Prof. Nerino Dionello Piotto
Articulista Econômico - Empresário ramo imobiliário - Aposentado do Banco Central do Brasil.
Não atravessamos um bom momento. As agências de avaliação de risco sinalizam uma redução da nota dada ao Brasil. Estão de olho na inflação, no baixo crescimento e notadamente da degeneração do quadro fiscal brasileiro, que a contabilidade chamada de “criativa”, a meu ver delituosa, já não consegue mais esconder.
A revista “The Economist” tem demonstrado um pessimismo com o Brasil. Será que os ingleses há 4 anos ( quando publicaram uma capa da revista com o Cristo Redentor saindo da terra como um foguete rumo aos céus ) e agora ( publicaram outra com o mesmo Cristo caindo, como um foguete desgovernado ), estão achando que o Brasil estragou tudo?
Não só os ingleses, mas a maioria dos analistas econômicos mundiais estão achando o mesmo.
Ah! Ninguém dá bola para o que diz a “The Economist”, poderão dizer. Mas....os investidores dão. E isto traz insegurança e medo. E leva os leilões de privatização ( excelente caminho escolhido ) para um corner complicado.
Os fundamentos básicos que levaram os editores da revista inglesa a darem um giro de 360 graus na avaliação são incontestáveis. EX: Enquanto o Brasil investe 1,8% do PIB em infraestrutura o resto do mundo gasta, em média, 3,8%. É um pé de barro! Os produtores de soja de Mato Grosso gastam 25% do valor da carga para transportá-la até o porto e os agricultores de Iowa, EEUU, gastam apenas 9%. Ela lembra que o nosso sistema de pensões tem um potencial para sérios desequilíbrios futuros. EX: se uma jovem de 20 anos casar com um sessentão, quando ficar viúva, embora tenha força para trabalhar, poderá receber uma pensão integral pelo resto da vida. As pensões no Brasil já consomem 3% do PIB, enquanto que a OCDE ( países desenvolvidos pertencentes à Organização para Cooperação do Desenvolvimento ) gastam menos de 1%. E...esqueceram que a produtividade do trabalhador brasileiro equivale a 19% ( 1/5) da do americano do norte. E que nos últimos 10 anos não se moveu um centésimo para melhorar. O fato é: Ninguém está a fim de encarar a realidade!.
Agora, o Governo cria a “Pré-sal S/A”. Vai ser um encosto ( no sentido do espiritismo ), alerta o ex-ministro Delfim Neto. Quem vai querer ser sócio de uma empresa que não vai pôr um tostão no capital e tem direito a voto, diz ele? E vai ainda mais longe: afirma que até a Petrobrás vai se arrepender da nova estatal criada para administrar a exploração do pré-sal.
O Brasil precisa crescer acima de 3% ao ano. Mas não com o aumento dos gastos públicos, como o governo tem feito. Isto não é sustentável!
Lamentavelmente, estamos perdendo o brilho.
Economista*
Fiquei surpreso ao ler, na imprensa, sobre o pedido do MP de afastamento de dirigentes da Sta. Casa. E tranqüilo com as decisões da MM. Juíza Fernanda Duquia Araújo.
O MP cumpre seu papel. Tenho, há anos, escrito, sobre o imprescindível trabalho desses abnegados e competentes profissionais. O Brasil avançou no direito da garantia de uma série de direitos individuais, com a criação das Defensorias e Ministérios Públicos. Mas...a desigualdade persiste, ainda que a Constituição se preocupe com a igualdade. É a realidade!
Acompanho de perto há mais de uma década os resultados da gestão da Sta. Casa. Conheço Ênio Fernandes há cinco décadas e ponho minhas duas mãos no fogo por ele. Tive empregados e parentes que usaram os serviços do SUS via Sta. Casa. Dois atendidos em situações graves, com pleno êxito. Queixas? Sim, da forte demanda por serviços. Mas...culpa de quem? Da Sta. Casa não é! A Sta. Casa vem, graças ao seu modo de operação , cobrindo lacunas e feridas enormes e ainda alcançando níveis elevados na qualidade dos serviços, o que tem sido motivo de orgulho aos papareias. Pelo que conheço de Brasil, no meio do caos da Saúde, o HU e a Sta. Casa, no atendimento de pacientes do SUS, ainda são ilhas de excelência. Mais: R$66 milhões de reais anuais é pouco para fazer o que a Sta. Casa faz.
Pensei muito antes de escrever este artigo. Busquei informações. E, como economista, me abasteço nos fundamentos da ciência. Em economia, há uma lei, a da utilidade marginal decrescente . O conceito de utilidade marginal é essencial para se entender as ações humanas. Demonstrada por Carl Menger ( 1840 – 1921 ) é irrefutavelmente verdadeira. É a utilidade trazida por aumentos na quantidade de bens, pelo usufruto de um bem adicional. A Sta. Casa, com seus projetos, age, a meu ver e no de muitos papareias, e sob a ótica dos fundamentos da economia, com maestria. E, ressalte-se, como colocado pelo MP, sem indícios de desvios de recursos.
Entendo, como muitos, que o MP poderia, para o bem social, reexaminar seu pedido, vis-à-vis as causas geradoras das denúncias, motivadas talvez pelo brutal crescimento na demanda por serviços de saúde em Rio Grande e pelo anseio de garantir um direito constitucional, legítimo, e quiçá até por interesses corporativistas. Como disse o Dr. Adib Jatene, ex-ministro da Saúde, o objetivo da medicina, hoje, está conturbado. Quem sabe, através de instrumentos , como os TACs, não se teria uma solução menos traumática e drástica?
Nossas instituições estão atuantes! Isto é ótimo para Rio Grande! Mas...a meu ver e sentir está havendo um tsunami que pode ser domado e quiçá sua força revertida em benefício do povo. A virtude, que dizem estar no centro, penso, deve ser exaustivamente perseguida. O povo não pode correr o risco de pagar de novo – seria cruel – os custos emocionais e dolorosos já pagos no caso Beneficência Portuguesa.
Vamos pensar nisso?
Economista*
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.