Guilem Rodrigues da Silva -Correspondente da Escandinávia.
Riograndino, Capitão de Corveta da Marinha do Brasil, vive na Suécia desde 1966, onde é Juiz Leigo. Escritor, tradutor e poeta em 5 línguas, pertence a várias Academias de Letras e é Comendador da Ordem de Silva Paes.
A viagem à Lisboa foi calma e agradável, sem aquelas sacudidelas turbulentas que me provocam um medo instintivo e me fazem prometer a mim mesmo ser essa a última viagem de avião da minha vida. Duas horas de espera no aeroporto da Portela e em seguida o trajeto ao avião que me levaria à Copenhague. Logo à entrada do avião deparei-me com um conflito que ameaçava ganhar proporções policiais. Tratava-se de um passageiro que havia tomado uns tragos a mais e insistia em viajar na executiva com sua passagem econômica. Por seu linguajar percebi que se tratava de um sueco que não conseguia fazer-se entender pelo comissário de bordo da TAP. Pensando em evitar atrasos na decolagem dirigi-me ao súdito de S.M. Gustavo XVI e disse-lhe em sueco que os portugueses estavam pensando seriamente em chamar a polícia e que se ele pretendia chegar à sua casa nesse dia o melhor seria pedir desculpas e procurar sua poltrona na classe econômica e por esta vez esquecer a executiva. Consegui convencê-lo depois de, a seu pedido, ensinar-lhe como se pede desculpas em português. O Comissário-chefe ficou tão impressionado com o desfecho amigável que o conflito tomara que me prometeu uma surpresa como agradecimento. Já em pleno vôo, meio sonolento, ouço a voz do Comissário, um português simpático dos seus cinquenta anos, dizendo-me que o Comandante como agradecimento me convidava para apreciar a aterrisagem no aeroporto de Copenhague comodamente sentado na cabine de comando ou seja, no cockpit. Fiquei naturalmente surpreendido e ao mesmo tempo muito contente por essa oportunidade única de ”participar” de uma aterrisagem.
Copenhague delineava-se aos nossos pés e num giro elegante apontamos o nariz da aeronave para a pista de aterrisagem pousando suavemente em solo dinamarquês. Foi algo indescritível ouvir a explicação do piloto e às vezes do copiloto sobre os diversos controles que fazem parte dessas fantásticas máquinas de voar, tais como o piloto-automático ou os estabilizadores de vôo, de altitude e de pouso.
Logo ao deixar o aeroporto dei-me conta da diferença de temperatura, havia saído do Rio Grande em pleno verão e depois de um dia e meio eis-me tiritando de frio num fim de inverno escandinavo. Em minha casa, em Lund, esperava-me uma enorme pilha de correspondência acumulada durante dois meses de ausência. As notícias eram muitas e variadas e um ou outro processo para ser julgado dentro de alguns dias
A União Europeia em febril negociação afim de solucionar a grave crise econômica em que se encontra a Grécia e a Suécia ameaçada de sanções econômicas por uma Turquia irritadíssima pela decisão do Parlamento Sueco de considerar como genocídio, a morte de um milhão de assírios, caldeus e armênios perpetrada pelos turcos na segunda década do século passado. Os turcos chamaram à Ancara seu embaixador de Estocolmo para, como se diz em linguagem diplomática, consulta e informação. Por outro lado não convém aos turcos criar nenhum conflito duradouro com um dos poucos países europeus que apoiam a entrada da Turquia para a UE. Na verdade somente uma pequena parte da Turquia faz parte da Europa, a enorme maioria de seu território pertence à Ásia e países como a França e a Alemanha não vêem com bons olhos a entrada de 80 milhões de muçulmanos para uma Europa cristã…
Neste momento em que escrevo, desde minha janela, vejo a neve derreter-se ao sol tímido deste começo de primavera e um ou outro pássaro mais atrevido comendo as migalhas de pão que costumo deixar no jardim.
Comendador
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Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.