Há algumas quadras da minha casa, existia um Mercado Chamado "Ostelino". Eu era amigo da filha do proprietário. Uma "Menina" clara, muito bonita e com menos idade que eu.
Jane minha colega de aula era prima da Menina, tinha mais idade que nós.
Todos os dias quando no colégio, Jane sentava ao meu lado e dizia o quanto sua prima gostava de mim.
Eu! Guri criado descalço, entre serviços e bolinhas de gude! Aquilo era uma novidade que não sabia conciliar. Jane também era bonita e mais alta, com roupas largas e escuras dando um tom de rapazinho. Diante da novidade tratei de consolidar a amizade com aquela Menina. Ela muito meiga, fez de mim um irmão e eu gostava. Gostava mais do seu cheiro de shampoo, chiclete, batom, talco, maçã, todos suaves só perceptíveis a mínima distância.. Há! Eu latia aos seus pés!
Noutro dia quando saia de casa pela manhã, Jane me esperava pra sair de braço e me contar picuinhas. Ao meio-dia me encontrava na passada com outro pretexto. As quatorze horas na sala de aula, Jane "ao meu lado me cutucando, falando a os meus ouvidos" pormenores da prima. No meu caderno ela escrevia versinhos e marcava as folhas com batom duma maneira que desconhecia. Às dezessete horas pedia meus cadernos emprestados somente para colar "figurinha de passar" e colocava sua mão sobre a minha e escrevíamos.
Eu! Há! Com quatorze anos de idade tinha receio do que dissessem, pois via nela uma amiga.
E a Menina?
Há! Que docinho!
Jane? Bom, ela limpava minha borracha, apontava meus lápis, cheirava minha pasta, repartia sua merenda, me deixava em casa de guarda-chuva quando chovia...
O tempo foi nos deixando, o mercado fechou, a Menina e sua família foram-se para Pelotas.
Bem, Jane? Continua em Santa Vitória do Palmar.
A encontrei no ano passado, ainda linda e bem mulher. Feliz foi logo me dizendo que casou e teve uma filha.
AO MEU LADO ME CUTUCANDO, FALANDO A OS MEUS OUVIDOS: "O tempo dela parou me lembrou as coisas que escrevi. Disse mais: como gostava de mim"
A lida do campo é assim mesmo. ‘Tu tens que estar bem atento’.
Quando uma vaca morre de fraqueza, lombriga, atracada, gangrena, não importa, tens que courear (tirar o couro).
Lida fedida! Sozinho, o peão tem que ser guapo. No chão mesmo destrincha o animal, no meio do sangue, bosta e gosma. Demora uma hora, uma e meia, não importa. Depois o serviço nojento continua,. Estaqueia-se o couro no chão ou no aramado.
Depois nas casas, entre os serviços, inclui abastecer lenha e água, galinhas no poleiro, comida pros porcos, amarrar as vacas, cuidar das bicheiras, molhar os viveiros...
Nos dias que anuncia chuva tens que tocar as ovelhas pro mato.
Um dia lá estava a tardinha, e o tempo se mostrou pra temporal.
Fui no piquete e peguei o tostado malacara. Em pêlo me toquei pro campo a galope.
Ao chegar no verdejo (campo baixo), “o gaucho grita: eiiii, eiiii... tuca, tuca...” e assim as ovelhas obedecem e caminham para a coxilha (parte alta).
Veja só! Na volta começou a chover com granizo.
O tostado empacou, virou o rabo pro vento, baixou a cabeça e começou a bater as mãos e patas no chão.
Desci e corri até um couro que por ali estava ao longo do arame, ‘amarradito’.
E fiquei embaixo até a chuva passar.
Que nojo, que nada!
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.