Prof. Nerino Dionello Piotto
Articulista Econômico - Empresário ramo imobiliário - Aposentado do Banco Central do Brasil.
Um grupo de pesquisadores da área de psicologia social da Universidade de Stanford, EEUU, há alguns anos, comprovou uma teoria – mediante experiências de campo - que um vidro quebrado, uma janela partida, pode acionar um gatilho de barbárie coletiva.
Provou-se que não é a pobreza que determina, p. ex., a corrupção, o vandalismo, o jogar lixo nas ruas.... Mas fatores que tem a ver com a psicologia humana e com fatores sociais. Baseados em experiências de campo, foi desenvolvida a ‘Teoria das Janelas Partidas’, que conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores. Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, rapidamente serão partidos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.
Pois é...chegamos, como de praxe, no Cassino, após meses girando o mundo e vivendo também no Rio de Janeiro. O susto não foi maior em razão das notícias que vínhamos recebendo sobre um rosário de problemas que assolam nosso lindo e tão judiado bairro balneário. Gente sem poder sair de casa em dias de chuva, atolando carros nas ruas, lixo descartado em lugares impróprios, cães errantes, valas entupidas...em quantidade inimaginável e incompreensível. Qual(is) o(s) “porquê(s)” de tantas mazelas?
Entendo que a teoria das Janelas Partidas nos faz entender as razões de tanta barbárie. Não é só no Cassino. Na área do entorno da hidráulica, ao final da rua General Abreu, há um problema crônico de descarte de lixo e entulhos de obras – emblemático – que se encaixa como uma luva na teoria das Janelas Partidas. Como a Prefeitura não limpa, as pessoas descartam de tudo. Colchões, cadeiras, entulhos....
O processo é complexo. Mas é certo que: Se se cometem ‘pequenas faltas’, como soe acontecer no Cassino, (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade, abandonar entulhos nas valas e vias ) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e delitos cada vez mais graves. Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas, estes mesmos espaços são progressivamente ocupados pelos delinquentes. A Teoria das Janelas Partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: lixo jogado no chão das estações, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro. Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de ‘Tolerância Zero’. A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York. A expressão ‘Tolerância Zero’ soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana. Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja em nosso bairro, na rua onde vivemos. A tolerância zero colocou Nova York na lista das cidades seguras.
Esta teoria pode também explicar o que acontece no Brasil com corrupção, impunidade, amoralidade, criminalidade, vandalismo, etc. Vamos refletir sobre isso?
Economista*
No final da década de 60, quando fui designado para servir em Santa Vitória do Palmar, no Banco do Brasil, não era incomum gastar-se uma hora para percorrer 100 km e mais 10 horas para se percorrer os outros 100 quilômetros. Era a chamada estrada do inferno. Tanto que, residentes naquela linda banda do Brasil eram mais chegados ao Uruguai do que ao Brasil. Era mais tranqüilo ir para Punta Del Este nos finais de semana do que para Rio Grande.
O mundo mudou, o Brasil progrediu em várias áreas. Mas, na de estradas, infelizmente, ou por falta de planejamento eficaz, ou por incompetência, ou pelos dois, ou por sabe-se lá o porquê ( todos sabemos ) , menos por falta de dinheiro, ainda temos pelo Brasil estradas do inferno ou da morte, como no caso da BR 392. Esta semana rodei pela BR 101 ( Rio x Santos ). Um horror! Buracos, sinalização precária, consertos visivelmente mal feitos...mas a propaganda, um primor. Parece que se vai, via estrada, para o céu. Alíás, , se o motorista se descuidar, vai mesmo!
Da mesma forma sobre o trecho chamado de lote 4 da BR 392. Propaganda, dez!
Difícil compreender. Irresignado com o fato de, em julho deste ano, ter ficado literalmente preso por mais de três horas em um brutal engarrafamento na estrada da morte ( BR 392), decidi pesquisar e descobri que, apesar dos alertas e do registro de inúmeras mortes e mutilações por acidentes no trecho, o governo federal não começou – embora tecnicamente óbvio - a duplicação da BR392 pela área do Distrito Industrial porque – certamente – tinha outras prioridades além do valor da vida das pessoas e sofrimentos.
O município de Rio Grande não se omitiu, ao contrário, avisou às autoridades federais com veemência sobre o problema. Ressalte-se: em tempo hábil!
O Prefeito da cidade, na época Fábio Branco, em 2009, pediu urgência na duplicação da BR 392 na área do Distrito Industrial.
Enviou ofício ao Ministro dos Transportes solicitando atenção especial à duplicação da BR 392, especialmente no trecho de acesso aos terminais privados do Superporto, no Distrito Industrial, na Barra. Alertou o então prefeito para os efeitos da consolidação do pólo naval, que já, à época, apresentava forte aumento no fluxo de veículos. “É inquestionável que, neste momento, por concentrar um maior fluxo de veículos, o trecho em questão ( lote 4 ) tornou-se o mais crítico da BR 392, merecendo atenção especial”, ressaltou o então Prefeito Fábio Branco. O lote 4, para se ter uma idéia, é constituído de pequeno trecho. Vai do km zero, na área do Porto Novo e o 9,2, na estrada BR-604.
Quem será responsabilizado pelas mortes e mutilações ali ocorridas?
Pensem nisso!
Economista*
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.