Andava pelo mato em estado de alerta, por que ela estava por perto. Linda e exuberante, trocando de roupa se escondendo entre os arbustos.
Fascinado fui atrás, seria a única maneira de encontrá-la e não ser surpreendido.
Rara e de singular beleza, tomou todo o meu tempo de tal maneira que o sol foi sumindo rapidamente, escurecendo o ambiente gradualmente. Como eu estava encantado por sua formosura, por ali armei acampamento. Simplesmente fui me envolvendo no silêncio da noite e onde estava dormi.
Quando acordei era dia. Percebi; quem eu procurava dormia ao meu lado, com ar de inocente.
Não estou aqui para contar a história mais bonita, de rei e rainha, de hotel cinco estrelas em Maceió ou do cavalo mais belo.
Sabe, fui num lugar no caminho de Santa Vitória, visitar meu primo Fred. Ele é alto, têm menos que a minha idade e é muito decidido.
Ele foi filho de pai analfabeto, com eu. Quando menino, ia para as oficinas das granjas ajudar seu pai. Depois, Fred foi carroceiro, ceifador, operador de trilhadeira...
Na entressafra era maracheiro, o oficio mais duro, pelo porte atlético.
Entre um mate e outro ele me dizia, do trabalho na vida, das necessidades, dos amores e dos frios; tudo haver: Você sabe do frio que fez no mês de agosto!
Quando moço ele sentia muito frio pelas manhãs. No serviço, em cima dos caminhões, cedo ia para as lavouras de arroz, de bermuda e pulôver velho, descalço. Tinha que ficar se agitando freqüentemente ‘prá’ não morrer de frio.
As noites nos alojamentos para dormir no seu ninho de palha e um único cobertor, enchia uma garrafa com água quente pra enfrentar o “inimigo” bem encolhidinho.
Na sua história o mais trágico. Um dia, no almoço, numa bolanta, vários homens sentados lado a lado almoçando com as marmitas nas mãos. Ele largou o pão num lado e devorou sua comida fria. Quando se voltou para o pão, o colega já o havia comido. A comida era pouca e mal fechava as caries: ele se levantou com tanta raiva, pegou sua pá, e a enquadrou no pescoço do individuo contra a parede e pediu o pão ou o mataria. Os outros ali presente impediram a tragédia.
Sabe esta não é a pior história, como vou dizer? Não existia naquele lugar direitos humanos nem leis trabalhista rural, sindicatos... Éramos todos filhos sem destino.
Como estou comprometido em proferir o tempo em contos verdadeiros, digo mais: Eu nesse período estive no embalo das ondas no mesmo barco que meu primo. Quando falei do frio dele a noite não disse:
Ele quase chorando comentou que para dormir só tomando “canha” e com isso perdia a janta coletiva e quando dormia molhava a cama de urina. Noutro dia antes do sol se expor nas janelas, aos gritos o capataz dizia:
- Levantem "cambada"!
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.