Ricardo Farias Carvalho, é Psicólogo formado em teoria psicinalítica e suas aplicações psicoterapeuticas e com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia cognitivo e comportamental. Atende na Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 – Fones: (53) 3232-4677 e 8437-1066/8166-6324 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.
No mundo contemporâneo, a pressa, cada vez mais, se destaca. Vivemos com a desagradável sensação que tudo ou quase deve possuir uma “urgência urgentíssima”. Perdemos, sem sombra de dúvida, o sentido e a utilidade das palavras paciência e calma. No trânsito, por exemplo, basta ficarmos poucos segundos parados com o carro diante do sinal verde que, imediatamente, uma buzina reclama de maneira frenética ou “louca”. Por outro lado, um segundo não correspondido no computador é sinal de desespero. Queremos simplesmente a velocidade máxima, sendo assim, sofremos. A indústria eletrônica, embora continuamente se aproxime do desejado, é insatisfatória. Para comermos o relógio é um algoz. Aliás, não comemos, engolimos. Não há tempo. Este se tor nou artigo de luxo, algo simplesmente existente num plano teórico.
Antigamente, determinadas tarefas tinham como objetivo subjacente, treinar a paciência. Pescar, bordar, tricotar, entre outras, faziam com que o cérebro fosse acostumado com a ausência do imediato. Ainda tenho em mente a lembrança de uma jovem turca tecendo um tapete. Trabalho ou arte para poucos. Detalhe por detalhe, meses trabalhando na mesma peça. O projeto do templo católico Sagrada Família na Espanha, do arquiteto Gaudí, começou em 1882 e não se estima a sua conclusão antes de 2026. Uma prova clara e notória que “Deus não tem pressa”. Resultados fantásticos e inigualáveis.
A geração atual foi criada por pais apressados. O ritmo de vida, infelizmente, é corrosivo no que se refere às questões temporais. O sustento requer, mesmo contra vontade, uma correspondência alucinada. Certamente, se não tiveram o aprendizado, passarão para os seus filhos aquilo que receberam. Não obstante, descendentes enfrentarão novas exigências.
A saúde atual é um reflexo incontestável de que a pressa é nefasta. Estamos constantemente correndo, portanto, algum órgão ou vários, pagam o preço. A impressão que temos é de que os indivíduos andam com o “coração na boca”. Estresse. O hábito é tão profundo que condicionou as pessoas de modo negativo. O contrário, relaxar, é sinônimo de estranheza, perda de tempo, gerador de ansiedades... O “novo”, apesar de indicado, paradoxalmente, acarreta desconforto.
O imediatismo, não raro, é gerador de sentimentos de frustração e impotência. Resultados significativos, na sua grande maioria, indubitavelmente, demandam anos para serem alcançados. Destarte, o “para ontem” nem sempre corresponde ao que desejamos atingir verdadeiramente. O velho e conhecido ditado de que a pressa é inimiga da perfeição, no fundo, corresponde à realidade. Podemos atribuir a ela um “parentesco” com o nada interessante ou desaconselhável impulso. Em suma, a humanidade, extremamente apressada, no que se refere ao todo supracitado, necessita “regredir” visando alcançar uma qualidade interna mínima desejável.
Uma das coisas importantíssimas ou necessárias são as amizades. É dificílimo imaginarmos a vida isenta de amigos. Destarte, tudo indica, estaria fadada a um significativo vazio. Essas, sem sombra de dúvida, tornam-se inesgotáveis fontes de prazer, e, não raro, de ajuda. Amizade é uma espécie de transferência de partes do nosso eu para o eu do outro. Fusão.
O implacável tempo transcorre demasiadamente rápido, porém, o cérebro se encarrega de armazenar nos mínimos detalhes, acontecimentos nos quais os amigos estão envolvidos. As primeiras descobertas compartilhadas desde a infância e a sua ingenuidade pertinente, sedimentam uma longa trajetória de experiências ou vivências compartilhadas. Não obstante, começamos o aprendizado de como selecionarmos ou filtramos amigos. “Fase passaporte” para a adolescência, desabrochar de infinitas situações que contêm um brilho inusitado e fantástico. Posteriormente, o ingresso no confuso universo adulto e as suas peculiaridades. Por fim, a terceira idade e as inevitáveis separações ou perdas. Ciclo concretizado. Recortes que vão proporcionando pesos diferen tes em relação àqueles com os quais nos relacionamos. Dependendo da história pessoal, infinitos arranjos, somados às características de personalidade, fazem com que alguns marquem com maior intensidade. Sintonias difíceis de descrevermos com precisão. Entretanto, envolvem auras ou comunicações inconscientes mútuas. Interessante também assinalarmos que nem sempre um amigo obedece à sequência lógica temporal citada. Determinados, num momento inesperado, surgem simplesmente do “nada” e passam a fazer parte da nossa existência, “como se” sempre estivessem presentes. Química perfeita que põe em dúvida o “quanto” e prioriza a “qualidade”, a partir de certo ponto.
As épocas ou fatos que se destacam na vida estão diretamente ligados às emoções. Positivos ou negativos deixam marcas eternas. Muitos desses se associam às amizades. Talvez possamos pensar que uma das essências seja exatamente esta, em palavras diferenciadas, quanto mais repartirmos nossos aspectos emocionais com alguém, em proporções idênticas, se torna o vínculo. Costumo citar um provérbio chinês que diz: “só se conhece um verdadeiro amigo quando, junto com ele, se comeu num quintal de sal”. Profundo, compreensível e bem que poderia incluir “quintais de alegria”. Felicidades, mesmo momentâneas, que nos dão sensações infinitas de leveza e bem-estar. Sendo assim, o tempo torna-se uma espécie de balizador do “quando” aconteceu o turbilhão de sentimentos.
Recordar é viver. Doce clichê. Amizades e épocas são aliadas e formatam a alma. Passado, presente e futuro se entrelaçam nesta ciranda que gera sentidos existenciais. Em suma, lembranças e projeções de diversas ordens abarcam, indiscutivelmente, amigos.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.