Conclui que por razões adversas, sou uma pessoa que gosta de coleções.
Na minha vida a primeira coleção foi botões de roupas. Foi incrível. Muitos outros colegas começaram a colecionar gerando uma crise entre pais e filhos, professores e alunos. As roupas nos varais, guarda-roupas e cabides eram salteadas e seus botões extraídos. “Depois, foram as ‘‘Figurinhas Pelas Américas”. Consistia em catar tampinhas dum refrigerante (...) e trocar por envelopes contendo figuras do escudo, bandeira, moeda, traje típico... dos Países da Américas.
Depois carteiras de cigarros, e apartir de poucas moedas comecei outras manias, ou seja, o que for.
Mas a coleção mais animal que sustentei, foi uma mistura de depredação inconsciente que durou muito tempo. Ovos de aves. Foi uma investida inescrupulosa, envolvendo curiosidade.
Curiosidade pela forma, cores, textura, tamanho, local encontrados e ainda sabor. E dentro da minha impertinência, eu anotava: de que ave pertencia, quantos ovos continham no ninho, quanto tempo durava a incubação, época de postura... Duas amostras ficavam comigo: uma para comer cozido e o outro ovos eram furados numa extremidade e esvaziados.
Das minhas conclusões descrevo algumas curiosidades:
-As aves aquáticas grandes, o ovo é sempre de casca branca e o das gaivotas pintados de marrom.
-Dos pássaros pequenos, postos em ninho fechados o ovo é de cor branca, os de ninho aberto tem pintas.
-Os ovos dos pássaros pretos são brancos, mas se raspados ficam azulados.
-Os ovos das urracas são craqueados em duas cores branca e azul ou branca e rosa.
-Há ovos grandes e pequeninos, esferóides, ovalados, elípticos. Quanto à casca: como vidro, foscos, rugosos e texturados, endurecidas, resistente e membranosa.
-Quanto à beleza se destaca os de codorna (pintados), urraca (raiados), calandra, sábia...
-Quanto à raridade os de Perdiz e cata-vento (cor similar a chocolate). Tive contato com ovos de avestruz, beija-flor, papagaios, coruja, andorinha, saracura, pavão, gralha, faisão... Mas.
Quanto ao sabor a meu ver o mais saboroso superando o de galináceos é o de quero-quero e o menos saboroso Coruja e andorinha.
Colecionar ovos se aproxima a um vício doentio, porque nessa história há ovos de jacaré, lagartixa, tartaruga, sapo, cobras... E a gente quer provar todos!
Bernardo tinha um filho chamado Miguelito, que com 32 anos de idade tinha idéias infantis. Era dócil e voluntário para o que lhe pedisse. Tornava pratico os afazerem em torno de casa.
Miguelito era muito travesso, brincava com os filhos dos empregados com se fosse criança..
Nos dias de chuva liderava, divertindo-se na rua, no corre-corre ele era o mais ágil, criativo e expansivo, beirando a imprudência.
Nas brincadeiras de pernas de pau, subia nas arvores, corria os animais no potreiro, mas o que mais lhe agradava era o “auto novinho”, do qual visível era só a direção (volante), um aro de metal que continha todo o comando, tudo de imaginação.
Miguelito não lia ,não escrevia, sabia o nome de todos os automóveis ou reconhecia pelo barulho. Não saia de casa sem seu auto: no potreiro pra buscara as vacas, pra cortar lenha...
Ele tinha no seu quarto, guardados debaixo da cama, flâmulas, espelhos, palancas de marcha, chaveiros e chaves de rodas, tudo para ser colocado no seu auto.
Num dia de chuva as estradas estavam intransitáveis todo mundo sabia, não dava pra circular a não ser a cavalo.
Como alguém teria que ir a venda buscar farinha para fazer tortas para o café da tarde. Miguelito se prontificou dizendo que iria de auto. Saiu logo após o almoço, foi longe o bastante para aterrar seu auto numa vala beirando a estrada.
Desceu, esbravejou, foi para frente foi pra trás, olhou, coçou a cabeça, tudo de faz de conta, no alto da sua imaginação.
Foi numa vila não muito distante dali, pediu se alguém o ajuda-se!
Alberto um velho lavrador ainda que desgostoso “jugou” seus bois e arrastando uma corrente se dirigiu pro atoleiro.
Miguelito fascinado com a gentileza do desconhecido. La chegando pegou a 'direção' que no chão estava, e disse:
- Passa a corrente aqui e puxa!
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.