Todos somos unânimes em reconhecer o avanço que as redes sociais possibilitaram a universalização e democratização das informações e do conhecimento. Não obstante, a falta de uma legislação internacional que discipline com rigorismo a má utilização dessas poderosas ferramentas, torna a cidadania refém de todo o tipo de organização, interesse ou crime.
A bola da vez, o modismo é o Rolezinho, convocação feita através das redes sociais para que jovens reúnam-se em horários pré agendados em shoppings centers ou centros comerciais, sem uma finalidade especifica aparente, o que de per si já é perigoso. Como diz o velho ditado: “O ócio e a ferramenta do diabo”, portanto, quem não tem o que fazer fique em casa. Lembro que na minha juventude “dar um role” era dar um passeio, uma volta ou um giro a pé ou de carro, com um ou dois amigos, também sem um objetivo definido, o que às vezes teve como conseqüência a ida a algum lugar não recomendável, quase sempre prenúncio de confusão. Potencializem isso, reunir dezenas, às vezes centenas de jovens, convocados a invadir qualquer espaço público ou privado, é uma insanidade, uma irresponsabilidade monumental, com conseqüências imprevisíveis.
Três segmentos, como sempre, arvoraram-se na defesa dessas balburdias, dessas turbas que já causaram inúmeros prejuízos a comerciantes e também a consumidores, cada um com suas justificativas e todos com um viés notadamente ideológico. Os Movimentos Sociais acusam os Shoppings de “apartheid”, mais uma vez criando uma luta de classes que não existe e o que é pior demonizando a atividade empresarial. Espertamente, um tal Instituto de Pesquisa Data Popular, até o nome é caricato tentado confundir-se com o consagrado Datafolha, tenta enganar a opinião pública criando números fantasmagóricos, que recriminam e menosprezam o Empresariado frisando que os mesmos estariam ignorando o potencial de consumo da Classe “C” ao proibir os tais Rolezinhos. Que estariam abrindo mão de R$-129 milhões, suposto potencial desses jovens, que na imaginação do Data Popular representariam muito mais que o consumo das Classes “A”, “B” e “D”, somadas. Que delírio! Tudo isso com o intuito de provocar, mais uma vez confronto de classes, tipo ricos X pobres, clara tentativa de ideologização do consumo. Por último, não poderia faltar, um alto prócer do petismo raivoso, mas dissimulado, o Secretário Geral da Presidência Gilberto Carvalho, aquele da República de Ribeirão Preto, propor na mesa de entrada do gabinete da Presidente Dilma Rouseff, que: “Precisamos criar alguma convivência com o Rolezinho”.
No meio de tanta desfaçatez cabe um esclarecimento aos que porventura nunca tenham ido a um shopping Center ou Centro Comercial. Esses estabelecimentos, embora de propriedade privada, jamais cobraram qualquer tipo de entrada ou constrangeram alguma pessoas a algum consumo mínimo obrigatório ou limitação de qualquer espécie para o livre acesso e circulação. Daí ser totalmente descabida a permissão da veiculação dessas convocações e pior a omissão do Estado ao não dar segurança aos que estão trabalhando, passeando ou fazendo compras de forma civilizada e tranqüila. Minha querida Mãe, Alfa Amaral Alfaro, vinda de Santa Vitória do Palmar, e que nos deixou semana passada, diria no seu sotaque mergulhão: “Quem pariu que o embale”. Eureka! Que tal um Rolesinho no Palácio do Planalto? Ou nos Ministérios? Quem sabe.
Com o aumento absurdo do número de automóveis, motocicletas e bicicletas circulando nos centros urbanos brasileiros, já deveriam estar mais adiantadas as alternativas para uma melhor resolução dos graves problemas de mobilidade que afligem e colocam em risco a vida das pessoas.
Ciclovias, redefinição de fluxos e até rodízio de placas já estão sendo adotados em algumas cidades, até um Ministério foi criado em âmbito federal, o das Cidades, que tem como objetivo promover políticas de transportes e mobilidade urbana.
Aqui na nossa cidade do Rio Grande, fundada em 1737 pelo Brigadeiro José da Silva Paes, os problemas para a implantação de qualquer nova concepção de planejamento urbano e viário são praticamente intransponíveis, por essa condição histórica, considerando-se que há 277 anos as demandas e conceitos, por óbvio, eram outros.
Proponho neste artigo que tratemos de um tema até então ausente das pautas municipais: a circulação de veículos movidos por tração animal, as conhecidas carroças. Reconheço o valor histórico e cultural do referido transporte, mas está mais do que comprovado que o mesmo, além de ser um complicador no tumultuado trânsito da cidade, causa insegurança pela inexistência de qualquer norma para circulação e até, pasmem, para pilotagem. Observo diariamente que muitas das carroças são conduzidas por crianças, sem qualquer conhecimento de regras de trânsito, menos de trato com os animais.
Na realidade, o uso de tração animal e humana é medieval. Salvo algumas situações culturais e turísticas, e, pontualmente nas regiões rurais, é algo totalmente ultrapassado. Não é por nada que tudo que é atrasado e obsoleto é chamado de carroça. Imagino as dificuldades para se mexer numa situação tão arraigada na cultura e principalmente por servir de único meio de sobrevivência a centenas de pessoas. Paciência, quem se propõe a ser prefeito ou vereador de um município deve estar compromissado e preparado para buscar e propor saídas para todas as questões de interesse público, independente dos reflexos eleitorais, portanto, aí está a questão.
É inexorável o enfrentamento desse assunto dentro das concepções atuais e universais que asseguram direitos aos animais. Vejam, os cavalos ou burros explorados em veículos de tração são obrigados a trabalhar sem período de descanso ao longo do dia por meio de instrumento de tortura, como chicotes e pedaços de pau, que são usados cada vez que o animal interrompe seu trajeto por estar exausto, ou simplesmente quando não obedece às ordens de seu tutor. Pelo trabalho pesado e ininterrupto, estes animais estão fadados a sofrer desnutrição, desidratação, doenças pulmonares (devido à fumaça proveniente dos automóveis que respiram), doenças da pele, ferimentos espalhados por cada canto do corpo, além do desgaste dos cascos devido ao atrito com os calçamentos de pedra e asfalto.
A proposta não tem nada de revolucionário, como repito à exaustão, é só observarmos o que vem sendo feito pelo mundo afora nesse sentido. Sugiro, como exemplo, o que foi feito em Bogotá/Colômbia, onde foram retiradas das ruas todas as 2.500 carroças existentes, em dois anos. O plano de negócios, subsidiado pelo governo, além de propor treinamento e encaminhamento a outras atividades aos condutores, disponibiliza algo em torno de 21 mil reais que possibilita a aquisição de um “Cavalo de Lata”, veiculo elétrico, que é carregado com energia solar, tem 60km de autonomia e exige um gasto médio de R$0,03 por quilômetro percorrido, além de não emitir resíduos tóxicos para a atmosfera. Os cavalos, depois de resgatados, ficam aos cuidados da Universidade de Ciências Aplicadas e Ambientais. Vamos começar a tratar disso ou deixaremos que ele chegue a condições insuportáveis? A decisão é de todos nós.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.