Primeiro esclarecer que o falecido Presidente Hugo Chávez, da Venezuela, foi quem, sob a égide do petróleo, criou mais esse neologismo que agora tem como seguidores ou simpatizantes governantes da Bolívia, Equador, Argentina, Uruguay, Brasil, e, obviamente, a própria Venezuela, Meca dessa esclerosada “novidade”.
Tido como “ideologia”, o tal Movimento Bolivariano tem entre suas ideias a promoção da educação pública gratuita e obrigatória e o repúdio à intromissão estrangeira nas nações americanas e à dominação econômica, propondo a união dos países latino-americanos. Se fossem sinceros, esses pressupostos contariam de imediato com a minha adesão. Melhor, quem se oporia a tal elenco de propostas?
Para melhor entendimento dos que ainda não se ocuparam em tentar entender essa “revolução”, vamos a uma rápida discrição do inspirador desse movimento, o venezuelano Simón Bolívar, denominado de “O Libertador”. Filho de família ilustre e abastada de fazendeiros de origem espanhola, foi militar e político. Nascido no dia 24 de julho de 1783, em Caracas, não tinha qualquer relação ou identidade com as populações originárias da América, os ameríndios, ascendentes de Chávez e Morales, entre outros.
Com formação obtida com grandes professores e orientadores, que lhe passaram princípios sólidos de amor à liberdade e a justiça social, Simón Bolívar buscou na própria Espanha a complementação do seu substrato intelectual e político que o tornaram o protagonista de grandes lutas e iguais conquistas.
Na “Carta da Jamaica” de 1815, ele defende a criação de uma “Confederação Hispano-Americana”, anteriormente pertencente ao Império Espanhol, tendo como embasamento o passado histórico comum, mesmas instituições, a prática do catolicismo e a língua espanhola. Nesse contexto, o Brasil e os EUA, embora americanos, não estavam contemplados. Para fortalecer esta minha observação de desencontro entre o que propunha Bolívar e o que se vê hoje proposto por seus pretensos seguidores, uma frase do Libertador, na tal Carta da Jamaica: “Eu desejo, mais do que qualquer outro, ver formar-se na América a maior nação do mundo, menos por sua extensão e riquezas do que pela liberdade e glória”.
Quando afirmo que todos esses ditadorzinhos de plantão, na realidade, querem é ressuscitar o comunismo, moribundo ainda em Cuba, na Coreia do Norte e no Afeganistão, cada um ao seu estilo e para as suas plateias. Alguns mais descarados colocam o Estado, cada vez maior e intervencionista, a serviço de seus partidos e interesses, desconsiderando constituições e a independência entre poderes. Concomitantemente, intimidam, constrangem e censuram os órgãos de imprensa e comunicação.
Por aqui, neste nosso Brasil, sem qualquer referência ao Bolivarianismo, por motivos óbvios, o movimento anda de forma dissimulada, pelas beiradas, mas constante e crescente. A “serpente” se movimenta em todas as direções, célere e venenosa, bom não descuidarmo-nos.
O Brasil não é a Dinamarca, longe disso. Com história milenar, a Monarquia Constitucional Dinamarquesa é detentora de quase todos os títulos de desempenho como nação e sociedade, tais como o menor índice de corrupção e a melhor e mais justa distribuição de renda.
Fruto dessa excelência, a Dinamarca alcançou o mais alto patamar também no financiamento do bem estar da sua população, cada vez mais generoso, proporcionando efeitos danosos à economia do país, reflexo da crise internacional que a todos atinge e também pelo alto custo para a manutenção dessas benesses.
Observem que da população ativa apenas 47% trabalham, o que é um absurdo, tanto que nos EUA esse percentual sobe para 65%. Não é problema de desemprego ou falta de oportunidade, é que por lá, com saúde e educação totalmente subsidiados pelo governo, aliados a um conjunto de outros benefícios também arcados pelos cofres públicos, criou-se uma camada expressiva de comodistas, que conseguem viver e fazer patrimônio sob a égide governamental, o que tem sido objeto de vigorosos debates no parlamento, tendo como polo das discussões a ética do trabalho no país.
A universalidade dos benefícios, independente da condição socioeconômica, onde os pais ganham cheques trimestrais do governo para ajudar no cuidado com as crianças e os idosos ganham empregada grátis, caso precisem, mesmo se forem ricos, tornou a conta impagável, mesmo na Dinamarca.
Não há possibilidade de qualquer comparação entre o Brasil e a Dinamarca, independente do quesito escolhido, mas podemos tomar como lição a discussão atual da sociedade nórdica, onde estão sendo reavaliados e revistos todos esses penduricalhos sociais, tanto sob o aspecto econômico como no comportamental. A conclusão de que muitos vivem literalmente na malandragem, sendo mantidos pela população economicamente ativa, os que produzem e trabalham e que têm o maior imposto sobre a renda do mundo, com 56,5% para os que ganham acima de 160 mil reais, no Brasil em média pagamos 27,5%.
Em síntese, mostro o paraíso dinamarquês sendo rediscutido e o nosso País nessa senda eleitoreira desenfreada de manutenção do poder a qualquer custo distribuindo, nos três níveis de governo, benesses a rodo, sem previsão de custeio e independente da condição econômica e social dos beneficiários. A raça ou etnia e a idade, só para citar dois segmentos, são obsequiados com programas e isenções que não se sustentam em parâmetros dignos e razoáveis de avaliação. Sempre, em qualquer parte deste mundo globalizado, alguém vai pagar a conta, não será diferente aqui no Brasil. Quem viver, verá.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.