Gostaires Gonzalez o 'escrevinhador’. Natural de Santa Vitória do Palmar, reside em Rio Grande desde 1980. Autor de dois livros realçando as memórias dos GONZALEZ. Próprio de quem não quer deixar no esquecimento uma série de relatos que esclarecem uma nesga do tempo num lugar incomum.
Em 1932, em Santa Vitória do Palmar, nasceu Eriocy Luiza Gonzalez. Uma criança que não cresceu em berço de ouro, ficou órfã nos primeiros anos. Entre os treze irmãos e irmãs incluindo os filhos da madrasta, viveu na campanha, lugar onde teve seus filhos.
Passou dificuldades que foram enfrentadas com a coragem de quem tinha objetivos e destino traçado. Entre seus erros os acertos somaram em montas. Repontou o tempo, desviou ventanias, domou feras, sem vergar-se, sem retroceder. Entre as tarefas de mãe, mulher, colona e mais tarde empresária rural. Com seus quatro filhos e os filhos agregados criou um império na força da palavra e a patas de cavalos. Depois da pobreza e reprovações o destino lhe sorriu na fortuna. Casa cheia de gente, fartura e animais em torno do pátio, coisa que sempre gostou.
Os filhos crescidos saíram para o mundo à procura de novos conhecimentos, descobertas e vivencias. Casaram-se e a família cresceu: noras e netos na seqüencia.
Responsabilidade que Deus lhe deu, com amor e dedicação, desempenhou de maneira brilhante a ordem divina em bem criar, educar e encaminhar sua prole pelo caminho do bem.
Tem coisas na vida que só a experiência é capaz de criar soluções. Com sua forma peculiar e às vezes pouco convencional de encarar o mundo, aprendemos muito. Nada nos faz mais feliz do que conhecer a vida através dos seus exemplos. Luiza minha mãe, uma mulher alegre, que contagia a todos com a sua alegria. Adora viagens e festas, lida de campo e construções, criação de pátio e plantios...
Ao longo de sua estrada, casou e divorciou-se em 1978, casou-se novamente e viuvou em 1991, em 2009 mostrou que nunca é tarde para ser feliz ao lado de outra pessoa (Artiga Pinto). O calor humano que minha mãe transmite, aproxima os parentes neste grande País inclusive gente do Uruguai.
Pessoa de atitude marcante e atos inesquecíveis. Sua historia tem me tomado algum tempo, lembranças tantas que me obrigaram a recorrer à caneta para poder dormir tranqüilo: como se fosse uma terapia.
Por tudo que tem feito e realizado, pelo sucesso e pela longevidade, do dia 18 de agosto realizamos uma grande festa para celebrar seu oitenta anos de vida.
Não existiu do mundo menino mais perverso que meu primo X.
Cada vez que íamos a sua casa no Povo Novo ele nos apresentava uma série de brejeirada que era difícil de agüentar, mas como estávamos em casa estranha a ordem era tolerar tudo.
Admito hoje, tinha o dedo da minha mãe e do meu tio e padrinho. Meu primo nos fazia ataques relâmpagos com melões estragados, enchia nossa bagagem com esterco de galinha, quebrava ovos na nossa cabeça... Era muito levado, alegre, risonho fazia com que seu jeito fosse interpretado com outro estilo de comportamento ou próprio de outro povo. Entre as lutas que tinham a intenção medir força entre os primos, o perdedor tinha as calça cheias de terra, a gosto ou contra gosto.
De um lado: peixe bonito de aquário, do outro os primos pobres dos campos rasos da imensa planície da Veneza do Sul (SVP).
Meu primo adestrado, e eu mal domado: um dia ele me fez comer na chácara tanta cenoura, que passei mal à noite com dores abdominais e vômitos. Riram da minha gulodice.
Numa ocasião pela manhã meu primo com cara de pícaro disse:
- Aposto que vocês não sobem na arvore que subirei!
Dirigiu-se para um ‘pinus’ alto e esgalhado e subiu - rápido parecia um gato.
Fui atrás com a mesma agilidade. Subiu também outros meninos filhos de visinhos de onde estávamos. Quando lá em cima meu primo, arriou as bermudas e começou a defecar desavergonhadamente.
Foi muito embaraçoso descer a ter que olhar pra cima para numa tentativa frustrada se desviar do estrume quente.
Sem falar do dia em que os sapatos novos do meu irmão que secavam a beira do fogão a lenha, foram parar no forno: quando o cheiro de sola torrada exalou, foram ver. O calçado estava crocante estrebuchado.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.