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Jogos eletrônicos. Formadores de assassinos?

sexta-feira, 09 de Agosto de 2013 | 17:51

Na minha infância, vivida na Vila Santa Tereza, Cidade do Rio Grande, na década de sessenta, os brinquedos que preenchiam o tempo eram o rolimã, o jogo de bolinhas, o jogo de tacos, o esconde-esconde, o pega-ladrão e a diária prática do futebol. Todos praticados nas ruas e campos disponíveis na região. Num turno a ida ao colégio, no outro a realização dos temas e trabalhos escolares, depois rua, atividades lúdicas simples e baratas.

Praticamente inexistiam nas crianças distúrbios tão comuns nos dias atuais, como a ansiedade, a obesidade, problemas de postura e visão, entre outros. Os pais tinham as preocupações de sempre com relação à saúde, estudos e companhias. Das drogas, tragédia contemporânea, nem se tinha notícias, eram outros tempos, muito mais saudáveis e proveitosos.

Nesta vida dita moderna, muitos limites foram impostos à infância. Nos centros urbanos, os espaçosos quintais deram lugar a apertados condomínios ou exíguos pátios, onde a criança ainda precisa, muitas vezes, disputar o gramado, onde todos sabem, é proibido pisar. O aumento da violência e o crescimento da perversidade na mente das próprias crianças combinados com a terrível corrida pela sobrevivência que assombra os genitores, faz surgir um problema de complexa resolução: como ocupar o tempo das crianças? Como proporcionar-lhes um entretenimento seguro e saudável?

Após longo predomínio da televisão com seus desenhos e filmes os dias inteiros, surgem os jogos eletrônicos, primeiro com videogames e depois, de maneira crescente e descontrolada, através dos computadores e todas as novas ferramentas de comunicação, que vêm proporcionando a proliferação de todas essas mídias, incontroláveis e acessíveis a todos. Infelizmente, frente a todas essas nuances, combinadas com a falta de tempo e alternativas, os pais levantam as mãos para os céus ao constatarem que seus filhos preferem utilizar todo o período disponível à frente de uma televisão, de um celular ou de um notebook. Pelo menos não estão expostos aos perigos das ruas, dos descaminhos. Muitas das vezes desconhecem o que estão fazendo, aí está o grande perigo desse comportamento. Desconhecem que esses jogos eletrônicos estão cada vez mais violentos, mais gráficos e mais predominantes. Creio que a razão é que, à medida que os jovens vão se acostumando com o grau de violência dos jogos atuais, precisam de outros mais violentos ainda para realmente serem excitados. Vejo aí o terrível dos jogos eletrônicos: eles não só condicionam ações como faz a TV, mas treinam o jogador a executá-las sem refletir nas consequências de seus atos, tornando-os autômatos, animalizados.

Esta crônica está sendo escrita 24 horas após a descoberta de uma chacina na Vila Brasilândia, zona norte de São Paulo, onde resultaram mortos um casal de policiais militares, o filho de 13 anos, Eduardo Bovo Posseghini, mais a avó e a tia-avó do jovem. Cinco vidas ceifadas com tiros certeiros na cabeça de cada uma das vitimas, vindos de uma pistola, calibre 40, encontrada debaixo do corpo de Eduardo. As investigações iniciaram hoje pela manhã e apontavam que as hipóteses iniciais de vingança pelo fato dos pais serem policiais ou de latrocínio estavam afastadas. A primeira surpresa na busca da elucidação da tragédia foi a descoberta de que o menino Eduardo usava foto de assassino de game no facebook havia trinta dias. O referido jogo de ação, na terceira pessoa, onde o jogador está na pele do personagem Altair, chama-se “Assassin’s Creed” ou Credo Assassino, o título é autoexplicável. No game o jogador vive durante o período das Cruzadas, e controla o tal personagem Altair, jovem, que tem como missão assassinar templários para evitar mais conflitos e terminar a Terceira Cruzada. Altair faz parte da Ordem Secreta dos Assassinos, denominada Hashshashin. Tudo ficção, tudo interesse comercial desenfreado. As vítimas reais foram o solitário Eduardo, seus pais, sua avó e tia avó. Que ensinamentos ou lições poderemos tirar desta tragédia? As conclusões estão com cada um dos nossos leitores.


Escrito por Alberto Amaral Alfaro

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O Papa certo, no local certo, na hora certa

terça-feira, 06 de Agosto de 2013 | 11:37

O Brasil vive uma convulsão social e política que, tal quais as placas tectônicas - blocos gigantescos que sustentam continentes e oceanos - movimenta-se naturalmente, sem previsão ou controle. Arrefeceu na última semana, em virtude da visita do Papa Francisco, que participou da Jornada Mundial da Juventude, evento que concentrou 3,5 milhões de jovens no Rio de Janeiro.

Não sei se algum fenômeno pode ser utilizado para justificar o efeito desta visita papal, nem o propalado alinhamento dos astros, menos ainda alguma previsão do já desacreditado Nostradamus, o certo é que o Brasil passa a ser outro após estes seis dias: melhor, mais justo, mais politizado e consciente.

Dentro desse contexto de mudança que sacudiu o gigante adormecido, que começou lá por junho com as manifestações inicialmente defendendo a proposta do “Passe Livre”, dias depois, com o crescimento do movimento, diversas outras pautas foram acrescentadas de maneira voluntária, sem influência político-partidária. Os temas da corrupção e da má gestão pública acabaram se transformando nos mais relevantes, óbvio que coadjuvados pelas demandas na área da saúde, educação, segurança, mobilidade urbana, entre outras.

Linco os movimentos populares com a visita do Papa Francisco, por entender que o Sumo Pontífice, latino como nós, vizinho aqui da Argentina, tem o entendimento perfeito da situação política, econômica e social aqui do Cone Sul. Ao recomendar aos religiosos não se envolverem com ideologias políticas, ao refutar toda e qualquer possibilidade da utilização da sua visita como palanque político pelo Governo e exortar todos os jovens a serem protagonistas das mudanças que se impõem, frisando a esses jovens que não permitam que outros exerçam esse papel, já que o futuro chegará através deles, descortinou, sem politizar, que esse confronto é inexorável, já que os governos, invariavelmente, sempre priorizam as fortunas e agem como príncipes, sobrando à grande maioria da população os planos A, B, C...

Resumindo, o nosso Grande Pastor apontou caminhos, devolveu a confiança e a esperança ao povo, e deu testemunhos que mexeram com toda a gente brasileira. Causou tanto impacto essa visita, as entrevistas, os discursos e preces, que este cronista constatou por onde andou, escutou e leu, céticos, agnósticos e até alguns ateus balançarem em suas convicções. Não tenham dúvidas de que essa passagem será o marco de mudanças profundas, que o Brasil será outro, bem como a Igreja se aproximará mais deste povo, especialmente dos mais pobres - assim falou Francisco.

Com relação às movimentações sociais e protestos, recomeçarão imediatamente, acredito que com menos violência, outra recomendação do Papa, mas de maneira mais efetiva, renitente, até emergir uma percepção, um sentimento efetivo de que as coisas realmente começam a mudar. Quem viver, verá.


Escrito por Alberto Amaral Alfaro

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Alberto Amaral Alfaro

natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.

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