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SAUDADES BOAS

sexta-feira, 13 de Abril de 2012 | 13:04

 

Nós latinos, emotivos e emocionais, quase sempre usamos a palavra saudade para expressar perda, dor e lamento. Todos conhecem e até recitam: “Oh que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais. Que amor, que sonhos, que flores; Naquelas tardes fagueiras à sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais...”, poema “Meus oito anos”, do grande Casimiro de Abreu (1837/1869).

Esta palavra, tão cara para todos nós só existe em dois idiomas, no português e no galego, e provem do latim “solitáte”, que significa solidão. Quantos poemas, canções e obras literárias têm como argumento e inspiração a velha e sempre objetiva e conclusiva, saudade.

Esta expressão “Saudades Boas”, titulo do presente artigo, comecei a usá-la em 2007, para denominar o que sentia pelo afastamento do meu filho Pedro Alberto, então residindo e estudando na Alemanha,  dentro de um intercâmbio cultural. Bem jovem, pela primeira vez se afastava da família por tanto tempo e para lugar tão distante.

A angústia e preocupação, inerentes a todos os pais, pelo contato com civilização e idioma diferentes, ainda pela perspectiva de contrair uma doença ou ser vitima de algum ato de violência ou acidente. Todos esses cenários passavam pela minha mente, só que não podia transparecer para o filho, com certeza carregado de preocupações, ao contrário tinha que transmitir-lhe segurança e tranqüilidade para a missão que se impôs.

Foi um período inesquecivelmente rico tanto para ele que descortinou novas perspectivas de vida com para mim que o tive mais próximo do que nunca, utilizando essa maravilhosa ferramenta que é o MSN/Internet, onde criamos canais de conversações e negociações, sem a possibilidade do curto circuito da palavra dita, que não retorna e às vezes causa-nos tantos danos e perdas relacionais. Ah, no MSN digitamos para depois enviar, são dois tempos, duas oportunidades para rever o escrito e corrigi-lo, amenizá-lo, educá-lo.

Creio ser de fundamental importância não estigmatizarmos palavras e expressões que são de per si duras e pesadas, como dor, saudade, sacrifício ou morte. Podemos amenizar os efeitos que elas carregam só pelo nome, com saudade creio ter conseguido, tente você também.

 


Escrito por Alberto Amaral Alfaro

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DEMÓSTENES: O PESO DE UM NOME E AS SUAS VICISSITUDES

terça-feira, 03 de Abril de 2012 | 10:33

Não procurei saber os motivos que levaram os pais do Senador Demóstenes Torres em escolher o nome do grande Orador ateniense para o filho, pode ser pura coincidência, mas a carreira do Professor, Advogado, Delegado de Policia, Promotor e Procurador de Justiça, Secretário Estadual de Segurança Pública e por duas vezes eleito Senador da República, confunde-se com o homônimo que teve carreira também brilhante, só que há 2.396 anos, na Grécia.

O grego, como registrado em seus famosos discursos, sabia temperar a veemência e a paixão com a lógica e a argumentação apropriada, a cólera, a ironia o sarcasmo e a reprovação eram representados com enorme destreza. “Ele pensava, sentia e a palavra saia”, conclui sobre ele o grande escritor e teólogo francês Fenelon. O Senador Demóstenes Torres, fruto da sua atuação até pouco tempo atrás, foi considerado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – DIAP, o segundo melhor Senador da República e o parlamentar que mais combateu a corrupção entre os 594 componentes do Congresso Nacional, além de ter o registro histórico da maior produção de relatórios e proposições dos 183 anos do Senado, com mais de 1.000 trabalhos. Também neste aspecto, felizes coincidências, entre os Demóstenes, o grego e o goiano.

Infelizmente, este articulista que era de há muito, além de correligionário do Democratas, fã orgulhoso da sua trajetória e performance política, que lhe apontavam como alternativa à Presidência da República em 2014, encontra-se, neste momento, prostrado, estupefato, decepcionado e frustrado com todas essas revelações que destroem, como se um castelo de areia fosse, as esperanças que depositávamos nessa liderança.

