Os fundadores da Academia Francesa, escritores dos séculos 17/18, que eram então os grandes escritores do mundo, chamavam-se a si mesmos de imortais, o que à época parecia a alguns críticos, já existentes, um certo grau de vaidade, presunção.
Não concordo, tanto é verdade que muitos deles permanecem “vivos”, imortais por suas obras.
Quando tomei conhecimento da morte do Grande Escritor Português, Jose de Sousa Saramago, senti aquela estranha sensação de uma tristeza suave, tranqüila. Embora com o desconforto da notícia, como admirador da sua obra e mais, do seu protagonismo social e político, considerando seu estado de saúde, digo descansou.
Como o mundo inteiro tem falado de Saramago nestes tres últimos dias, que obra, que vida, que história maravilhosa. Nascido em Azinhaga, o ribatejano Jose de Sousa, filho de “camponeses sem terra”, como ele mesmo definia, ganhou o “Saramago” do funcionário do registro civil, sem que ninguém assim o instruísse, numa homenagem a planta que dava de comer aos pobres da região.
Exerceu inúmeras atividades até conseguir viver só da literatura, teve a filha Violanta do seu primeiro casamento, já que o amor de sua vida só veio a encontrar com mais de 60 anos, ao lado da Jornalista espanhola Pilar Del Rio, com quem viveu até a morte.
Primeiro e único Nobel da Literatura Portuguesa, José Saramago nunca deixou de falar o que pensava e sentia, e isso lhe custou muitos desafetos, inclusive o atual Presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, que lhe chamavam de incendiário e arrogante.
Aqueles que desfrutaram da sua convivência negam com veemência essas avaliações, afirmam que José só tentava, dentro do possível, melhorar o mundo por meio do impacto que as suas opiniões poderiam ter naqueles que as ouviam. São unânimes em afirmar que se tratava de criatura doce e simpática, dotada de excelente humor.
Na realidade as pessoas tendem a confundir timidez com arrogância, o próprio Saramago dizia sobre o tema: “Não tenho culpa da cara que tenho”, atribuindo essa fama a sua feiúra.
Finalizo este artigo repetindo uma de suas frases antológicas, que deixa claro aos que pouco o conheciam, o verdadeiro “estilo saramaiguiano”: “No fundo, não invento nada, sou apenas alguém que se limita a levantar uma pedra e a pôr à vista o que está por baixo. Não é minha a culpa se de vez em quando me saem monstros”.
Esse é o José de Sousa Saramago, que por sinal, VIVE.
O nosso amigo e correspondente na Escandinávia, Guilem Rodrigues da Silva, foi homenageado, dias atrás, em Paris com a medalha da Academia de Artes, Ciências e Letras da Capital Francesa.
Na ocasião, com a comenda da Ordem de Silva Paes colgada ao pescoço, Guilem esteve acompanhado do cantor e compositor Martinho da Vila e do cineasta Neville D’Almeida, também distinguidos pela Academia Parisiense.
Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.