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O FILHO DE MARIA

segunda-feira, 21 de Março de 2011 | 11:31

Na cidade onde nasci, vive uma louca que as pessoas apelidaram de Maria do Balanço. Nem ela mesma sabe o seu verdadeiro nome e parece não se importar que a chamem assim. Desde pequeno, eu a vejo na mesma esquina onde permanece até hoje. O apelido que lhe deram se justifica pelo fato de ela estar sempre balançando o corpo para frente e para trás, embalando, envolto em um xale, um boneco-bebê, que sempre carrega nos braços. Alheia ao calor escaldante dos verões e aos ventos gelados dos invernos, ela aperta a pequena criança contra o peito e a embala como se quisesse fazê-la dormir.. Maria do Balanço é uma mulher alegre: ri, conversa com todo mundo e adora bebês. Certa vez, encontrei, nas proximidades da rua em que Maria costuma ficar, uma amiga que carregava a filha de 4 meses em um carrinho. Começamos a conversar e nos distraímos um pouco. Quando percebemos, a louca estava com a filha de minha amiga no colo, ninando-a. A criança parecia estar gostando muito daquele agrado.

Como é comum nas pequenas cidades - e talvez devido à necessidade inerente ao ser humano de explicar comportamentos considerados estranhos - muitas histórias se criaram em torno dessa figura que já faz parte do folclore do lugar. A mais conhecida conta que Maria vinha de uma família muito rica. Solteira, engravidou de um rapaz numa época em que essa situação era intolerável aos olhos da sociedade. Então, os pais a levaram para outra cidade a fim de que completasse a gestação e tivesse o bebê em segredo. Tão logo o filho nascera, a família de Maria entregou-o para adoção. Maria não teve sequer a chance de segurá-lo, beijá-lo, afagá-lo, amamentá-lo.

E eu me criei convivendo com aquela figura tão peculiar, pois - para ir à casa de minha avó, que ficava ali perto - precisava deparar-me com aquela estranha mulher. No início, quando pequeno, assustava-me dela. Tinha medo – repulsa, até. Com o tempo, fui me acostumando com a sua presença, como nos acostumamos com a construção de um novo prédio, com a ausência de uma árvore que tombou no último vendaval, com alguma figura esquisita recém-chegada à cidade...


Passaram-se os anos, e eu já mudei algumas vezes de cidade. Meus sonhos também mudaram. Alguns abortei; outros me arrancaram. No entanto, Maria - hoje com cabelos brancos e pele enrugada - continua sempre ali, acalentando o filho que nunca chegou a conhecer.


Agora ela não me é mais uma figura estranha. Cada vez que a vejo, olho-a com aquele olhar solidário que destinamos aos nossos iguais. Sim, Maria do Balanço e eu nutrimos certa cumplicidade. Quantos de nós tivemos nossos sonhos arrancados? Quantos de nós, consciente ou inconscientemente, deles abrimos mão? Quantos de nós vivemos a acalentar sonhos passados a cada final de domingo, a cada ida ao trabalho, a cada anoitecer?


Maria permanece ali, naquela esquina, como se quisesse me lembrar de todos os meus sonhos que ficaram para trás. Ela é o retrato vivo de todos os sonhadores que jamais abrem mão de suas utopias. Eles acalentam sonhos. Ela acalenta o filho que jamais terá. Mesmo assim, impressiona-me a devoção daquela mulher àquele filho que nunca conheceu, que jamais foi seu. Na verdade, invejo sua fidelidade e seu compromisso (tão próprio dos loucos) à sua verdade, real ou inventada. No entanto, fui na direção contrária: me esqueci, abri mão de muitos dos meus sonhos... Talvez, justamente por isso, a sociedade me considere normal, saudável – respeitado, até. Sobrevivi. Mesmo assim, tenho consciência de que jamais terei a dignidade daquela mulher. Por isso, toda vez que a vejo, silenciosamente, lhe peço:

“Embala também meus sonhos, Maria. Que eles continuem vivos ao menos em ti. Acalenta-os e faze-os dormir, porque, assim como teu filho, eles jamais voltarão a mim.”

