Ricardo Farias Carvalho, é Psicólogo formado em teoria psicinalítica e suas aplicações psicoterapeuticas e com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia cognitivo e comportamental. Atende na Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 – Fones: (53) 3232-4677 e 8437-1066/8166-6324 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.
Hoje, definiria o estado em que me encontro como profundamente triste. Um dia após a tragédia ocorrida em Santa Maria, meu pensamento e coração estão bastante chocados. Tento desviar, enganar o cérebro de todas as formas, mas não consigo. Vazio na alma. Foco único.De que maneira entender paradoxos que envolvem alegria e situações deploráveis, vida e morte...
Digo constantemente que a adolescência, apesar dos problemas inerentes, é sinônimo de brilho intenso. Numinstante, em minutos, um somatório altamente infeliz afeta tragicamente e, para sempre, a existência de pessoas. Pobres pais, pobres anjos.Sendoprogenitor, me coloco no lugar daqueles que perderam seus filhos. Os inúmeros conselhos dados, desde pequenos, para se protegerem contra os perigos do mundo, são vencidos por forças inconcebíveis ou inimagináveis que, defensivamente, negamos.Abruptamente, viramos um nada psíquico frenteaos fatos. Deste modo, reconhecemos a impotência diante de uma realidade implacável.
“O pior castigo para um homem é a perda de um filho”. Ao longo de vários anos, escutando pacientes, tendo acesso aos problemas ou mazelas do ser humano, tenho a convicção plena de que realmente nada, absolutamente nada, se assemelha a dor sentida. Esse tipo de sofrimento é simplesmente imensurável, inigualável e transcende qualquer hipótese que possamos levantar.
Os sobreviventes, não raro, desenvolvem um sentimento de culpa pelo fato de estarem vivos. Muitos são atormentados dia após dia, questionando tudo e todos pelos motivos de não terem partido no lugar dos seus amados. A ausência de um controle neste sentido também é algo inexplicável. Portanto, vidas são ceifadas nas suas profundezas. No verdade, não temos o que dizer. As palavras, infelizmente, no momento passam a não ter peso. Ouvir, compartilhar, rezar, são verbos indicados,objetivando atenuar a dor alheia. Mesmo quando nos sentimos impossibilitados de falar o silêncio comunica... A elaboração dos enlutados dependerá, mais do que nunca, do grande senhor intitulado “tempo”.
Fica a esperança de que toda a nossa compaixão esteja, efetivamente, associada a reformulações visando à prevenção de novos “sinistros do gênero”. Procedimentos simples que poderiam salvar inúmeras vidas caso houvesse uma maior responsabilidade ou comprometimento.
Por enquanto, temos uma única certeza de que ficaremos afetados por um bom período, quiçá, eternamente... Neste recorte de abalo ou comoção talvez devamos lembrarErnest Hemingway: "Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, toda a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fossea casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. Só me resta desejar, força para todos nós...
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Numa determinada sessão, um telefonema é dado por uma mãe avisando que seu filho, adolescente mediano, irá se atrasar. Respondo que estou aguardando a sua chegada. Faltando aproximadamente sete minutos para o término dessa, ambos chegam. Pontualmente, encerro com ela visivelmente contrariada, surpresa, “cara feia”, não fazendo nenhum comentário. O acordado no inícioparece não ter sentido ou convencer. O óbvio ou racional foi, em tese, “esquecido”. Posteriormente, numa sessãoque visa interpretar o ocorrido, se queixa,colocando que “achava” que eu iria cumprir o tempo na íntegra. Em xeque pelas colocações e interpretações feitas,diz “não ter lembrado do próximo paciente”.Circunstâncias do gênero não são raras, pelo contrário. No fundo, vão muito mais além do que um mero horário epossuem significadosgeradores de consequências.
A personalidade, depois de formatada, obedece acerto padrão. Com esta, fatos problemas encontram o mesmo tipo de resposta. No caso supracitado, irresponsabilidades eram apresentadas e avalizadas em outros aspectos pelos pais, principalmente em relação às saídas de casa, como também à escola. O jogo travado implicava num vínculo extremamente protetor ou doentio. Uma progenitora que não queria incomodações ou colocações de limites, tendo como justificativa um “amor maior” pelo descendente. Somado a isso, um pai preocupado basicamente com o sustento do lar. Certamente, a partir destas percepções, há um“cantar e reinar” de maneira absoluta. Sendo assim, através deste jogo consciente e inconsciente, o terreno fértil para as inconsequências e leviandades estava sedimentado. O semelhante parece não ter importância. O mundo de uma forma ou de outra, “magicamente”, gira em torno de um eixo egocêntrico.
Responsabilidade é algo criado na tenra infância. Situações rotineiras, dia após dia, vão formandoo que será importantíssimo para toda uma existência. Estes arranjosintrojetados, principalmente no âmbito familiar, são o grande norte para todo um desenvolvimento. Um simples olhar na dinâmica de alguém irresponsável faz com que percebamos uma totalidade que deixa a desejar. O conluio existente, na imensa maioria das vezes, é silencioso e poderoso. Modificar o funcionamento de um filho é reconhecer em si o que não vai nada bem. Resistências, oposições, tendem a minar mudanças que envolvam um “modo responsável”.
No fundo, hoje temos na sociedade contemporânea um modelo extremamente deficitário no que tange a responsabilidade. A falta dela é um dos males corrosivos para a humanidade. Não nos adianta sermos conscientes da sua lacuna e nada fazermos objetivando modificarmos a realidade circundante. Simplesmente continuamos irresponsáveis e culpados. Segundo Lacan,“Por nossa condição de sujeito somos sempre responsáveis”. Portanto, segundo ele, não há alguém sem responsabilidade...
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Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.