Nós latinos somos uns apaixonados e evidenciamos isso em todas as nossas atitudes comportamentais.
Exageramos nas manifestações, criamos e destruímos ídolos com igual facilidade.
O falecido ex-vice-presidente da República, José Alencar, exemplifica bem esse paradoxo ao ver-se, novamente nas manchetes da imprensa nacional em função de um assunto pessoal, íntimo.
José Alencar, que aproveitou os índices de popularidade do então presidente Lula para surfar nas ondas do reconhecimento nacional, onde suas opiniões eram sempre muito bem consideradas, tanto pelo equilíbrio como pela legitimidade, visto que se tratava de ser um megaempresário, dono da multinacional brasileira Coteminas.
Além dessas condições políticas e econômicas, a saúde do então vice-presidente complementava esse status de personalidade em evidência no País, fruto da transparência com que tratou sua luta contra o câncer, o que lhe valeu um sentimento de solidariedade nacional.
Pois bem, até então havíamos conhecido um José Alencar vitorioso em todas as suas ações e que se preparava para a retirada do cenário político em função do término do seu mandato, da idade e da doença.
À época, fomos surpreendidos, no apagar das luzes, com uma entrevista ao Programa do Jô, onde Jose Alencar, ao ser questionado sobre processo de investigação de paternidade, que respondeu e foi condenado na Justiça mineira, mostrou para o mundo um novo José, preconceituoso, arrogante, cruel, machista e irresponsável.
Dizendo-se vítima de uma chantagem econômica, José Alencar atacou de forma rasteira a pretensa filha natural, Professora Rosemary de Moraes Gomes da Silva, sobrenome determinado por sentença judicial, e a sua mãe, a Enfermeira Francisca de Moraes, a Tita, com quem Alencar manteve um relacionamento amoroso entre 1953 e 1955, em Carartinga - MG.
Para desqualificar a enfermeira, na tal entrevista José Alencar disse tratar-se de mulher pobre, condição que a impediria de frequentar os mesmos locais e arrematou chamando-a simplesmente de prostituta. Ora, até as árvores de Caratinga sabiam que Alencar manteve esse affair com a belíssima jovem Tita, inclusive, que às quartas-feiras dormia na casa da moça.
Na realidade, independente das consequências práticas daquele rumoroso processo, para resgatar um pouco da sua imagem e não rasgar por completo sua já arranhada biografia, Alencar deveria, voluntariamente, submeter-se a um exame de DNA, é o mínimo que se exige de um homem; não o fez, morreu em 29 de março de 2011, insistindo na absurda e burra estratégia do avestruz, enterrar a cabeça no chão deixando o corpo todo de fora.
Pois bem, passados três anos da morte de José Alencar, a 4ª. Câmara do Tribunal de Justiça de Minas Gerais manteve por unanimidade a decisão da primeira instância, onde foi considerada a negativa de submeter-se ao exame de DNA como indução de paternidade relativa. Óbvio que a milionária família de Alencar já recorreu ao STJ, alegando não existir no processo qualquer prova que indique a relação de José e a mãe da professora. Continua a saga da Professora Rosemary na busca de uma identidade que lhe foi toda a vida sonegada e de seus legítimos direitos. Tendo pela frente os bilionários herdeiros da Coteminas e a parcimoniosa ação do judiciário em casos similares, temo que em vida não alcance a justiça que lhe é devida. É a luta de Davi contra o Golias. Veremos.
Todos sabem que neste Brasil que gasta bilhões de reais para organizar uma Copa do Mundo de Futebol falta tudo: educação, segurança, transportes, e, obviamente, saúde, médicos, remédios e hospitais.
Dentro desse quadro, o Governo Dilma Rousseff lançou o Programa Mais Médicos, tido e havido como a grande panaceia para os males da saúde, e que na sua concepção de importar médicos de outros países para reduzir o deficit existente e universalizar o atendimento não seria absurdo, pelo contrário, essa prática de incentivar a migração de recursos humanos é universal, bem contemporânea. O que causa a indignação de todos é a ideologização do Programa, bem ao estilo Nicolau Maquiavel, onde os fins sempre justificam os meios.
Primeiro, ao firmarem um contrato com o Governo Cubano usando como interface a Organização Pan-Americana de Saúde, órgão vinculado à ONU, que não pode ser publicizado em virtude de “cláusula de confidencialidade”, exigida pelos Irmãos Castro, a qual o Brasil criminosamente se submeteu.
Essas relações obscuras sob o terrível manto do “segredo de Estado”, encobrem também, pasmem, o financiamento do Porto de Mariel, há 45 km de Havana, onde o BNDES despejou US$682 milhões, de recursos dos brasileiros, tudo por decisão política do Governo Brasileiro.
Voltando ao Mais Médicos, o governo petista simplesmente rasgou e jogou no lixo todos os critérios exigidos para o exercício legal da medicina, preconizados pela legislação vigente e fiscalizado pelos órgãos médicos e Justiça do Trabalho, dentre eles a exigibilidade de uma prova de proficiência profissional. Mais: colocou-nos na berlinda como Nação, já que princípios elementares dos direitos dos trabalhadores são sonegados de maneira descarada e injusta. Todos os profissionais contratados para o programa recebem R$-10 mil, mais os benefícios do FGTS, férias, 13º salário, etc. Pasmem, nossos irmãos cubanos recebem para a mesma atividade, “a pau e corda” US$-400, o que representa em torno de R$-1 mil, sem qualquer direito trabalhista. É um crime, um abuso sem precedentes na história das relações trabalhistas brasileiras.
Infelizmente, vivemos tempos de grande perplexidade e grande decepção com os rumos do nosso País, onde direitos são suprimidos ou negados em nome de programas sociais demagógicos, absurdos e até desumanos. O Governo lida com a cidadania com desfaçatez e prepotência, manipula números e cenários econômicos e sociais para manter o poder a qualquer custo. Desconhece e menospreza a existência de pessoas com discernimento e senso crítico capazes de ter dúvidas e de manifestar opinião.
Inexiste a oposição, a verdadeira sopa de letras em que se transformaram os partidos políticos para nada serve a não ser a defesa de interesses corporativos e pessoais, sempre conflitantes com os interesses maiores da cidadania. Estamos novamente próximos a novas eleições gerais, antecedidas da overdose inebriante da Copa, e estamos literalmente num mato sem cachorro, aguardando o desfile dos marqueteiros e suas promessas mirabolantes. Esse é o funesto e dantesco quadro que se apresenta, até poderemos conseguir mais médicos dentro deste modelo degradante e aviltante, verdadeiramente análogo à escravidão, mas continua se esfarelando nas mãos e ações dos atuais protagonistas uma virtude tão grata a todos nós: a vergonha.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.