamente, fragiliza o eu. No fundo, salvo raríssimas exceções, viver implica altos e baixos. Estabilidade permanente, felicidade plena, entre outras formas de idealizações, minam a alma. Esperarmos eternamente, soluções mágicas, apontarmos culpados ou responsáveis, visando à isenção das nossas responsabilidades ou participações no processo é simplesmente inútil.
Força interna é passível de reformulações ou aprimoramentos. Tentativas e erros servem como antídotos para novas situações similares. Não há músculo desenvolvido sem exercícios constantes. Como num moinho, quando estamos nos sentindo “por baixo”, devemos sempre lembrar que o oposto é perfeitamente possível. Destarte, quando nos encontramos “por cima” o óbvio é que, cedo ou tarde, o negativo acontecerá. A única certeza é de que, a água intitulada vida, com todas as suas alegrias e tristezas, num determinado recorte, não para.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.