O grande Millôr Fernandes, morto recentemente, disse: “Como são admiráveis as pessoas que não conhecemos muito bem”, me serve como consolo, já que jamais tive qualquer contato pessoal ou eletrônico com o Senador. Lembrei que à época do “Caçador de Marajás”, Fernando Collor de Mello, eleito Presidente da República em 1989, com propostas similares, fui ao seu encontro com outros correligionários em comício realizado lá em Jaguarão. Que acerto, pareceu até premonição, só o espetáculo pirotécnico realizado por helicópteros com vôos rasantes sobre as margens do rio e o apelo demagógico da sua fala, me levaram a não acompanhar meus companheiros do PFL gaúcho e optar por Mário Covas, derrotado no primeiro turno. Collor enfrentou Lula no segundo turno e o venceu, e deu no que deu.

Sou reconhecidamente um cético, às vezes impertinente na busca da transparência e do perfeito entendimento ao que vou chancelar com meu apoio, mas nesta do Senador Demóstenes Torres, fui, como a maioria dos brasileiros, pego de “calças nas mãos”. Tenho refletido muito sobre isso tudo, tentando buscar, explicações, responsáveis ou culpados. Seríamos todos bobões, já que não existem políticos honestos? Não, em absoluto, os políticos tais quais outros profissionais refletem o povo, são um corte longitudinal na sociedade, onde todas as facetas estão representadas.

Não ficarei e nem os deixarei sem uma linha de raciocínio razoável, palatável. Fui buscar quando tivemos conhecimento da existência desse tal Carlinhos Cachoeira, contraventor denominado de empresário, e como começaram a ser descortinadas pela imprensa as suas relações suspeitas com governantes e dirigentes de órgãos estatais. Foi em fevereiro de 2004, quando Cachoeira liberou uma fita, gravada com uma câmera oculta em 2002, onde aparece sendo subornado por Waldomiro Diniz, o sempre vinculado ao Ex-Ministro Chefe da Casa Civil, do Governo Lula, José Dirceu, o idealizador e operador do maior escândalo político contemporâneo o “Mensalão do PT”. Esse episódio ganhou notoriedade quando da “CPI dos Correios”, onde foi amplamente divulgado, tornando-se o inicio do processo que terminou na demissão de José Dirceu, em junho de 2005. Não vou colocar o Carlinhos Cachoeira, muito menos o Demóstenes no colo petista, em absoluto, cada um administra seus porcos. Mas não é no mínimo estranho que o Ministério Público, o Judiciário e a própria Policia Federal, já não estivessem desde então acompanhando os passos desse criminoso? Como justificar que o Senado da República, casa onde Demóstenes é Senador há nove anos, nada tenha transparecido dessas relações entre o Contraventor e o Parlamentar, tanto que dias atrás quando foram publicizadas provas das centenas de ligações telefônicas entre os dois e outros interlocutores, nada menos que 46 excelências, das noventa e uma que fazem parte do Senado, utilizaram os microfones para desagravar o colega.

Não sei como terminará mais este escândalo, que ganhou toda essa dimensão mais pela surpresa do protagonista, até então paladino da moral e da verdade, já que o até aqui levantado o classifica, dentro do Corruptômetro, como de médio alcance. Mas da minha parte recomendaria ao Senador que utilizasse os benefícios da “delação premiada” e promovesse a faxina que todos desejamos e renunciasse ao cargo para o qual foi eleito e não resistiu honrar. Deveria, ao mesmo tempo, pedir desculpas a cidadania brasileira pela explicação infeliz que deu ao ser pilhado na relação, como: “Amizade por questão de caráter”, caráter é outra coisa Senador.

Da minha parte, ao contrário do que fiz quando do evento Collor de Mello, me afastando da política, retomarei, com mais garra e entusiasmo a atividade de protagonista político, é uma obrigação, é um dever.


Escrito por Alberto Amaral Alfaro

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Alberto Amaral Alfaro

natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.

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