O ano era 1930.
Dom Francisco com cinqüenta anos era casado com uma mulher bem jovem, linda e tinham três filhos pequenos. Era dono de uma fazenda na costa da Lagoa Mirim, não muito distante da cidade. Criava muitos bois, cavalos, ovelhas, porcos e galinhas... Tinha uma chácara de milho, batatas, trigo, feijão o ano todo. Tinha também uma horta, onde cultivava os temperos, chás e flores que ficava aos cuidados das mulheres.
Na sede da fazenda tinha um pomar, açudes, galpões, currais e um engenho movido em torno de um eixo com tração de um boi, onde era transformado milho e trigo em farinha de boa qualidade.
Na casa e seus arredores abrigavam vários agregados, forasteiros com seus cônjuges e filhos. Tinha também um negro velho que custava o que comia e um capataz na flor da idade, ágil, forte e eficaz. Dom Francisco ia à cidade rotineiramente, para vender seus produtos e comprar outros.
Um dia Dom Francisco ao voltar da cidade, à noite reuniu todos os subordinados para um dedinho de prosa e depois da janta saborosa (puchero).
Ainda insatisfeito do que pretendia descobrir, anunciou ter achado uma moeda de prata de 960 réis (ano de 1815).
O capataz mais que de depressa colocou a s mãos nos bolsos os apalpando e foi dizendo:
-É meu patrão.
Dom Francisco respondeu:
-É! Tem um probleminha; eu encontrei o dinheiro na minha cama!
Esta é uma história que nunca foi revelada por razão que desconheço.
Num encontro que me fiz presente lá estava Raul, filho de Mauro. Raul meu parente e simpatizante do que escrevo, conversamos, rimos, comemos, bebemos...
Ele me disse:
Em 1946, eu tinha 14 anos de idade, residia em Curral Alto com meus pais. Certo dia um dos meus tios, que não posso dizer o nome, me convidou para ir a Pelotas fazer compras para abastecer a fazenda, local que ele não ia há muitos anos.
Tudo foi preparado com antecedência, o Sulky puxado por dois cavalos, bem cedinho nós partimos rumo à cidade Princesa do Sul. Para mim foi uma viagem fantástica, costeando a lagoa Mirim: areais, alagadiços e no trote largo passamos a Igrejinha do Taim com um cemitério nos fundos nessa época já em estado de ruína.
Daí em diante por estrada irregular, depois de quase um dia chegamos ao destino incluindo a travessia no canal de São Gonçalo de balsa, prá mim inédito.
Em pelotas pernoitaram na casa de um parente e no outro dia saíram para as cooperativas, armazéns, mercado publico,...
Meu tio nesse dia todo elegante, fez questão de ir numa loja bem antiga e tradicional onde eram vendidos aviamentos, (tecidos, linhas, botões...). Foi entrando e observado tudo com atenção como se procura algo em especial. Dirigiu-se a uma moçinha que aparentava uns dezoito anos, alta, bonita e gentil que por ali atendia e pergunto em castelhano bem aportuguesado:
-“Sois” daqui!
- Sim, moro perto; na rua “General Osório”.
-“Os te” se parece com uma namorada que eu “tuve” em 1928 e que trabalhava neste “bazar”.
Ela respondeu:
-Comentam que sou muito parecida com minha mãe quando guria. Ela trabalhou aqui vinte anos e se afastou por problema adverso.
- Como é o nome de “tu mama”!
-Julia, respondeu a moça.
-Julia, disse o tio.
E com os olhos cheios d’água ele a olhava. A moça parecia saber de alguma coisa que eu desconhecia.
Meu tio chorou, e eles se abraçaram, enquanto a moça dizia:
Papai, papai!
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.