Ricardo Farias Carvalho, é Psicólogo formado em teoria psicinalítica e suas aplicações psicoterapeuticas e com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia cognitivo e comportamental. Atende na Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 – Fones: (53) 3232-4677 e 8437-1066/8166-6324 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.
Antigamente, o que mais preocupava os comerciantes, eram os concorrentes que se estabeleciam nas suas respectivas áreas. Os tempos, evidentemente, são outros. Hoje, a dita concorrência, com a internet, aumentou de uma forma inimaginável. Através de simples toques, temos acesso ao mundo das vendas. É impressionante a quantidade de ofertas em relação a determinados itens. Basta pensarmos e o computador se encarrega dos infinitos estímulos. Sair de casa para procurar algo, certamente, está com os dias contados.
O paraíso virtual das mercadorias, como tudo aquilo que é excessivo, tem as suas vantagens e desvantagens. Recentemente, ouvi uma pessoa dizer que um funcionário de um setor, durante o expediente, faz compras com frequencia, através dos sites. Por mais que tente lutar contra, não tem como. O vício, sem sombra de dúvida, é algo mais forte do que a razão. Mesmo tentando ocultar é flagrado algumas vezes. Por outro lado, nos lares, sem a proibição, é muito pior. Indivíduos que, mesmo não necessitando de um produto em especial, pesquisam o "nada" para encontrarem algo que satisfaça. No momento da aquisição, tempo de espera, chegada do produto e alguns dias em função da "novidade", a alegria é indes critível. Porém, como todo o prazer sedimentado nesses moldes, é algo efêmero. Angústias dissipadas. Angústias que retornam. Sendo assim, num curtíssimo espaço temporal, o computador é ligado novamente com esse intuito. Ciclo restabelecido.
É admirável observarmos o índice dos que ficam endividados pelas facilitações que são apresentadas. Não raro, assistimos entrevistas com "coleções" de objetos que não possuem espaço adequado nos lares. Vários, embora não tendo condições para o consumo desenfreado, são altamente sugestionáveis em relação as propagandas, "auxílios" dos bancos e do instrumento supracitado. Côncavo e convexo negativo. Nesse todo, é comum ouvirmos a infelicidade relatada, fruto da falsa felicidade momentânea. Decepções e frustrações profundas. O meio, inquestionavelmente, também paga o seu preço direta ou indiretamente. Muitas vezes, até alimentos b&aacut e;sicos faltam em função do total descontrole. Crises decorrentes e generalizadas entre o casal e os filhos minam, em doses homeopáticas, o equilíbrio familiar que deveria existir. Algumas separações têm como pano de fundo a instabilidade financeira apresentada.
Compras, muito além do indicado, são um sinal de que, emocionalmente, as coisas não vão bem. Destarte, vazios, das mais variadas ordens, são preenchidos, "transitoriamente". Ademais, o óbvio, é que verdadeiras "lojas em casa", não solucionam absolutamente nada. Privações econômicas no passado, carências afetivas, problemas existenciais, traumas, baixa autoestima, entre outros, são alguns fatores desencadeantes para a necessidade compulsiva. Não obstante, esses devem ser identificados e elaborados com a finalidade do sujeito encontrar um sentido real e deixar a dependência, definitivamente, de lado.
Antes de mais nada, vamos ao significado de ambas. "Vida louca" é uma expressão usada para definir uma vida intensa, repleta de tarefas, obrigações para serem realizadas, agitada, com preocupações e obstáculos. Por outro lado, "vida loka" é ter uma existência sem regras, limites, cheia de aventuras e perigos, muitas vezes, implicando bandidagem.
Quando somos crianças, evidentemente, não temos um alcance maior diante dos fatos. A ingenuidade excessiva mascara ou impede visões e prognósticos acerca dos que nos rodeiam. Sem dúvida, gradativamente, isso é alterado. Quando o grande marco chega, intitulado de adolescência, a criticidade aumenta. Com ela, vamos observando uma panorâmica do que alguns apresentam. Em certos casos, ficamos horrorizados. O território onde tudo é possível é criado. As dificuldades da "vida louca" são solucionadas, magicamente, com uma "vida loka". Transgressões das mais variadas ordens, impulsos obedecidos cegamente, vão de encontro a tudo aquilo que imaginamos como "normal". O outro, parece simplesmente não existir. Nesse recorte, entram as drogas como instrumentos facilitadores para que o todo seja transformado num "jardim de rosas". &Aacu te;lcool, maconha, cocaína, etc., são o "passaporte natural" para as referidas flores. Não raro, atitudes delinquenciais simples ou graves são apresentadas. Desse modo, a vida segue. Quando temos essas percepções em relação aos que nos cercam nos questionamos profundamente. Fase? Nem sempre. Tudo isso que é visível de modo negativo passará? Depende.
No meio artístico, temos vários exemplos que implicam enormes antagonismos. O auge do sucesso contrastando com o fracasso absoluto. A alegria desmedida com a depressão profunda. O que parecia perfeito, invejável, de um segundo para outro, mostra toda uma realidade crua, nua e sombria. Vida e morte. Como dizia o "vida loka" Cazuza, "heróis" que morreram de overdose. Assim, a faceta adormecida é revelada, gerando novos questionamentos.
No mundo "comum", observamos na essência, as mesmas consequências. Salvo raríssimas exceções, longitudinalmente, os comportamentos são repetidos. Destarte, a sedutora "vida loka" continuará para sempre. O princípio do prazer, que nos isenta das vicissitudes apresentadas, tem uma força gigantesca. O "berço esplêndido" é fantástico. Não estar "nem aí" para tudo aquilo que o mundo apresenta ou impõe, desperta profundo interesse e, inquestionavelmente, é algo cômodo. Porém, como é sabido, todo bônus implica num ônus. O que hoje é uma maravilha escancarada, amanhã ou depois, de alguma forma, cobrará a caríssima conta.
A "vida louca" requer cuidados. Planejamentos e execuções, em vários sentidos, que visem o equilíbrio indicado, são imperativos. Saúde, trabalho, finanças, amor, entre outros, implicam em saber lidar com as frustrações pertinentes. A "loka", embora encantadora, é ilusória. Além do mais, destrutiva e, geralmente, curtíssima.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.