Quando pequeno era muito magro, magro de contar costelas.
Meu pai exercia o serviço de "coureiro", nas estâncias vizinhas a nossa morada. "QUANDO UMA VACA MORRE DE FRAQUEZA, LOMBRIGA, ATRACADA, GANGRENA, NÃO IMPORTA, TENS QUE COUREAR (TIRAR O COURO)"
Minha mãe tivera a idéia apartir do alto valor do couro de Santa Vitória do Palmar, devido à espessura, pelagem e ausência de garrapato.
Um dia ela me convidou para ir até a estância do Magajane a fim de apresentar tal proposta.
Pagamos dois cavalos a se tocamos a trote, a algumas léguas.
Ao chegarmos, foi à primeira vez da minha vida que vi uma porteira "mata-burro".
Mais adiante, a vista se via toda a estrutura da estância um tanto encoberta por matos de eucaliptos, galpões e mangueiras tudo caiado, de cobertura as casas possuiam telha colorada de barro.
Primeiro a cachorrada acuaram na seqüência. Um homem negro nos recebeu:
- Olá sinhá. Cuidou dos cavalos e nos encaminhou para a cozinha.
A mulher do Magajane, de avental, muito hospitaleira abriu a porta mosquiteiro e entramos na cozinha pelos fundos.
Minha mãe paisana, certa do que pretendia, mantinha um palavreado próprio e afinado em torno da proposta de "coureio a meação".
Sentadas a mesa, fui esfolado no estomago por um cheiro de banha quente, torta, pão, biscoito... que vinha do fogão a lenha que ora aquecia o ambiente, ouriçando minha fome.
Inquieto, de olho aceso, não entendia nada que a mulher falava, então observava os vapores das panelas ferventes a evaporar.
A castelhana colocou um prato grande com bolinhos polvilhado com canela no centro da mesa para o café. Na seqüência me serviu aquela delicia que até então desconhecia.
Como a gulodice é imprudente, peguei um, outro, mais um, depois outro, mais outro até comer todos em uma fração de tempo.
Minha mãe achou por bem me passar o sermão ali mesmo, enquanto a castelhana dizia:
- Que coma el niño, tiene hambre!
No biênio 1999 / 2000, encontrava-me prestando serviço no Comando de Fronteira Roraima / 7° Batalhão de Infantaria de Selva, na função de Fiscal Administrativo, ou seja, responsável pela Logística da sua sede, na cidade de Boa Vista e dos seus cinco Pelotões Especiais de Fronteira (PEF), destacados nas localidades de AUARIS, SURUCUCUS, BONFIM, NORMANDIA e PACARAIMA.
No cumprimento da minha missão, visitei com certa frequência àquelas vilas e mantive um excelente relacionamento com as autoridades locais, fazendeiros e comunidades indígenas. É bem verdade, que fatos estranhos aconteciam, como a restrição pela FUNAI de casamentos de não-indígenas com indígenas e o fechamento diário por 12 horas (das 1800 às 0600 h) da BR 174 que possui cerca de 800 Km e que liga às capitais Manaus / AM e Boa Vista / RR, num trecho de 120 Km na reserva indígena “WAIMIRI ATROARI”. Entretanto, não é difícil, encontrar lá ou em outros locais, pessoas conduzindo veículos falando uma estranha língua que não é o português, muito menos outro qualquer dialeto indígena local. Fato bem conhecido há tempos pelas autoridades.
Tive a satisfação de conhecer gaúchos que atraídos por incentivos locais e pelo baixo preço das terras, migraram há décadas para lá, na esperança de construir uma nova fronteira agrícola no norte do país, como o Dr Benaion, veterinário de Santa Maria que chegou à Região, ainda, na década de 70, como integrante do Projeto Rondon, permanecendo lá até então.
Faço este relato pessoal, aproveitando a oportunidade do tema, para despertar em todos, mesmo aqui no extremo sul do Brasil, que nossa dimensão continental e a manutenção de nossas riquezas foram fruto do sacrifício de gerações que nos antecederam. E não é nos dado o direito de não continuar preservando o Brasil para entregá-lo íntegro às nossas gerações futuras. Assim, nossas riquezas, aí incluída a biodiversidade amazônica tem que ser explorada, com responsabilidade ambiental é claro, mas em favor de nosso povo, da melhoria de vida da nossa gente. Por isso, muito me decepcionou as últimas declarações dadas à imprensa pelo Secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério de Meio Ambiente, Bráulio Dias que segundo ele o governo federal está “de mãos atadas” diante da escalada da coleta ilegal de material genético da biodiversidade brasileira e que a falta de um marco regulatório torna inviável o combate à biopirataria. Gostaria apenas de lembrar ao ilustre Secretário que tais fatos foram previstos por muitos, mas ignorados por questões ideológicas e tantas outras mais e hoje infelizmente a sociedade brasileira paga por atitudes geradas por incompetência e irresponsabilidade de alguns políticos.
Na Amazônia, tínhamos um lema que era inscrito no final de todos os documentos produzidos e exclamado patrioticamente em reuniões e que, em minha opinião, deveria ser difundido e cultivado por toda a sociedade brasileira, pois defender e preservar a Amazônia e sua biodiversidade não é privilégio dos militares, mas de todos nós que amamos a nossa pátria.
“A Selva nos une, a Amazônia nos pertence”
Augusto César Martins de Oliveira
Coronel do Exército R/1, Advogado e Presidente da Liga de Defesa Nacional Núcleo Rio Grande
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.