Gostaires Gonzalez o 'escrevinhador’. Natural de Santa Vitória do Palmar, reside em Rio Grande desde 1980. Autor de dois livros realçando as memórias dos GONZALEZ. Próprio de quem não quer deixar no esquecimento uma série de relatos que esclarecem uma nesga do tempo num lugar incomum.
Onde nasci, todo mundo que precisasse de aterro ou areia para a construção, buscava na costa da Lagoa Mirim. A areia grossa comprada de Pelotas tinha um valor elevado devido ao transporte, distância e precariedade da estrada em alguns trechos, somada a interdição da ponte Léo Guedes, para cargas consideradas excessivas. O tráfego cada vez mais pesado para o rápido escoamento da soja para o Porto de Rio Grande acabou por ultrapassar em muito a tonelagem por eixo das cargas.
Alison e seu amigo costumavam ir a Lagoa Mirim para carregar areia nos reboques, que por sua vez era puxado por um trator e levados à cidade. Entre uma carga e outra os meninos iam tomar banho na praia uns trezentos metros das dunas.
A praia da Mirim era uma maravilha. Ali eles aprenderam a nadar e curtir o sol, o vento, a paisagem dos matos no outro lado no Uruguai. Trapiche e barcos, areia fofa e fina, branca com conchinhas pequenas. Um calmante para os pés agitados da molecada contrastando com a roseta das pastagens, uma aventura macia somadas às águas claras e doces.
O tempo passava depressa e os meninos cresciam se não de tamanho, de impulsos proezas e rebeldia. Naquele ano de 1974, foram tantas as viagens, que se colocadas lado a lado num monte só, originaria uma montanha piramidal. Os meninos treinados no oficio o faziam com habilidade e rapidez, pois ao findar e, entre uma carga e outra ir para as águas que muitas vezes agitada fria e com buracos. Por ser a jazida perto dum canal de recalque para o plantio de arroz.
Um dia de vento e ondas sacudidas, os meninos com a água pela cintura, curtiam aquele momento, dando piruetas e mergulhando, quando que de repente Alisou perguntou para o amigo se ele já havia sentido alguma vez um fisgar no peito. O amigo respondeu que não, nunca e mergulhou.
Quando voltou, Alison não estava por ali. O amigo olhou, gritou e saiu da água, avisou a alguns transeuntes do ocorrido e não foi bem interpretado. Com a decorrência da aflição e desespero das abordagens a notícia correu e, algumas pessoas providenciaram o comparecimento dos bombeiros, na época não possuía telefone a exemplo de hoje.
Passados algumas horas um barqueiro que insistiu na busca encontrou o corpo de Alison semiflutuando.
Foi quando o amigo de Alison, amigo meu também, em sua inocência ficou contente ao ver o corpo da Alison chegando à embarcação, assim me contaram tempos depois. Enquanto isso eu chegava com o tratorista para reforçar a coluna dos carregadores de areia. Sem saber do alvoroço daquelas pessoas a beira d’água e pensando se tratar dum treinamento da brigada de incêndio que era costumeiro. Chegamos lentamente e percebemos que se tratava de afogamento, pelo que as poucas dúzias de pessoas presentes comentavam. O golpe pior veio depois ao saber que era um dos nossos.
Naquele momento o caminhão dos bombeiros rumava para a cidade com os meninos.
Eu soube que haviam encontrado um dos meus colegas. Sai à procura do outro a passos, sem perder os olhos da linha da lagoa na esperança de encontrar qualquer ser saindo das águas e que me dissesse que tudo aquilo era mentira.
Tenho vivido parte da minha vida dentro de construções; às vezes administrando, outras executando.
Repontando uma classe de pessoas normalmente pouco profissionais, de entendimento limitado, por terem pouco estudo, às vezes não são qualificados.
Estávamos numa residência para fazer uma reforma de uns cômodos. Meus companheiros de jornada, acostumados à minha maneira, sabem com é a lida.
Na segunda-feira pela manhã encostei as ferramentas e meus amigos chegaram. Depois de uma breve conversa, começamos o serviço.
Uma reforma é como trocar a roupa, um banho sempre é recomendado.
Na construção desmontam-se as portas, rodapés, raspar, emassar, lixar e por último a pintura.
A seguir, papel de parede, tampas das tomadas, aplicação dos rodapés, guarnições, fechaduras. É diferente das construções: é mais demorada e requer conhecimento.
Ricardo meu imediato para compras, faxinas, amoxorife, andava estranho com um comportamento duvidoso. Risadinhas, assoviando e chegando atrasado.
Estou sempre de olho em tudo e comecei a observar o sujeito.
Na terça, Ricardo andava falando em fundo de garantia, auxilio desemprego, etc, etc.
Na quarta feira, quando às 09h30min horas estávamos no café; uma parada obrigatória dos operários, Ricardo passou no ambiente, todo perfumado mais que qualquer flor.
Ela havia mexido num cesto onde estavam os perfumes e objetos da casa.
Levantei de onde estava.
Fui a trás e demiti o rapaz.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.