Cada vez mais os partidos políticos estão encontrando dificuldades em completar suas nominatas para os cargos tanto executivos como legislativos. O que se constata é a repetição de nomes e a identificação destes com corporações e segmentos econômicos.
Muitas vezes injusta e generalizada, essa verdadeira xenofobia com relação a todos que ocupam cargos públicos, tem restringido a participação da cidadania, consolidando a expressão pejorativa e odiosa: “mudam as moscas...”.
Sobre esse tema, Martin Luther King resumiu numa frase o que, infelizmente, ainda vivemos na nossa sociedade: “O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.
Na cidade do Rio Grande estamos sob uma nova administração há 390 dias, tempo mais do que razoável para começarem as cobranças. Os descontentamentos e as reclamações com relação à apatia e inapetência dos atuais gestores são crescentes. Até questões nebulosas vão ficando sem resposta, aumentando o desconforto e desconfiança da cidadania. Pasmem, estamos em fevereiro e ainda não foram sanadas questões do carnaval de 2013, pior, pouco ou nada se sabe sobre o evento previsto para 3 e 4 de março próximo vindouro.Independente de quem votamos, temos a exata consciência de que urgem medidas em algumas áreas estratégicas como limpeza urbana, trânsito e obras paradas, para não falar em questões graves como saúde e segurança, que tem também outros responsáveis a nível de Estado e Federação, que se agravam com o tempo.
Reitero que se impõe uma agenda positiva de verdade, negociada com outros interlocutores, já que esses arranjos eleitorais tem se mostrado incompetentes em termos de propostas e resolutividade. A simples troca de seis por meia dúzia, tem se caracterizado numa verdadeira “dança das cadeiras”, tirando um daqui e pondo lá sem critérios razoáveis de aptidão ou capacidade para enfrentar os desafios cada vez maiores e crescentes. Como exemplo, relato uma sugestão que dei quando o Governo do Município completava 90 dias, com relação ao aspecto de abandonado e sujo do nosso centro da Cidade, onde moro e trabalho. Além de transformar-se, cada vez mais, num esgoto a céu aberto por incapacidade e desídia da Corsan, continua premente a substituição desses vergonhosos containeres, que aos pedaços, de há muito perderam a sua finalidade. Registro, a bem da verdade, que a sociedade muito tem contribuído para esse emporcalhamento, colocando objetos e detritos proibidos nos conteineres e ao lado deles, além da falta de fiscalização da Prefeitura e denúncia de quem vê e simplesmente vira às costas.
Uma blitz na Avenida Dom Pedro II, entrada oficial do único porto marítimo do Estado foi sugerida por este colunista há 12 meses, independente de responsabilizações sobre o não andamento das obras ali em curso. Dias atrás recebemos turistas europeus que estavam a bordo de um suntuoso cruzeiro, imagino que impressão levaram da Cidade berço da civilização gaúcha.
Como comunicador, contribuinte e cidadão tenho tido a melhor das boas vontades com os atuais dirigentes municipais, tanto que tenho perseverado em divulgar as idéias e demandas que diariamente chegam até os veículos onde atuo, e dos mesmos continuo aguardando um gesto nobre e de grandeza de poder colher opiniões e sugestões com humildade, visto que foram eleitos para fazer o que precisa ser feito, independente de grupos de apoios e ideologias.
O ônus de quem administra o que é publico é imensurável, pela cultura, conforme expus acima, e, também, pela incapacidade natural do atendimento de todas as demandas, cabendo-lhes escutar a exaustão todos os segmentos e decidir com razoabilidade. Não ficando refém de acertos políticos para o preenchimento de cargos, menos ainda de promessas eleitorais, nem sempre exeqüíveis, nem sempre prioritárias.
Há pouco mais de uma semana perdi minha Mãe, Alfa Amaral Alfaro, que faleceu com a idade de 85 anos. Natural de Santa Vitória do Palmar veio para Rio Grande no inicio da década de 50, acompanhando meu Pai Alberto Ireneo Alfaro, que deixava sua então profissão de tratador de cavalos de corrida, para trabalhar como operário na Refinaria de Petróleo Ipiranga. Morávamos junto à tela da Empresa e lembro que os tempos eram de dificuldades, porém jamais tivemos qualquer necessidade maior, a Refinaria já cuidava da família de seus trabalhadores com programas sociais até hoje marcados em nossas vidas.
Além de mim, nossa família era completada com meu irmão Luiz Carlos. Fruto do trabalho obstinado do meu Pai, homem que jamais aceitou o que o destino parecia ter-lhe reservado, iniciamos os estudos num colégio estadual para na quinta série sermos matriculados em escolas particulares, por insistência da nossa Mãe, que era particularmente severa com relação ao aproveitamento nos estudos. Posteriormente, veio juntar-se ao nosso núcleo Carmen Lenira de Ávila Pinto, também de Santa Vitória. Afilhada dos meus pais criou-se junto conosco, como irmã e filha. De espírito alegre, minha Mãe sempre reuniu pessoas ao seu redor, indo para a cozinha preparar gostos pratos para todos. Vinda de uma família de 13 irmãos incutiu-nos a necessidade de valorizarmos os amigos e vizinhos, respeitar a todos, especialmente os professores e os idosos. Desde sempre tinha uma preocupação com os outros, desenvolvendo ações de solidariedade pela vida inteira. Inicialmente, recebendo em nossa modesta residência parentes e amigos, que vinham de Santa Vitória em busca de assistência médica, passeio ou estudos, inclusive, muitos concluíram faculdade com o apoio indispensável da “Tia Alfa”.
Conterrâneos “mergulhões” denominavam-na de “Consulesa de Santa Vitória” como uma homenagem por toda essa trajetória de identificação com seu torrão natal e de transformar a sua residência numa verdadeira casa de passagem, consulado informal. Desde a fundação do “Movimento Solidário Colméia”, aqui em Rio Grande, tornou-se ativa voluntária e liderança inconteste, aceitando até meses antes do seu passamento todas as funções que lhe foram confiadas.
No blog e também no nosso “Folha Gaúcha” ocupei-me em artigos e crônicas, denominados “Ensaios sobre a Velhice”, em relatar experiências maravilhosas vivenciadas com a minha querida Mãe, onde relato esses quase sessenta anos de convivência, onde tive o prazer de exercer três papéis: filho, amigo e pai, nestes últimos anos. Registrei a Ela muitas vezes, inclusive, no final de que a sua vida foi uma daquelas dignas de ser vivida, que efetivamente valeram à pena.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.