O Papa Bento XVI surpreendeu o mundo no último dia 11 de fevereiro, durante encontro com cardeais no Vaticano, ao anunciar a sua renúncia, prevista para o próximo dia 28 de fevereiro às 20h, pouco mais de sete anos após a sua eleição.
É a primeira renúncia nos últimos 600 anos da Igreja Católica e dá-se num momento de grande turbulência no interior da Religião. Na primeira declaração, o Sumo Pontífice disse: “Depois de fazer exame da minha consciência diante de Deus, eu tive a certeza que minhas forças, devido a minha idade avançada, não são mais adequadas para exercer o ministério petrino”, alegou que para o cumprimento dos deveres de um Papa é indispensável “vigor tanto da mente quanto do corpo”, muito razoável, considerando-se que Bento XVI tem 85 anos de idade e saúde frágil.
Até aí, tudo dentro do politicamente correto: anúncio, explicações, surpresa geral. Como se diz na gíria “tudo bonitinho dentro do vidrinho”. Veio o dia seguinte, e, com ele, muitas especulações sobre as possíveis verdadeiras razões da renúncia, que tomou de surpresa muitos Cardeais, conforme declarações pelo mundo afora.
Sem ter a pretensão de ser vaticanista, confesso que me agrada acompanhar a política, muita das vezes pesadíssima, que se desenrola nos 44 hectares do Vaticano, Estado que comanda mais de um bilhão e duzentos milhões de católicos pelo mundo afora. Vaidades, conspirações, interesses, escândalos e crimes sempre foram objeto da minha curiosidade, despertando esse interesse em opinar e tentar decifrar esses enigmas, sempre tão bem guardados.
Pois bem, voltando ao dia seguinte, a primeira constatação é de que muitos já imaginavam essa decisão de Bento XVI, considerando suas reiteradas manifestações nesse sentido, confirmadas categoricamente na primeira aparição pública após o anúncio, quando o Papa, no salão de audiências do Vaticano, criticou veementemente a “Hipocrisia Religiosa”, afirmando que as divisões eclesiásticas deturpam a Igreja.
Acredito que, com a globalização, a Igreja, como todos os organismos mundiais, deva sofrer reformas, avanços. Não obstante é importante pontuar que muitos dogmas, verdades absolutas para a Igreja, não vão ser mudados de uma hora para outra. Ressalte-se que o então Cardeal Joseph Ratzinger, um dos maiores teólogos vivos do cristianismo, foi a eminência parda intelectual do Papa João Paulo II, quando já se preocupava em pôr medida na herança do Concilio Vaticano Segundo, verdadeira “revolução liberal” na Igreja Católica. Aqui, desculpem-me os especialistas, está o “X” da questão.
Considero ser o Papa Bento XVI um dos maiores estrategistas da história do Vaticano, capaz de fazer a leitura exata e pragmática da gestão, após o seu Papado. Com essa percepção, imaginou que o risco de uma divisão com consequências incalculáveis era previsível e que só um gesto largo e de impacto poderia evitar essa divisão, frisada por Ele na última manifestação. Considerando que terá influência decisiva no Conclave que elegerá o novo Papa, já que sua marca é visível no Colégio de Cardeais, Bento XVI colocou acima de qualquer vaidade o interesse maior da Igreja, renunciando, e, a meu juízo garantindo avanços, sem sobressaltos.
No Brasil de hoje os detentores do poder, independente do arco de partidos e ideologias que o compõe, se auto definem como esquerda.
Observando-se a origem dessa dicotomia, esquerda versus direita, vamos à França, período da Revolução Francesa, 1789 a 1799, onde surgiu o Terceiro Estado, que abrigava os camponeses, comerciantes, profissionais liberais e burgueses, cuja representação sentava-se à esquerda e propunham medidas radicais contra o privilégio da direi, composta pelo clero e nobreza. Até então era a mera escolha de um lugar.
Pois bem, além do discurso por mudanças sociais, melhor distribuição de renda e alguns direitos trabalhistas os pioneiros do Partido dos Trabalhadores afirmavam ter um compromisso de combate intransigente a corrupção, temas encontrados na maioria dos programas partidários hoje existentes no país.
Essa classificação perdura até hoje onde os “esquerdistas” avocam para si um tal “Monopólio da Virtude” , pregando que representam os interesses bons, agem em nome dos oprimidos, dos privados de voz política, dos pobres e dos excluídos. Essa representação ideológica, inventada e protegida pela esquerda, deixa a direita o eterno papel de contraponto, interessada sempre em manter a opressão e o obscurantismo, impedindo uma sociedade mais justa e igualitária.
Essa estratégia, de teor claramente marxista, chega ao absurdo de responsabilizar o povo quando a direita obtém maioria de votos, encarando a situação como um “desvio” temporário, um “erro do juízo popular”, já que o povo é soberano, mas não infalível e por vezes pode não interpretar corretamente o sentido da história.
Vejam o que ocorre no Brasil, os grupos dominantes adonaram-se do socialismo, toda e qualquer iniciativa de cunho popular e social é prerrogativa dos donatários do poder. Se um liberal por ventura prega algo justo logo tratam de desqualificar o proponente declarando-o ilegítimo para tal, que algo de ruim deve estar por trás do proposto. Isto sem falar nos neologismos criados para enganar o povo, dissimulando a verdadeira onda de escândalos, atribuindo tudo como obra da oposição ou segmentos raivosos da imprensa e até do judiciário.
Esse maniqueísmo incentivado, inclusive pela Presidente da República em seu último pronunciamento à Nação é extremamente perigoso à nossa jovem democracia. Dividir os brasileiros entre “nós” e “eles”, por ideologia ou presunçosamente por “virtude” ou “defeito”, cria um ambiente belicoso e de permanente discórdia, abominável sob todos os aspectos.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.