Gostaires Gonzalez o 'escrevinhador’. Natural de Santa Vitória do Palmar, reside em Rio Grande desde 1980. Autor de dois livros realçando as memórias dos GONZALEZ. Próprio de quem não quer deixar no esquecimento uma série de relatos que esclarecem uma nesga do tempo num lugar incomum.
Ao abrir meus e-mails, tive uma bela surpresa. Um amigo que não tinha contato a vinte e poucos anos me passou uma mensagem, pela passagem do dia do amigo. Foi uma surpresa maravilhosa.
No passado fomos protagonistas da empresa Magna Engenharia ao construir o canal Adutor de Rio Grande. Ali trabalhamos quatro anos, lado a lado na mesma sala no setor de projetos. Tenho boas lembranças, éramos jovens e desfrutávamos de transporte, almoço, sindicato, seguro e uma série de vantagens modernas na época.
Antenor e eu, cada um de um extremo do País, éramos estrangeiros para os Riograndinos colegas de trabalho, todos tinham de ir ao nosso setor, no escritório para ouvir nosso vocabulário adverso ao costumeiro. Isso nos tornou amigos para sempre, mas com os términos do canal, cada um tomou seu rumo. Antenor se foi para Mato Grosso com a família e eu fiquei por aqui para semente.
De imediato refleti para este tema, para ele e para quem ler esta crônica, dedico a “canção da América” de Milton Nascimento, “Amigos para sempre” de Jayne, “Paixão de um Homem” de Waldick Soriano e “Poema campeiro” de Almira Lima.
“Amigo. É como o sol pode não aparecer todos os dias, mas sabemos que ele existe.”
Você amigo pode estar longe, no meu coração estava presente.
Tenho comigo muitas horas de filmagem em fitas VHS, dos anos noventa em diante. Um dia destes estava revendo a ultima filmagem que fiz na campanha no Arroito... Daqui em diante, pularei para dentro da tela e as descrevo com recordação!
Local que trilhei décadas, terra que arei chão dos últimos cavaleiros. No campo reunindo o gado, os rebanhos de ovelhas. Pelos olhos das lentes de quem não sabia que se tratava do fim duma história. Dai em diante caminhei um passo lento, pois minha vida foi traçada em definitivo afastando-me do lombo dos cavalos.
Se você soubesse como vejo o mundo, sem o brilho da mocidade: quando entregar meus arreios ao filho do arrendatário. No meu céu um véu de tristeza e amargura, nuvens para sempre encobrem meus dias, minha vida. O que filmei realça a minha estampa e cá onde estou virado igual garrafa de gargalo pra baixo. Vazio das emoções autentica do chão da minha Terra. Extrato de recordações.
Doutras coisas que deixei: meu cão se recusou a subir no caminhão da mudança ficou para trás para ser fantasma das casas; taperas mais tarde, “Pretinho’ o terneiro graxo que se fez boi de peso, foi posto a força no boiadeiro, as galinhas levadas para os freezers. Os porcos vendidos para os granjeiros, os ovinos seguiram a carreteiras rumo a outras fazendas e os eqüinos foram levados e soltos a costa da Lagoa Mirim, terras sem dono.
Há muita tristeza da ultima ceia de quem se despede da fazenda.
Deixei a autenticidade e, na cidade ser peão da construção e garoto de recados. Saudoso dos mugidos, do cheiro do esterco nos currais, da terra cruzada às plantinhas de milho crescendo enfileiradas.
Minha vida teve um retrocesso e então peguei uma caneta e me pus a escrever, para mim a principio e, agora edito, para que saibam da vida que tive na plenitude das pastagens, dos matos, dos ananás, das lagoas – na natureza dos pampas ao minuano - dos temporais as seca - da sombra intensa dos eucaliptos a aba do chapéu – Ao cair da tarde foi triste entregar a chave.
Entreguei a chave da fazenda. O sol estava a minha frente, ofuscava a visão ao olhar para trás a copa das arvores que diminuíam no retrovisor.
Por ultimo.
O gaucho desceu do pingo, e de jipe foi-se para a cidade.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.