O Homem na Lua, "um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade", um mês depois quatrocentos mil jovens se reuniram em Woodstock para pedir paz.
No Brasil a juventude oprimida pelo chamado “anos de chumbo”, deram um pulo pra trás no decreto do AI 5. “Costa e Silva” decretou o poder absoluto, o domínio da vida dos cidadãos. A passeata dos cem mil e Emílio, o terceiro ditador, o mais arbitrário, silenciou minha Terra do silêncio que já era pouco.
No ano 1970.
“Noventa milhões em ação
Pra frente Brasil, no meu coração
Todos juntos, vamos pra frente Brasil
Salve a seleção!
De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão!”
A rapaziada estava muito envolvida com a música, com as vestes, cabelos, colares, pulseiras, suíça e whisky... Sem expressão artística ouvíamos musica baixinho na Praça General Andrea à noite em Santa Vitória do Palmar.
Sem TV, motos, parques, show... Tudo controlado pelos homens de Verde, a gente ficava nos pontos de encontro, fumando, pintando as unhas, bebendo e planejando onde jogar pedras à noite.
Você pensa, o que?
Nós pensávamos alto, tanto que mudamos o sistema. O suficiente para se comparar com os caras pintadas de 1992.
Do mundo pobre que me rodeava, me faltava um óculos raiban. Fui ao Chui e comprei um, custou um exagero, era a marca do status a emancipação que me faltava.
Dias depois fui vitima do trote dos “boys” da cidade. Eles tomavam qualquer coisa de um indivíduo e colocavam sob a roda de tração dum automóvel, enquanto o motorista dava a partida em alta. Rádio, bolsa, relógio, cadernos...
Nesse dia, meus óculos!?
Eduardo colocou muitos Santinhos no cinto do chapéu, um crucifixo no peito, deixou os cabelos e a barba crescerem, não se importou mais com a aparência e ainda perambula na quarta secção da Barra a procura da loura.
Glacy Costa me contou do tempo em que lecionava e os detalhes da vida de Eduardo.
Quando moça ela e as professoras iam e vinham todos os dias a Barra, ano após ano. Lecionavam na escola, logo apos a Igreja Nossa Senhora da Paz.
Havia muita disciplina as professoras eram respeitadas e admiradas. Na cidade morava Eduardo filho de pessoas ilustres, também moço, tinha uma idéia fixa, casar-se com uma professora. Pela manhã ia a Barra e voltava no ônibus com elas. Ficava na frente do veiculo sentado de lado sempre puxando um papo com alguma delas, pra isso sabia o nome de todas e até mesmo onde moravam.
Seu alvo era Marina uma linda senhorinha, sorridente, falante e loura contratada no meado do período. Eduardo na sua timidez se esforçava, andava sempre bem arrumadinho, barbeado e com uma suíça larga, perfumado apresentava elegância, nunca se desprendia do chapéu.
No fim do período letivo de 1971, na Barra ouve uma festa escolar com baile que entrara parte da noite, Eduardo compareceu e se 'carrapateou' por Marina. Enquanto dançavam ensaiava um ritual ao ouvido da moça, tudo muito prematuro e com certo despreparo. Traçava a compra duma charrete, vaca de leite, rancho, casamento, "cãos e gatos", filho tantos que no seu conto já corriam no pátio.
Marina ria muito.
Instruída, até que gostou dos galanteios, bem orientada pelas colegas, também conhecia a balela do partido.
Foi ai que fingindo estar embalada pelas ciladas do Moço, marcou um encontro na cidade num domingo, na Rua 2 de Novembro numero n° 637 (Cemitério).
Lógico não foi ao encontro. Na seqüência cortou o cabelo, pintou de cor original (preto) e na segunda-feira se portou nunca ter visto o Eduardo.
O Moço introvertido, não perguntou a ninguém pela loura e foi assim que colocou o primeiro Santinho no chapéu.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.