*Professor


Escrito por Everson Pereira*

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Comissão da Verdade ampla, geral e irrestrita

segunda-feira, 14 de Março de 2011 | 14:44

Comissão da Verdade ampla, geral e irrestrita

     Na história militar mundial não há registro de guerra em que não tenham sido cometidos excessos, de parte a parte. Na guerrilha brasileira, ocorrida durante a ditadura militar não foi diferente. Do lado das forças militares, houve excessos e foram cometidos crimes que são amplamente explorados e exemplificados pela mídia e por órgãos ligados aos antigos guerrilheiros. Mas pouco se sabe sobre os da guerrilha, que possui uma extensa lista como, atentados a bomba, assaltos, assassinatos, justiçamentos, e seqüestros de autoridades brasileiras e de nações amigas a serviço no Brasil. É preciso resgatar entre outras verdades, a real orientação ideológica da guerrilha, que não era democrática, considerando que fora treinada, financiada e orientada pela extinta URSS.  

     O interessante é que alguns dos que cobram a revisão da Lei da Anistia de 1979, exigindo punições, também cometeram crimes extintos por essa Lei. A título de exemplo, são transcritos três casos recolhidos do site do Grupo Terrorismo Nunca Mais (www.ternuma.com.br):

        1. Em 5 de fevereiro de 1972, chegava ao porto do Rio de Janeiro uma força-tarefa da Real Marinha Inglesa, em comemoração ao sesquicentenário da Independência do Brasil. Os marinheiros, como em todo porto, estavam ávidos para conhecer a noite do Rio. Liberado da faina do navio H.M.S.Triumph, o marinheiro inglês David A. Cuthberg, de 19 anos, acompanhado de seu colega Paul Stoud, tomou, na Praça Mauá, o táxi dirigido por Antonio Melo, que os levaria para conhecer a mundialmente famosa praia de Copacabana. Eles não sabiam que, desde a chegada na praça, estavam sendo observados por oito terroristas, dissimulados dentro de dois carros. Na esquina da Avenida Rio Branco com Visconde de Inhaúma, à porta do Hotel São Francisco, um dos veículos emparelhou com o táxi e David foi atingido por uma rajada de metralhadora, disparada por Flávio Augusto Neves Leão de Salles. Imediatamente, Lígia Maria Salgado da Nóbrega jogou para dentro do táxi panfletos que falavam em vingança contra os ingleses por terem massacrado os irlandeses do norte. O "Comando da Frente" acabou com o sonho de David em conhecer Copacabana, "justificando plenamente" seu ato pela solidariedade à luta do IRA contra os ingleses.

        2. Francisco Valdir de Paula, Soldado do Exército - Instalado numa posse de terra, no município de Xambioá, fazendo parte de uma rede de informações montada na área de guerrilha, foi identificado pelos guerrilheiros e assassinado. Seu corpo nunca foi encontrado e sua família nunca pode fazer o seu sepultamento.

        3. O militante Márcio Leite Toledo manifestou descontentamento com os rumos da ALN e fez críticas à direção do grupo guerrilheiro. Foi assassinado com oito tiros. Em comunicado, a organização admitiu: “A Ação Libertadora Nacional (ALN) executou, dia 23 de março de 1971, Márcio Leite Toledo. Esta execução teve o fim de resguardar a organização… Uma organização revolucionária, em guerra declarada, não pode permitir a quem tenha uma série de informações como as que possuía, vacilações desta espécie, muito menos uma defecção deste grau em suas fileiras… Tolerância e conciliação tiveram funestas conseqüências na revolução brasileira… Ao assumir responsabilidade na organização cada quadro deve analisar sua capacidade e seu preparo. Depois disto não se permitem recuos… A revolução não admitirá recuos!”.

     Também, pelo pretexto de não dispor de uma estrutura administrativa que lhes permitisse isolar desertores, elementos não-colaboradores ou militares eventualmente caídos prisioneiros ou feridos, as Forças Guerrilheiras do Araguaia constituíam os "Tribunais Revolucionários" para "julgar" e
 “justiçar" indesejáveis. A eles são creditadas as mortes de Rosalino Cruz Souza, militante desertor e dos moradores locais Osmar, Pedro "Mineiro" e João "Mateiro". Essas “eliminações” foram tacitamente admitidas no chamado Relatório de Ângelo Arroyo (Editora Anita Garibaldi – 1996).

     Como democrata ferrenho, coloco-me totalmente favorável a criação da Comissão da Verdade, é um direito da sociedade brasileira ter acesso às informações daquele triste período da vida nacional, mas que ela não seja revanchista e tenha uma composição mista e civilizada, formada proporcionalmente por ambas as partes que protagonizaram o conflito e que a sua apuração seja ampla, geral e irrestrita em respeito a todos nós.

 

Augusto César Martins de Oliveira

Coronel R/1 do Exército, Advogado e Presidente da Liga de Defesa Nacional Núcleo Rio Grande


Escrito por Augusto César Martins de Oliveira

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Alberto Amaral Alfaro

natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.

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