Prof. Nerino Dionello Piotto
Articulista Econômico - Empresário ramo imobiliário - Aposentado do Banco Central do Brasil.
O que estamos assistindo, nos debates políticos, é um teatro de péssima qualidade.
O compositor Jorge Mautner nos lembra que foram as máscaras do teatro, na Grécia, que inventaram a democracia. E que na ágora grega não havia direitos humanos....mas hoje estamos a serviço da coletividade. Será?
Os políticos se submetem às ordens dos marqueteiros e o resultado é uma retórica que afronta nossa capacidade de análise.
Itamar Franco, na sua franqueza, acertou na mosca ao recomendar Serra para ser “ele mesmo”. Lula, dias atrás, havia conclamado Dilma a expor mais a sua verdade interior e afastar-se do marketing.
Alguns políticos, raros, estão se dando conta de que o discurso comum da política atrapalha uma única intenção: a segunda intenção. Diz-se uma coisa mas pensa-se outra.
A retórica do político – no geral - não está ligada à verdade, mas unicamente ao PODER. A serviço dos meios para alcançá-lo.
Pena! Por essas e outras as propostas do novo PV, a partir do furacão Marina, passaram a ser vistas com eletrizantes alegria e esperança . O partido transformou-se, apareceu. Libertou-se da âncora de temas herméticos e abriu-se para o encantamento geral de quem teve o privilégio – lamentavelmente uma parte ainda pequena de nossa população - de uma educação que nos permita ler e entender o que está escrito. E assim decidir melhor.
Longe dos marqueteiros, o PV tocou nas feridas expostas que o governo Lula em oito anos só botou panos quentes: ORÇAMENTO – propôs transparência de informações; EDUCAÇÃO – cravou proposta prática de colocar 7% do PIB como investimento; SEGURANÇA – dedicação exclusiva dos profissionais; SANEAMENTO – alcançar a cobertura de 75% dos domicílios com acesso à rede e 50% com tratamento de esgoto coletado, até 2014; CÓDIGO FLORESTAL – veto à anistia que o governo quer dar aos desmatadores; GASTO PÚBLICO – limitar à metade do crescimento do PIB os gastos; RELAÇÕES EXTERNAS – política orientada à promoção da paz, liberdade, democracia e respeito aos direitos humanos.
Dados nos mostram uma realidade cruel de políticas erráticas: segundo estudos do IPEA, a taxa de desemprego, de 2004 para cá cresceu entre os mais pobres ( subiu de 20% para 26% ) e caiu para os mais ricos ( de 4% para 1,4% ). A parcela mais pobre da população desempregada não foi beneficiada pela reativação do mercado de trabalho. O que aparece nos jornais é que o desemprego total caiu de 11,4% para 6,7%, o que é verdade. Mas...meia verdade. Pensem nisso! E fiquem atentos às propostas dos candidatos!
Economista*
Cerca de 135 milhões de brasileiros decidiram que preferem um gerente – Dilma ou Serra - a um estadista , Marina Silva, para administrar a realidade. Lula demonstrou ser um fenômeno incomum capaz de administrar um país virtual com rara e ímpar competência.
Ótimo de gogó, conhecedor da alma do povo e com uma escora de marketing oficial de causar espanto conseguiu a façanha de ser o presidente mais bem avaliado de nossa história. No virtual, nota dez!
Ocorre que, no Brasil real sinais amarelos e vermelhos se acendem e sirenes soam dando o alerta: a deterioração do déficit em conta-corrente indica que a expansão do gasto no Brasil é mais rápida do que a expansão da produção. O sintoma é claro e os efeitos evidentes: real valorizado, desestimulando atividades exportadoras, para liberar recursos produtivos para atender ao “boom” do consumo. As condições fiscais e a política financeira do setor público são expansionistas. E isto vai causar um estrago danado a longo prazo nas perspectivas de crescimento de nosso país.
Somos gigantes em agricultura, em mineração, notáveis na fabricação de aeronaves e navios e plataformas para exploração de petróleo. Há uma atividade industrial vasta que deveria gerar uma presença maior do Brasil no mercado internacional.
O futuro gerente vai ter de encarar além desses abacaxis os problemas internos que serão herdados de Lula:na educação, tema quase não debatido na campanha do primeiro turno, o quadro é desalentador - 29,3 milhões = 20,3% do total são analfabetos funcionais . Só ¼ dos brasileiros dominam a matemática e a leitura. No saneamento, outra tragédia, definida por Gabeira como o “fracasso de minha geração” = 56% das residências convivem com esgoto sem tratamento. O país andou como caranguejo na infraestrutura. Quem usa aeroporto, estrada, ferrovia e porto sabe do que falamos.
Lula, no início, foi muito cuidadoso com o setor privado. Agora, quem sabe pensando que sabe muito, está menos cuidadoso e mais ideológico. Pena!
Dilma ou Serra terão de encarar ainda a baixa taxa de poupança, a bomba relógio do sistema de previdência, que corre o risco de não ter dinheiro para bancar as futuras aposentadorias e um sistema tributário não funcional e caótico.
É, a responsabilidade do gerente será grande. Se escolhermos mal, a conta será em nós espetada.
Vamos pensar bem nisso?
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.