Campeiro

Ontem deu tudo errado. Morreu uma vaca na valeta, o porco derrubou o balde do leite, o cavalo fugiu do piquete.

Minha china está na cidade, não a vejo há um mês.

Ah, hoje faltou pilha no rádio, "remédio pros ratos" e qualho.

A erva-mate "tá" na raspa, tem "gajeta", arroz e carne seca. O patrão não mandou nem um vintém e as moscas do chifre estão deixando o gado louco.

Estou aluado, mal dos cascos e resolvi ir até o boteco para tomar um trago.

Pegarei a maleta e pela "beiradita" da estrada irei "devagarito" medindo o tempo "prá" passar no visinho já "noitinha". Para que ninguém me veja.

O boteco e cantina do Candinho têm um clima prazeroso, aroma de defumados, tabaco e queijos que vem da caixa de mantimentos. A luz de lampião a gás, música de 'Amado Batista e Ledesma' faz um clima do gaúcho na carraspana.

Quem sabe jogo um truco, uma taba ou arrisco um "troco" num galo. Se a noite corre linda e a Fafá lá estiver, largo um olho. Quem sabe ele pega na linha.

Fafá é solteira, meia idade, irmã da mulher do Candinho. Buenaça. Bebe no bico da garrafa. Se a gente paga, fuma lançando fumaça "por" alto, de pernas cruzada e tem plano pra qualquer homem. Se a sorte me sorrir, jogo e ganho um dinheiro, arrasto a fulana por mato ou encho a cara.

Cá as sós penso, enquanto as noites longas.

Bah! Hoje é quinta-feira e o boteco abre a noite, só aos sábados.

- Vida triste um homem leva no campo, sem luz elétrica e ainda por cima a china "embesta" levar os filhos "pra" estudar na cidade!

Sou peão predestinado à vida urbana!

Recapitulando

Li com atenção, o livro "MIO NONO". Ao meu entender um retrato de carinho e amor aos ancestrais, dando-lhes prêmio por merecimento à sua passagem neste mundo.

-Justo!

Ao ler, estive atento a prosa cotidiana do autor, num linguajar dócil de fácil entendimento. Vi em suas palavras desembaraço de quem tem presença de espírito e alma de menino.

Em se tratando de Luiz Paulo Leonetti da Silva patriado em Pelotas, um santavitoriense igual a mim. Em suas saudosas palavras, "baú de recordações", inquieto na caixa do peito, declara o amor a seus avôs.

Senti o apreço que ele dedica a sua Terra berço e ao Povo da "Itália dos Palmares", da extremadura brasílica, molhes da Barra do Chuí de Péricles Azambuja e do Guerreiro da Liberdade de Anselmo F. Amaral.

O escritor Luiz Paulo Leonetti, meu amigo, neste mundo há mais tempo que eu, sou plenos sentidos a vossa pessoa. Pressinto que a longevidade nos dá conhecimento e desenvoltura. Por isso admiro a homenagem a Gaspar Leonetti, Emilia, Iça Silva e sua esposa..., (Mio nono), um registro precioso.

De suas palavras, das entrelinhas, tirei prá mim essências, como quem aprecia um delicioso licor, um perfume, um aceno, um beijo...

No dia 12 de novembro deste ano, Luiz Paulo Leonetti e eu, estivemos em Santa Vitória do Palmar (la nostra terra), a convite do senhor prefeito Eduardo Correa Morrone, a secretária de educação professora Léia Feijó e a professora Siglía. Pela passagem da magnífica VI Feira de Incentivo à Leitura. Nesse momento fomos agraciados com o troféu "Literatas da Terra 2011"

Sem a força de liderança presente da nossa "Terra do Palmar", não seria possível tal evento. Portanto agradeço a atenção, amizade e o carinho dedicado a todos que "escrevem".

A cidade nos pôs ao alcance da "Santa Vitória do conhecer".

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