Começo esta crônica questionando o próprio título proposto por mim. Poderiam existir as tais mentiras sinceras, considerando-se as grandes contradições entre mentira e sinceridade? Respondo que até por ali, sim.
Não só as mentiras sinceras propostas pelo nosso Poeta Cazuza na sua consagrada “Maior Abandonado”, quando cunhou a expressão, justificando-a para a obtenção de pequenas porções de ilusões. Na vida real também a mentira sempre está próxima de nós.
Começam na nossa infância, quando nossos pais utilizam as “mentiras instrumentais” para retardar o nosso contato com as duras verdades da vida. Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, entre outros, são figuras míticas que nos acompanham por anos. Em pesquisa recente realizada nos EUA e na China, a conclusão foi a de que 84% dos pais americanos e 98% dos chineses mentiam aos seus filhos. Diferenças culturais foram notadas no trabalho: os chineses acham mais favorável mentir com o intuito de parecer mais modesto (um valor no país), enquanto que a maior preocupação dos pais americanos é poupar o sentimento dos filhos.
Essa tal cultura da mentira como recurso para ajustar situações, evitar danos e dores maiores é bastante comum e aceita como justificável em nossa sociedade.
Na política, historicamente a mentira é utilizada nas suas formas mais danosas. Maquiavel, lá pelos idos do século XVI, já pregava no seu “O Príncipe”, que os “fins justificam os meios”, admitindo métodos não convencionais, antiéticos e até violentos para a manutenção do poder. Contemporaneamente, no século XXI, Joseph Goebbels, o Ministro da Propaganda do Nazismo de Adolf Hitler, consagra também a utilização da mentira como instrumento de domínio político, admitindo essa prática ao afirmar: “É claro que a propaganda tem um propósito. Contudo, este deve ser tão inteligente e virtuosamente escondido que aqueles que venham a ser influenciados por tal propósito nem o percebam”. É a consagração da mentira, tão em voga nos nossos dias.
Do nascimento à morte, a mentira esta intrinsecamente ligada a nós. Diante dessa questão inexorável, escolho as mentiras sinceras, algumas até já admitidas pelo Vaticano.
Cada vez mais os partidos políticos estão encontrando dificuldades em completar suas nominatas para os cargos, tanto executivos como legislativos. O que se constata é a repetição de nomes e a identificação destes com corporações e segmentos econômicos.
Muitas vezes injusta e generalizada, essa verdadeira xenofobia com relação a todos que ocupam cargos públicos tem restringido a participação da cidadania, consolidando a expressão pejorativa e odiosa: “mudam as moscas...”.
Sobre esse tema, Martin Luther King, resumiu numa frase o que, infelizmente, ainda vivemos na nossa sociedade: “O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.
Na cidade do Rio Grande estamos sob uma nova administração há 90 dias, tempo exíguo para grandes cobranças, não obstante, já começam a surgir descontentamentos e reclamações com relação à descontinuidade do que estava certo, do que, a juízo do contribuinte, sofre desse descompasso. Independente de quem votamos, temos a exata consciência de que urgem medidas em algumas áreas estratégicas como limpeza urbana, trânsito e obras paradas.
Julgo que uma agenda positiva deva ser imediatamente colocada em prática para que a chamada “eleição em segundo turno”, inexistente para nós, não ganhe contornos significativos. Como moro e trabalho no centro da Cidade, acredito que a substituição desses vergonhosos contêineres que, aos pedaços, de há muito perderam a sua finalidade, emporcalhando todas as ruas, registre-se com a participação também de moradores que não sabem viver em sociedade.
Uma blitz na Avenida Dom Pedro II, entrada oficial do único porto marítimo do Estado, é premente, independente de responsabilizações sobre o não andamento das obras ali em curso. Dias atrás recebemos turistas europeus que estavam a bordo de um suntuoso cruzeiro, imagino que impressão levaram da Cidade berço da civilização gaúcha.
Como comunicador, contribuinte e cidadão, tenho a melhor das boas vontades com os novos dirigentes municipais, tanto que tenho perseverado em divulgar as ideias e demandas que diariamente chegam até os veículos onde atuo. Espera-se dos mesmos a grandeza de poder colher opiniões e sugestões com humildade, visto que foram eleitos para fazer o que precisa ser feito, independente de grupos de apoios e ideologias.
O ônus de quem administra o que é público é imensurável, pela cultura, conforme expus acima, e, também, pela incapacidade natural do atendimento de todas as demandas, cabendo-lhes escutar à exaustão todos os segmentos e decidir com razoabilidade, não ficando refém de acertos políticos para o preenchimento de cargos, menos ainda de promessas eleitorais, nem sempre exequíveis, nem sempre prioritárias.
E os bônus? Ah, os bônus são o sentimento do dever cumprido e o reconhecimento popular, este cada vez mais raro.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.