Éramos uma equipe grande de operários, todos selecionados para desempenhar uma tarefa, num tempo reduzido. Transformar um apartamento antigo em um consultório novinho, na Rua Marechal Floriano.
Como formiguinhas todos carregados de materiais, entrando e saindo com entulhos, instruídos com antecedência, cada qual na sua missão.
Enquanto Mauro desmontava o banheiro velho e removia a pedra do balcão, no sifão da cuba, achou uma pulseira dourada. Não imaginava que originaria esta história, com um fim surpreendente.
Mauro veio até mim e a entregou. Achei inesperado, como líder, dei a ordem dele mesmo entregar o objeto à proprietária da obra.
Bem. No outro dia como era de costume a “Dona” chegou. Mauro segurando o objeto reluzente pela ponta, procedeu à entrega, dizendo:
-“Esta pulseira é sua? A encontrei no interior do sifão do banheiro grande”.
A “Dona” colocou as mãos na cabeça e depois no rosto, ficou vermelha e parecia atormentada enquanto comentava não ser possível.
Depois de alguns instantes, disse:
-Essa pulseira eu dei ao meu esposo pela passagem da “bodas de ouro” do nosso casamento. Há um ano, estava em cima da pia, quando sumiu. Eu mesma acusei uma empregada de roubo e a despedi. Mereço uma punição pelo que fiz!
Visivelmente envergonhada naquele dia saiu da obra mais cedo.
No dia seguinte a “Dona” apareceu no local com a dita empregada, houve um silêncio e as duas foram para o banheiro com vários de nós juntos. A Dona explanou o episódio, pediu desculpas e ofereceu o emprego de volta a doméstica.
A doméstica emocionada, sem nada dizer abraçou o Mauro que ali estava.
Eu do alto do meu posto entendi a mensagem.
Mauro muito mais que honestidade, foi a salvação da honra de Ivete.
Nunca ouvi dizer: que as pessoas necessitavam cuidar dos dentes.
Meu irmão em 1966, já apresentava quadros de dor e infeccões nos dentes. Parecia ser normal. Nas crianças era aplicadas bochechas de chás e um pano amarrado entorno da cabeça por baixo do queixo, enquanto que os adulto continuavam mateando e comendo petiscos com suas próteses dentárias.
Aquele quadro de queixume, não passava de uma provação, para os pais que não se desencilhavam da rotina campeira sem a parafernália moderna de utensílio do lar.
Meu irmão num ato corajoso foi pra cidade achar uma solução menos dramática. Com a bochecha gorda, boca no lado, por dentro toda cortada das drogas caseira para quebrar os dentes de uma vez.
Todas as semanas nos dias favoráveis ou que houvesse dentista disponível lá estava, nas filas do INPS para segurar uma consulta. As filas eram longas e tinham, inicio no dia anterior: quer dizer durava a noite toda.
Na seqüência chegou a minha vez.
Lembro que era muito desconfortável dormir na rua, sentado no chão, tendo em volta um bando de desconhecidos, uns dorminhocos outros revoltados com a situação. Com exceção de dois dentes salvei os outros, senti a força da troquês na boca se indo os dentes num fio de baba sem anestésico.
Chegava a época em que o povo acordava para a averiguação da saúde, para a higiene das orelhas e ouvidos, da boca, dos dentes, das unhas e pés. Das pragas, as pulgas e verminoses, na limpeza do entorno das casas e construção de ?patentes?. Pelo menos é o que acontecia lá onde morava!
Será que isso aconteceu somente comigo?
Não aconteceu a mais alguém?
Percebe-se hoje uma mudança generalizada: nunca vi tanta gente usando óculos!
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.