Na minha infância Papai Noel era uma figura mística que de poncho encarnado aparecia ao meio dia na beira dos valos, taquarais ou aramados. Com um saco nas costas disposto a pegar qualquer criança que perturbasse no período da “sesta”. Como um castigo.
Nesse intervalo, para os meninos, o melhor era ir para baixo das árvores e reiniciarem a brincadeira do dia anterior, organizando as fazendas, refazendo as estradas de terra, juntar o gado e gritar com a peonada, molhando o queixo ao imitar barulho de carro. Isso deixava os adultos alvorotados e o Papai Noel aparecia novamente no meio do campo.
Ao vê-lo, a perna tremia, o coração disparava, e todos corriam para o quarto, “loucos de medo”. Eu ia direto para baixo da cama que nem cachorro com medo de foguete e de lá só saia quando era chamado. Papai Noel era um tormento.
Natal nunca existiu pra mim na minha infância. Às vezes a gente ganhava algum brinquedo, que era anunciado e a gente colocava as tamancas na janela. Os presentes eram deixados dependurados nas arvores como sinal de que o velho do saco andava por perto.
Papai Noel a meu ver estava sempre cansado e sem dinheiro.
Em 1994, resolvi fazer uma festa de natal em casa e convidei meus irmãos com os sobrinhos: ceia, arvore, luzes e tudo mais, tudo organizado pela minha esposa que teve outra criação.
Aquela noite de natal o Papai Noel esteve em casa, meu filho com três anos não teve medo do velhinho que muito alegre deixou presentes para todos.
Bem. Eu por trás de tudo suava. Meio desconfortável, tive medo de não ter agradado a todos, mas vi nos olhos dos convidados um brilho misterioso.
Hoje meu filho, sabe o significado do Natal, da união pelo amor, da necessidade de confraternização para os adultos e para as crianças um momento de esperança, nelas devemos preservar os bons costumes e também o espírito de renovação.
Dizem que no natal,
há paz e felicidade,
então porquê a guerra?
porquê tanta maldade?
Dizem que no natal,
há bastante altruísmo,
mas é somente máscara,
camuflando o egoísmo.
Dizem que no natal,
exaltamos quem nos criou,
mas não há explicação,
para a fera que gerou.
Dizem que no natal,
enaltecemos as virtudes,
depois vem o ano-novo,
e revelamos as vicissitudes.
Dizem que isso é chato,
dizem que não seduz,
daí despertar o facho,
para enxergar a luz.
Afinal,
natal não é só alegria,
tem vivência que judia,
tem tristeza e agonia,
tem meiguice e cortesia,
tem uma fé que contagia.
No final,
tudo não passa de alegoria,
a esperança em simbologia.
Talvez seja o lado bom da vida,
a nossa inocência esquecida,
que o tempo não apaga mais.
Então é NATAL,
e o que você fará?
o ano termina e outro virá...
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.