Ricardo Farias Carvalho, é Psicólogo formado em teoria psicinalítica e suas aplicações psicoterapeuticas e com especialização em Psicologia Clínica e Psicoterapia cognitivo e comportamental. Atende na Rua Dezenove de Fevereiro, 593/301 – Fones: (53) 3232-4677 e 8437-1066/8166-6324 – E.mail: ricardof.carvalho@uol.com.br.
Determinada noite, assistindo televisão no canal National Geographic, fiquei boquiaberto diante de um programa que abordou o caso de uma bonita jovem russa e a cirurgia pela qual optou realizar. Sem dúvida, aumentei os meus conhecimentos gerais ao saber que, particularmente na Europa, o tamanho das pernas é sinal de beleza ou sensualidade. Refleti e realmente me dei conta de que as modelos apresentam pernas longilíneas. No fundo, é o tão sonhado universo da moda e suas peculiaridades. Dado este que, digamos, não é tão observado ou valorizado na nossa cultura ou país. Pois bem, descontente com a extensão das pernas que possuía e considerando que se encontravam dentro de uma “anormalidade”, resolveu enfrentar o “traumático conjunto de intervenções reparatórias”. Primeiramente, com riscos de infecção e, até mesmo morte, entre outros, este consistiu em quebrar cada perna com uma talhadeira e martelo durante o tempo de aproximadamente dez minutos. Fragmentados os ossos, foram inseridos fios e uma parafernália de ferros foi colocada. À medida que o organismo reconstruísse um pouquinho do osso, o “aparelho” era regulado para que houvesse uma nova ruptura e, assim, sucessivamente. Quatro meses de cama, praticamente imóvel, fora os demais procedimentos no pós-operatório. Evidentemente, o custo de todo o descontentamento “com os ineficientes sapatos de salto alto” foi grandioso. Resultado: o procedimento lhe rendeu aproximadamente 04 cm de acréscimo na sua estatura.
Confesso que a referida matéria ficou atuando dentro de mim por certo tempo. Ponderei o livre arbítrio, desejo de cada um se sentir bem do seu modo, o contentamento que seria sentido, etc. Difícil. Com os questionamentos constantes e presentes me ocorreu um “link” que talvez possamos pensar a respeito. Até que ponto, grande parte das situações na vida, que são geradoras de sofrimento, não possuem a mesma essência? A “visão interna” que temos a respeito dos fatos ou circunstâncias exerce um peso exacerbado. Esse jeito de enxergar e de se comportar está diretamente ligado. O óbvio é que aquilo que para uns não é nada, para outros, é algo extremamente significativo. Na clínica, observamos exatamente isso de uma maneira frequente. Detalhes do tipo “04 cm”, muitas vezes, são fonte de um inesgotável sofrimento. O indivíduo, preso nesta pequena parcela, deixa de valorizar adequadamente todo um resto bastante positivo. Relatos e relatos são feitos a partir de aspectos, podemos dizer, “irrelevantes”. Deixam com isso de se atribuir um valor maior, de acreditar no seu enorme potencial e, consequentemente, de terem uma vida equilibrada ou feliz. A ideia da perfeição ou ideal, o desejo do respectivo controle acerca de tudo e de todos, gera pessoas insatisfeitíssimas no mundo contemporâneo.
Partindo destes princípios supracitados, como costumo dizer, o quanto é imperativo termos uma nova “hierarquia de pensamentos”, mais estável, indicada ou realista. Caso contrário, estamos fadados a sofrer ou adoecer por uns “míseros 04 cm”...
Costumo dizer, frequentemente, que viver é uma arte. Desde a gestação, nascimento, desenvolvimento e morte, passamos por infinitas adversidades que são pertinentes ao processo da existência. Buscamos de maneira incansável o que chamamos de felicidade ou ponto de equilíbrio. Damos risadas, choramos, somos correspondidos ou nos decepcionamos com relativa frequência. Instabilidades asseguradas que, muitas vezes, tocam profundamente na alma, no seu mais alto grau.
Sonhamos, ocasionalmente, com tudo aquilo que está relacionado à sensação paz. Destarte, desejamos ao máximo alcançar um estado de espírito em que os conflitos ou as inquietações estejam distantes ou ausentes. Visamos obter calma, quietude ou tranquilidade. Em certos instantes, questionamos tudo e todos achando que os revezes da vida acontecem somente com a nossa pessoa. Não raro, chegamos a acreditar numa ausência ou falta de sorte, creditada aos demais que nos cercam. Entretanto, no ímpeto, na ânsia de “eliminarmos” ou minimizarmos as ditas vicissitudes, entre inúmeras “saídas”, almejamos nos agarrar até mesmo em crenças que, diga-se de passagem, na sua grande maioria, são bastante eficientes, pois nos dão “explicações” e o conforto desejado.
Projetarmos, ou seja, colocarmos nas situações ou vínculos, expectativas, é uma tendência natural do ser humano. Consequentemente, construímos um universo mágico de quadros que beiram a perfeição. Passado um tempo, gradativamente, vamos nos dando conta de que as ditas projeções, na sua totalidade, não vão sendo correspondidas. Sofremos. A intensidade com que ocorre esse sofrimento e a forma como lidamos ou reagimos é o diferencial. Alguns, ao menor sinal de desconforto ou não correspondência, afundam significativamente. Estes ficam paralisados nas várias áreas que implicam dinamismo e flexibilidade. Outros, ao contrário, encontram nas dificuldades ou frustrações, novas respostas.
No fundo, o óbvio é que não existe um viver sem decepções. Os resultados ou experiências negativas por mais que, no momento, não consigamos encontrar uma utilidade, permeados por sentimentos contraindicados, principalmente a raiva, são interessantes. Se soubermos ou tivermos condições de processarmos o todo suficientemente bem, geralmente, o que num determinado dia representa o fim, no próximo, surge como um recomeço. Não podemos deixar de pensar e reconhecer o nosso enorme potencial no sentido de resolvermos problemas. Temos esse instrumento poderosíssimo que é o cérebro para lidarmos com as dificuldades que desafiam a nossa capacidade.
Na busca incansável das essências, arrisco a dizer que, talvez uma delas seja idealizarmos menos o mundo que nos rodeia. Encarar a vida de um modo realista, sabendo de antemão que as nuvens pretas, assim como o céu claro são efêmeros, sem sombra de dúvida, é um bom começo...
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Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.