Santa Vitória é terra "pindorama e Santa Fé".
Santa fé é o nome de uma Gramínea de folhas longas e finas com gumes afiadas, muito usadas para cobrir casas e galpões no meio rural, lindos quiosques à beira mar e em condomínios.
Crescido no campo, aprendi a lida forçosamente por uma questão de sobrevivência. Lá o serviço começava cedo e não tinha hora para terminar.
Mudou com o tempo!
Claro!
Os sindicatos chegaram ao campo ditando regras na década de 80 e eu ainda o freqüentava intensamente.
Bah! Tem que conhecer a diferença para traçar um perfil. Atualmente o campo oferece ótimos empregos com moradia aconchegante, entretenimento, feriados, férias, deslocamento..., com serviço saudável, bem remunerado e longe desta vida de labirinto no trânsito, sons excessivos, e "aperta mentos" nas cidades.
Outrora os engenheiros agrônomos, agrícolas e veterinários faziam estágios no meio rural.
Lembro que na mesma época referida, lá estava Alberes, estagiando numa granja de arroz, e se alojava em minha casa, á oitenta kilometros da cidade.
Certo dia, fomos para um baixio onde havia um reduto de palha "Santa fé".
Os homens que fazem o corte se vestem para esse propósito: bota de borracha, Calça de brim, jaquetão, luvas e sobre tudo uma armação de couro para o lado esquerdo do corpo, (perna e braço).
Alberes, moço da cidade, afoito queria aprender tudo na pratica. Prá isso investiu no corte da santa fé: passava a perna na moita, com um braço separando o feixe e o outro sacudia o "podão".
À noite, Alberes, apresentando um ar de desconforto e cansaço, comentava da lida primitiva e da maneira solta de ser no meio rural e complementou dizendo:
- O dia foi proveitoso, só não tô agüentando a dor na canela, devo ter espetado um espinho!
A luz de bateria fui ver do que se tratava.
Entre pequenos cortes nos braços e bolhas nas mãos ele ostentava na perna a cima do cano da bota um hematoma, roxo, com vincos assustadores.
Defini ser uma picada de cobra.
Tive que levar Alberes imediatamente para a cidade, aonde chegou mal com febre e vômitos convulsivos.
Antenor, um camponês jovem criado no meio rural, conquistou um posto de importância na estância do Pontal. Lá ele era o capataz: guapo, honesto dava conta de tudo e fazia mais que sua função. Cuidava do gado, equinos, porcos, galinhas, guaxos e ainda achava tempo para fazer achas, moirões, aramados e cultivava uma linda hortinha.
O tempo foi passando e Antenor se enamorou duma prenda também jovem, linda mãe dum garoto de oito anos. Pediu autorização ao patrão e levou a mulher pros ranchos para uma vida a dois.
Antenor era só felicidade. Vivia cantando, assoviando e se mostrava ainda mais pontual e prestativo. O Homem adorava aquela mulher e ao ‘enteado’ dedicava o melhor amor: atencioso e afetuoso era ‘pai’ extremoso.
Fez um cercadinho onde o transformou em jardim, fez balanço e gangorra.
Da horta levava legumes para a casa grande, lenha, água, leite e lindos buques de flores do campo para a esposa do patrão.
Certo domingo de dezembro Antenor, pegou um machado e foi pro mato com a esposa e o menino pra derrubar um eucalipto e fazer uns postes.
Antenor não sabia que aqueles minutos seriam seus últimos de vida.
Tirou a camisa, e decididamente alçou de toda força e conhecimento no machado contra o tronco frondoso da árvore.
Parou por um instante olhou pra cima cuspiu na mão para definir o atrito no cabo do instrumento e se pôs a cortá-la novamente.
O eucalipto chorou, sacudiu nuns “estralinhos” comprimidos e lhe faltou base indo pro chão com brutal rapidez.
Como o corte da cunha não foi de jeito, o caule tropeçou no tronco dando um desvio de rumo apertando Antenor ao meio contra o chão.
A mulher deu uma olhada e saiu dali as presas, correndo a toda velocidade para buscar socorro a o homem que seria seu melhor achado.
O menino ficou ali conversando ainda sem saber da gravidade.
Antenor, homem conhecedor das coisas, ainda meigo e carinhoso mandou o menino em casa para preparar o chimarrão. Só pra não ser visto no momento final.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.