Debaixo duma acácia florida tinha um balanço de corda com uma madeira de acento. No chão a sombra, grama e uma trilha do vai–vem: marcas dos pés da criançada ao se embalarem. Havia também um toco, banco improvisado, onde costumava ficar sonhando.
Lá na minha inocente infância!
A visão que se tinha do campo não era das melhores. A solidão do lugar aberto à costa da lagoa Mirim me desolava.
As areias brancas, juncais e pra trás palmeiras, tantas a perder de vista: monótono.
A amplidão da planície, o silêncio ainda maior. O vento insistente nos olhos provocava lagrimas ao elevar a vista.
A solidão é devassa, de pensamentos me tornava adulto.
Neste lugar estreito, do meu toco, verdes águas, azul ao céu e para o lado das casas ao fundo os espinhadeiros, sinas-sina e tojos...
Queria a mundo vasto, com mais vultos pra ser visto.
Queria ver pistas múltiplas, edifícios gigantescos, fabricas amplas... Um castelo fortificado de pedras: com fosso, torres, e portão suntuoso na beira d’água.
É! É isso que eu queria: um Castelo, um titulo, um exercito, condecorações, ser galante e ter muitos romances. Ter um cavalo de verdade, ter um elmo, uma espada e dinheiro saindo dos bolsos.
Diante dos sonhos que tive, diante da realidade da vida, nenhuma ilusão me motivou ao contemplar dos meus dias. Constatei que fui vencido diante do tempo transcorrido, pelo que não fiz ou pelo que tinha a intenção de fazer.
De onde vim, do farol de Alexandria no Mediterrâneo de mentira: na encosta da Lagoa Mirim, próximo a sua nascente: as “Cabeceiras”. Do meu cavalo de bambu montado, chapéu de papel, espada de pau, escudo de imaginação, tampinhas de garrafa no lugar de moedas de ouro.
Na contemplação das sandálias novas, me imaginei soberano, altaneiro, bravo, complacente, honrado e lendário.
É!
Depois de muitas excursões, esta seria a maior. Tudo foi cuidadosamente planejado, éramos vinte cinco pessoas em nove motos e quatro veículos. Três motos sairiam de Rio Grande e uma de Pelotas, se encontrariam na Quinta e rumariam para o sul. Os demais estariam esperando no Chuí, para então rumarmos a São Miguel, São Luiz, Lascano, José Pedro Varela e Trinta y Três. Lá meu tio Santiago esposo da tia Gecy, nos esperaria com churrasco. Havia todo um programa de viagens, o que prometia ser muito romântico. No Uruguai há uma reserva ecologia magnífica, que eu desejava mostrar a minha namora (hoje esposa), um itinerário por trilhas na “Quebrada de los Cuervos” . Eu fui um dos que pegou a estrada muito cedo, daquele dia fatídico, dando início a uma aventura que seria a mais extraordinária até então.
De sangue novo, muita disposição, “jaqueta nova”, som, lanche, barraca, lanternas, abrigo, mate, café, sopa maggi, fiambre, óculos escuro, ferramentas... e até um grito de guerra.
Pessoas, de todas as idades, todos amigos aventureiros, se aventurando a um lugar desconhecido.
Eu estreava minha primeira moto nova. Já havia ido outras vezes as Terras “estrangeiras e sabia que a emoção contagia e envolve qualquer participante.
Para surpresa dos que deveriam se encontrar no Chuí! Foram interceptados no trevo de acesso a Santa Vitória do Palmar, com a notícia da morte do Aladino Silveira esposo da Ondina. Transcorrido naquela noite por infarto.
Bah! Foi lastimoso aquele dia 10 de outubro de 1985 abandonarmos nossos veículos e bagagens para velar e sepultar meu tio amigo.
- Foi muito triste saber que seu excesso de zelo em participar da nossa excursão, algo emocionante o levasse a morte!
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.